Adoção de novos métodos de pagamento ganha peso em Portugal

Pagar e receber digitalmente é agora uma realidade para uma fatia crescente da população, não obstante o cartão de débito continuar a ser a preferência dos portugueses para efectuar pagamentos presenciais (40,6%), seguido dos pagamentos em dinheiro (22,9%), e as transferências imediatas são as preferidas para pagamentos online (36,7%), revela o XII Relatório de Tendências de Meios de Pagamento da Minsait Payments.
Em Portugal, a percentagem de população adulta bancarizada é de 93% e, dada a aceitação em praticamente todos os estabelecimentos, o cartão bancário continua no topo da lista de métodos de pagamento. Em 2022, 96% dos portugueses tinha cartão de débito, 53% tinha cartão de crédito e apenas 23% da população tinha cartões pré-pagos, o valor mais baixo dos países analisados da Europa, a seguir ao Reino Unido. Entre os portugueses inquiridos, 30% tem dois ou mais cartões de crédito, 29% dois ou mais cartões de débito, e 18% dois ou mais cartões pré-pagos. A digitalização dos cartões está a impulsionar o aumento das carteiras digitais: 28% dos cartões são virtuais, um valor que supera a média europeia (24%). 

Apesar da preponderância do cartão, as carteiras digitais e as soluções de pagamento móvel estão a ganhar força, à medida que o pagamento contactless ou através de aplicações se torna mais generalizado no comércio físico. Uma das razões que pode explicar esta situação é o sucesso do MB Way, uma solução de pagamentos móveis para pagamentos presenciais e entre particulares. De acordo com o relatório, 37% dos portugueses já pagaram através da leitura de código QR. O pagamento com dispositivos móveis em terminais de pagamento (30%), via aplicação (26%) e por SMS (18%), está também entre os principais métodos digitais.
De acordo com o estudo da Minsait Payments, e apesar da diversificação de meios de pagamento existentes, 46% dos portugueses encontraram dificuldades para utilizar os seus meios de pagamento preferidos, por não se encontrarem disponíveis no momento de efectuar o pagamento. Estes resultados corroboram a visão de mais de metade dos executivos do sector, entrevistados para o relatório, que acreditam que o pagamento móvel vai ser a forma preferida dos consumidores para efectuarem os seus pagamentos diários daqui a cinco anos.
O estudo salienta igualmente a popularidade das transferências imediatas junto dos portugueses mais jovens, tanto para enviar ou receber dinheiro, como para pagamentos. Entre os inquiridos com menos de 35 anos, a percentagem dos que preferem pagar por transferência imediata é quase três vezes superior à dos maiores de 55 anos. No total, 55% dos portugueses inquiridos efectuaram transferências imediatas na semana anterior ao inquérito. 

Fintechs e paytechs
A banca tradicional mantém-se como a entidade financeira principal em todos os países. De acordo com o relatório, 86% dos portugueses recorreriam a um banco tradicional para solicitar um serviço financeiro, por oposição aos 4% que recorreria a um neobanco. Além disso, 91% consideram os bancos como a entidade principal de serviços financeiros e de pagamento. A proporção da população bancarizada com pelo menos um serviço financeiro contratado a mais do que um prestador de serviços de pagamento é de 96%. Porém, a percentagem de inquiridos com serviços em dois ou mais bancos desceu de 53%, em 2020, para 41%, em 2022. Em Portugal, o estudo refere ainda que, em 2022, 61,5% dos portugueses tinha apenas uma conta bancária e 38,5% tinha mais de uma conta.
Seis em cada dez executivos entrevistados para o estudo acreditam que a oportunidade de crescimento dos pagamentos com cartões digitais será impulsionada pelos neobancos e pela banca digital, que procuram fornecer soluções para problemas específicos do utilizador com o objectivo de melhorar a experiência do utilizador. Este crescimento será reforçado por plataformas e mercados de comércio electrónico, com casos de utilização como a emissão instantânea e escalável de cartões virtuais, para pagamento a partir de múltiplos fornecedores e comerciantes parceiros. 

Por outro lado, os cartões virtuais de utilização única Buy Now, Pay Later (BNPL), que permitem que as compras sejam adiadas ou pagas em prestações também deverão crescer. Embora em Portugal esta modalidade ainda não tenha muita adesão, 48% dos especialistas acreditam que as soluções BNPL serão susceptíveis de nova regulamentação num futuro próximo, motivado por um possível risco de sobreendividamento, que já está a começar a ser observado noutros países. No entanto, 66% dos executivos inquiridos acreditam que as fintechs e paytechs são os agentes mais bem posicionados para capturar a oportunidade de mercado BNPL.
Num contexto da multiplicidade de soluções financeiras e de pagamentos digitais, o estudo destaca a ascensão das fintechs. Quarenta por cento dos portugueses inquiridos operam frequentemente com alguma delas e 19% fazem-no ocasionalmente, em contraste com a média europeia: 26% opera frequentemente e 22% utiliza-as de forma ocasional. 

Quanto ao pagamento em prestações no comércio electrónico, mais de metade dos portugueses inquiridos (53%), que diferiu um pagamento de comércio electrónico, acabou por liquidá-lo no mesmo mês, sem juros. Uma tendência que não é seguida nos outros mercados analisados no relatório.
«Após um crescimento devido à pandemia, a adopção de meios de pagamentos digitais está a estabilizar em Portugal e na Europa. A utilização dos novos meios de pagamento já é generalizada, e o comércio e as empresas têm de se adaptar rapidamente para dar resposta aos novos hábitos de compra, que vieram para ficar, especialmente entre as gerações mais jovens», refere Enrique Alvarez, head of Business Development da Minsait Payments na Europa.
O fenómeno das criptomoedas, embora ainda uma minoria, já não pode ser considerado de nicho porque em alguns países na América Latina a percentagem de pessoas que compraram criptomoedas já atinge um quarto da população bancarizada. Na Europa, a percentagem de pessoas que afirmam ter comprado criptomoedas é mais baixa, 11,6%, dos quais  25,9% já utilizaram um criptocartão.
Em Portugal, 16,2% da população bancarizada já comprou criptomoedas e 5,6% dos portugueses entrevistados já as utilizaram como forma de pagamento presencial, colocando Portugal como o país europeu, deste estudo, que mais utilizou esta modalidade de pagamento.

Pagamentos sustentáveis
O potencial impacto ambiental dos meios de pagamento pode ser um elemento que influencie uma maior digitalização, no intuito de um comportamento mais responsável e sustentável. Os pagamentos digitais são vistos como mais sustentáveis do que os efectuados com dinheiro ou cartões de plástico.
No entanto, quando se trata de adoptar comportamentos que promovam a sustentabilidade ambiental, a medida que reúne maior consenso da população é a de utilização de cartões, embora feitos de um material sustentável e não de plástico, e neste caso Portugal é o país mais predisposto a adoptar esta medida – 80,6% dos portugueses preferia utilizar cartões de pagamento feitos com materiais mais sustentáveis e 65,7% estariam dispostos a efectuar apenas pagamentos digitais (sem plástico ou papel).

De acordo com o relatório da Minsait Payments, a próxima vaga de digitalização terá impacto em novos fluxos de pagamento, permitindo que o acesso a produtos e serviços financeiros seja alargado entre empresas, consumidores e a administração pública. O foco da inovação passará dos consumidores para as empresas durante a próxima década. Os especialistas concordam que em todas as áreas onde se realizam transacções de pagamento, especialmente em novos fluxos de pagamento em ambientes B2B (business-to-business) ou estatais, há um caminho grande a percorrer, e em ambas as direcções: novas formas de pagar e de receber. 

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