A nossa pesquisa recente centrou-se principalmente em robôs físicos, incluindo industriais e colaborativos, utilizados em processos de produção. Os resultados confirmam que as empresas estão de facto a eliminar alguns empregos humanos em favor de robôs, mas que a adopção dos mesmos aumenta o número total de colaboradores não gestores, enquanto areduz o número de gestores intermédios necessários.
Mesmo com os rápidos avanços tecnológicos, os robôs ainda não conseguem gerir colaboradores humanos. Então, porque é que os cargos de gestão estão a ser eliminados com a sua chegada? O nosso estudo destaca duas mudanças significativas que os robôs trazem ao local de trabalho e que podem explicar esta mudança. Uma delas é a transformação radical na capacidade dos gestores de avaliarem e recompensarem o desempenho dos colaboradores individuais que trabalham com robôs. A outra é uma mudança nas competências exigidas aos colaboradores não gestores, que afecta a própria natureza do trabalho de gestão. Quando as empresas investem em robôs, o efeito combinado destas duas mudanças leva a reduções drásticas no quadro de gestores.
COMO OS GANHOS NA EFICIÊNCIA IMPACTAM OS GESTORES
Num artigo anterior do MIT SMR, descrevemos como a adopção de robôs transforma as organizações, facilitando a avaliação do desempenho humano, permitindo às organizações recompensar e gerir talento de forma mais fácil e eficaz.
Os gestores dedicam uma quantidade significativa de esforço à gestão de pessoas — quase um terço do seu tempo, segundo um inquérito recente da McKinsey. Quando o trabalho é feito principalmente em equipas, a contribuição individual de cada colaborador para o desempenho do grupo pode ser difícil de discernir. Mas a adopção de robôs reduz a quantidade de tempo e esforço necessários para comparar os níveis de produtividade dos indivíduos, em muitos casos substancialmente. Isto pode ser explicado por um exemplo simples: se dois humanos trabalham com o mesmo tipo de robô, mas os seus níveis de produtividade diferem, a consistência e a transparência do desempenho do robô ao trabalhar com ambos os colaboradores permitem a um gestor observar mais facilmente o contributo de cada pessoa isoladamente. Com dados de desempenho mais precisos, facultados por robôs, as organizações conseguem recompensar melhor os seus colaboradores com melhor desempenho, com muitas empresas a adoptarem incentivos de prémios directamente ligados ao desempenho individual (em vez ligados ao desempenho da equipa ou da empresa).
Uma gestão de desempenho melhorada não significa que a gestão de talentos já não seja necessária ou que os gestores já não sejam precisos; em vez disso, esta avaliação de desempenho mais precisa, possibilitada pelos robôs, torna os supervisores muito mais eficientes na gestão do desempenho dos colaboradores. O gestor que antes conseguia gerir apenas cinco colaboradores, consegue agora gerir eficazmente uma equipa maior. (Embora o aumento do tamanho da equipa varie consoante a empresa e o seu investimento na adopção de robôs, a nossa análise demonstrou que um milhão de euros em investimentos em robôs levou a um aumento da amplitude de controlo de aproximadamente cinco colaboradores.) Como consequência, são necessários menos gestores na organização que adopta robôs.
UMA MUDANÇA NAS NECESSIDADES DE COMPETÊNCIAS
A adopção de robôs também pode alterar as funções dos colaboradores de que as organizações necessitam. Na nossa pesquisa, verificámos que os robôs levaram a reduções significativas de pessoal de qualificação média, como maquinistas, soldadores e outros trabalhadores da linha de montagem, cujas funções exigem formação vocacional ou profissional. Os robôs conseguem realizar as mesmas tarefas com muito mais consistência e precisão do que os trabalhadores humanos e tornaram-se cada vez mais económicos.
No entanto, também verificámos que as empresas que investem em robôs aumentam significativamente as contratações para cargos de alta e baixa qualificação, compensando a perda de cargos de média qualificação na organização. O aumento de cargos altamente qualificados, que exigem pelo menos um diploma de bacharelato, é impulsionado principalmente pela necessidade de os humanos gerirem os próprios robôs, executando tarefas como programação e design. O aumento de cargos de baixa qualificação, que exigem, no máximo, o ensino secundário, é impulsionado pela necessidade de mão-de-obra humana para realizar as tarefas que os robôs ainda não conseguem realizar eficazmente. A Amazon, por exemplo, ainda depende de uma grande força de trabalho humana para carregar e operar as suas carrinhas de entrega. Apesar dos investimentos substanciais e dos avanços tecnológicos, estas tarefas são ainda difíceis de serem executadas fiavelmente por robôs.
Quando as empresas investem em robôs, é necessário um número significativamente menor de gestores de nível médio. As mudanças drásticas na composição da força de trabalho, por sua vez, alteraram o que as organizações exigem dos seus gestores. O trabalho de baixa qualificação é normalmente mais padronizado e, consequentemente, mais fácil de monitorizar e avaliar, reduzindo a necessidade de mais gestores. Gerir profissionais de baixa qualificação envolve principalmente monitorizar os procedimentos de trabalho e a produção, emitir comandos e garantir que os trabalhadores executam o seu trabalho correctamente. Dado que os trabalhadores altamente qualificados são frequentemente especialistas em lidar com problemas não rotineiros e podem frequentemente resolvê-los melhor do que os seus gestores, a gestão destes colaboradores exige geralmente menos comandos directos e uma maior ênfase no aconselhamento e na capacitação dos trabalhadores para resolverem problemas.
COMPETÊNCIAS ÚNICAS DOS GESTORES DE NÍVEL MÉDIO
Os gestores intermédios desempenham um papel crucial ao ajudarem as organizações a enfrentarem as mudanças tecnológicas e as suas correspondentes mudanças organizacionais, uma vez que continuam a ser responsáveis pela implementação das iniciativas da gestão de topo que permitirão às suas empresas manter a vantagem competitiva. Estes gestores devem adoptar as novas tecnologias eficazmente e integrá-las nas operações existentes.
Por exemplo, a Stanley Black & Decker substituiu os humanos por robôs para inspeccionar o seu processo de produção de fitas e detectar erros de produção. Os gestores rapidamente descobriram que os dados recolhidos por robôs sobre erros de inspecção podiam ser analisados para identificar padrões e destacar problemas de produção a montante. Após a modificação dos processos de produção a montante da Stanley Black & Decker, a empresa conseguiu evitar esses erros. Notavelmente, tanto a descoberta da oportunidade analítica como as subsequentes melhorias nos processos resultaram da perícia e dos esforços dos gestores intermédios: estavam numa posição única para ver os processos a montante e a jusante. Nem os executivos de topo nem os colaboradores não gestores da empresa teriam conseguido discernir claramente a oportunidade de melhoria ou de implementar as mudanças necessárias.
A ampla adopção de robôs muda drasticamente o ambiente de trabalho, incluindo a eliminação de empregos humanos — mas a adopção de robôs não terá o mesmo impacto em todas as funções. Embora os robôs ainda não consigam gerir humanos, a nossa pesquisa revela que a adopção de robôs altera as responsabilidades de gestão, permitindo uma redução do número de gestores necessários e redefinindo o papel da gestão de nível médio. As empresas que compreenderem e enfrentarem eficazmente estas mudanças serão as mais beneficiadas pela revolução dos robôs.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 233 de Agosto de 2025














