A ameaça “mais preocupante”: Estado Islâmico está de volta em força, alerta chefe dos serviços de espionagem do Reino Unido

O grupo extremista Estado Islâmico retomou as suas tentativas de exportar o terrorismo para o Reino Unido, alertou o chefe da agência de espionagem interna britânica, MI5. Ken McCallum, diretor-geral do MI5, fez um aviso claro durante uma conferência de imprensa em Londres, sublinhando que esta é a ameaça que “mais o preocupa”.

McCallum, que apresentou a primeira atualização sobre ameaças à segurança do Reino Unido desde 2022, destacou o aumento das ameaças terroristas provenientes do Médio Oriente, particularmente de grupos como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda. “O Estado Islâmico de hoje já não é a força que era há uma década, mas, após alguns anos em que estiveram consideravelmente enfraquecidos, retomaram os seus esforços para exportar o terrorismo”, afirmou McCallum, citado pelo Politico, referindo-se à contínua ameaça do grupo jihadista.

O diretor-geral do MI5 mencionou ainda o ataque mortal ocorrido em março numa sala de concertos em Moscovo, levado a cabo por uma ramificação do Estado Islâmico conhecida como ISIS-K, como um exemplo claro da capacidade brutal do grupo. McCallum salientou que, só no último mês, mais de um terço das investigações prioritárias do MI5 tiveram “algum tipo de ligação com grupos terroristas organizados no exterior”.

Esta avaliação surge num contexto em que o Estado Islâmico, também conhecido como Daesh, voltou a ganhar atenção mundial depois de, em 2014, ter ocupado grandes áreas do noroeste do Iraque e do leste da Síria. Embora o grupo tenha perdido grande parte do território que controlava, a sua capacidade de incitar e realizar ataques terroristas continua a preocupar as autoridades de segurança globais.

Interferência de Rússia e Irão em solo britânico

Além das ameaças terroristas, McCallum alertou para o aumento da agressão estatal por parte da Rússia e do Irão em solo britânico. “O número de investigações do MI5 sobre estados hostis, como a Rússia e o Irão, aumentou quase 50% num único ano”, revelou. Referiu ainda que a agência de inteligência militar russa, GRU, está numa “missão sustentada para causar caos nas ruas do Reino Unido e da Europa”.

Desde a invasão da Ucrânia, em 2022, mais de 750 diplomatas russos, muitos dos quais espiões, foram expulsos de países europeus, incluindo o Reino Unido. McCallum explicou que o último oficial de inteligência militar russo foi expulso do Reino Unido no início deste ano. Contudo, advertiu que a ameaça russa evoluiu, passando a depender mais de ciberataques e de proxies, como operativos privados e criminosos, para executar as atividades clandestinas da Rússia no exterior.

Dirigindo-se diretamente a indivíduos dispostos a colaborar com governos estrangeiros, McCallum deixou um aviso claro: “É uma escolha da qual se arrependerão.”

O Irão, por seu lado, está a ser considerado uma ameaça em “escala e ritmo sem precedentes”. O diretor-geral do MI5 revelou que o Reino Unido enfrentou vinte conspirações “potencialmente letais” apoiadas pelo Irão desde 2022.

A posição do Reino Unido sobre a China: uma abordagem diferente

Embora tenha sido menos contundente em relação à China, McCallum reconheceu que a relação do Reino Unido com Pequim é uma questão complexa. “A China é diferente”, afirmou. “A relação económica entre o Reino Unido e a China apoia o crescimento económico britânico, o que sustenta a nossa segurança.” Ao ser questionado sobre uma possível falta de criticismo em relação à China, McCallum garantiu que não pretendia “minimizar” a importância da ameaça chinesa e que o foco da MI5 em relação a Pequim permanece “inalterado”. Segundo ele, as decisões estratégicas sobre o relacionamento com a China cabem ao governo.

Ken McCallum também abordou as pressões sobre os serviços de segurança face ao aumento das ameaças e à capacidade limitada de resposta. Desde março de 2017, o MI5 e a polícia britânica interromperam 43 conspirações terroristas em estágios avançados. No entanto, o diretor-geral admitiu que os recursos da agência estão “estendidos ao limite”.

“Alocar a nossa capacidade limitada é agora mais difícil do que me recordo em toda a minha carreira”, disse McCallum. Em resposta a uma questão sobre a carga de trabalho do MI5, que continua elevada desde o relatório de 2022 do comité de segurança e inteligência do Parlamento, McCallum concordou: “As coisas estão absolutamente esticadas.” Embora a atividade do Estado Islâmico tenha diminuído, esta redução foi compensada e superada por um aumento no terrorismo de extrema-direita, alertou.

Um dado preocupante destacado por McCallum foi o crescimento significativo dos casos de terrorismo envolvendo jovens com menos de 18 anos, que triplicaram nos últimos três anos. Estes casos agora representam 13% do total da carga de trabalho do MI5. “Vivemos agora uma realidade desconfortável, tendo de decidir o que priorizar e o que simplesmente não conseguimos alcançar”, concluiu o chefe da agência de segurança, destacando a pressão crescente sob a qual o MI5 opera.

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