Os ucranianos pró-Kremlin, que fugiram para a Rússia, estão de repente a tornar-se mais visíveis novamente. De acordo com a publicação ‘Kyiv Post’, mantém-se a possibilidade de regressar à Ucrânia após o fim da guerra. Em particular Viktor Medvedchuk, um aliado próximo do líder russo Vladimir Putin, que atualmente lidera o ‘Another Ukraine’, um partido pró-Rússia criado para ele em Moscovo em 2023.
Recentemente, Medvedchuk ganhou as manchetes ao comentar as negociações entre EUA e Ucrânia, afirmando que não faz sentido novas eleições na Ucrânia porque “qualquer novo presidente será transferido pela sociedade política ucraniana para Zelensky”.
Viktor Medvedchuk apoiou os interesses de Moscovo na Ucrânia durante anos. Nos anos 2000 e 2010, lançou vários projetos políticos pró-Rússia – nenhum dos quais obteve sucesso. Viria a juntar-se ao partido pró-Rússia ‘Plataforma de Oposição — Pela Vida’, encontrou-se com líderes separatistas de Donetsk na Bielorrússia e adquiriu três canais de notícias ucranianos, transformando-os em plataformas para propaganda do Kremlin.
Em 2022, viria a ser preso pelas autoridades ucranianas e posteriormente trocado por oficiais do Regimento Azov capturados pela Rússia em Mariupol.
No entanto, Medvedchuk está longe de estar sozinho. Outras figuras pró-Rússia importantes no exílio incluem ex-oficiais do regime de Viktor Yanukovych que fugiram para a Rússia em 2014. Entre eles estão o filho do ex-presidente Oleksandr Yanukovych, o oligarca Serhiy Kurchenko, os ex-parlamentares do ‘Partido das Regiões’ Oleh Tsariov e Vadym Kolesnichenko, figuras públicas como Tetyana Montyan e ex-políticos como Andriy Klyuyev e Mykola Azarov.
Todos eles têm consistentemente assumido posições anti-ucranianas, apoiado a Rússia, justificado os seus crimes de guerra e procurando oportunidades de participar de uma administração de ocupação russa caso Moscovo alcance os seus objetivos na Ucrânia.
As hipóteses dos colaboradores e o “fator Trump”
As perspetivas para políticos pró-Rússia na Ucrânia permanecem incertas. Numa primeira análise, as suas chances parecem pequenas – os crimes de guerra da Rússia e a devastação causada na Ucrânia reduziram drasticamente o apoio a figuras pró-Kremlin. Além disso, a Ucrânia mantém um limite eleitoral de 5% para representação parlamentar.
No entanto, os especialistas alertaram que a situação não é tão simples: há um segmento de antigos eleitores de Volodymyr Zelensky, que o apoiaram em 2019 como um pacificador, que pode estar inclinado a votar em candidatos que prometem paz a qualquer custo. “É crucial entender que os políticos pró-Rússia adaptarão as suas mensagens de campanha a diferentes grupos de eleitores”, salientou Lidia Smola, especialista em ciências políticas.
Segundo a publicação, há pelo menos dois grupos de eleitores abertamente pró-Rússia: os “Zhduny”, que esperam pela Rússia e estão dispostos a colaborar com ela, e os antinacionalistas, os que rejeitam a identidade nacional da Ucrânia. De acordo com Smola, Moscovo já percebeu que se não pode vencer militarmente, então tentará destruir a Ucrânia politicamente através de eleições.
Segundo o analista político Volodymyr Fesenko, Moscovo não precisa vencer a eleição presidencial ucraniana – nenhum candidato pró-Rússia tem hipóteses. Em vez disso, a estratégia é infiltrar o Parlamento com pequenas fações para atrapalhar o Governo. “Uma ou duas fações no Parlamento seriam suficientes para desestabilizar o Governo, desencadear agitação e criar um pretexto para a Rússia alegar que a oposição está a ser ‘reprimida’ na Ucrânia”, sublinhou Fesenko, alertando que os enviados do presidente dos EUA, Donald Trump, a Putin desempenharão um papel crucial: eles devem reconhecer a manipulação de Moscovo.
“A Rússia pressionará para que as eleições ucranianas façam parte do processo de paz durante as negociações com os EUA. Enquanto isso, a Ucrânia insiste que as eleições só devem ocorrer após alcançar uma paz estável. No entanto, Moscovo exigirá eleições o mais rápido possível e insistirá que os políticos pró-Rússia atualmente proibidos sejam autorizados a participar”, explicou Fesenko.













