A Rússia está a reforçar rapidamente as suas atividades militares e secretas na Transnístria, na Moldávia, numa ofensiva que a Inteligência Militar da Ucrânia descreve como coordenada pelo Kremlin para abrir um novo eixo de pressão sobre a Ucrânia e aumentar a instabilidade moldava em vésperas de marcos políticos relevantes, indicou esta quarta-feira o ‘Kyiv Post’.
De acordo com fontes citadas pelo mesmo jornal, as autoridades da chamada República Moldava da Transnístria reforçaram medidas de mobilização, com convocação de reservistas para formações militares locais e retirada de armamento armazenado em depósitos. A HUR afirma ainda que já foram instalados centros de produção de drones e estruturas de treino para operadores de veículos aéreos não tripulados.
A inteligência ucraniana avalia que estas ações procuram ampliar a presença russa no enclave separatista, tradicionalmente usado por Moscovo para desestabilizar a Moldávia e gerar tensões adicionais junto às fronteiras do sul da Ucrânia. O risco de infiltrações de grupos de sabotagem em território ucraniano também terá aumentado.
Uma fonte da HUR, citada pelo ‘Kyiv Post’ sob anonimato, afirma que o Kremlin está a enviar agentes de serviços especiais para a região com a missão de “agravar a crise, semear o caos através de operações de informação, realizar provocações e conduzir ações de sabotagem”.
A ofensiva russa ocorre meses depois de a Gazprom ter cessado o fornecimento de gás à Transnístria — uma situação mitigada apenas porque a Moldávia permitiu que a Moldovagaz continuasse a abastecer o enclave, segundo a HUR.
Objetivos ligados às eleições de 2026
A inteligência ucraniana considera que este foco renovado na Transnístria corresponde ao início de uma operação híbrida ligada às “eleições presidenciais” de 2026 na região. O objetivo passa por restaurar o fornecimento gratuito de gás russo a Tiraspol, reforçar a imagem das lideranças pró-Moscovo e aumentar discretamente o contingente militar russo no território.
A mesma análise indica que o Kremlin pretende reunir recursos humanos e materiais para uma potencial escalada militar caso considere oportuno.
Peso histórico e dependência económica
A Transnístria, território separatista pró-Rússia desde o colapso soviético, travou um conflito armado com a Moldávia em 1991-92, durante o qual o apoio das tropas russas estacionadas na região foi determinante para a derrota de Chisinau.
Apesar de um acordo assinado em Istambul, em 1999, que previa a retirada total das forças russas até ao final de 2002, Moscovo nunca cumpriu o compromisso, argumentando que a presença militar é necessária para garantir “estabilidade regional”. Desde então, apenas foi removido material obsoleto.
A região, com cerca de 470 mil habitantes, depende fortemente de Moscovo: a Rússia financia aproximadamente 70% das despesas governamentais locais e subsidiou durante décadas o fornecimento de gás natural, permitindo que indústrias siderúrgicas e manufatureiras de herança soviética mantivessem atividade, sobretudo para exportação para a União Europeia.
Em 2024, quando a Ucrânia cortou o trânsito de gás russo para a Transnístria, Moscovo substituiu o fornecimento por ajuda humanitária direta aos residentes.














