Explicador: Porque é que o apoio de Trump está a dividir a extrema-direita europeia?

Duas forças políticas, que lideram sondagens nas maiores economias do bloco, avaliam de forma distinta o impacto interno de uma aproximação a Washington

Francisco Laranjeira
Dezembro 10, 2025
10:10

O apoio assumido do presidente dos EUA, Donald Trump, aos nacionalistas europeus está a acentuar clivagens entre os maiores partidos de extrema-direita da União Europeia, com o alemão AfD a acolher o gesto e o francês Reunião Nacional a afastar-se, indicou o jornal ‘POLITICO’. As duas forças políticas, que lideram sondagens nas maiores economias do bloco, avaliam de forma distinta o impacto interno de uma aproximação a Washington.

O AfD viu no posicionamento de Trump uma oportunidade de reforçar legitimidade interna e quebrar o isolamento político que marca o seu percurso recente. Líderes do partido celebraram os ataques recentes da administração americana a responsáveis europeus e o elogio a “partidos patrióticos” que contestam o que descrevem como um “apagamento civilizacional”.

Petr Bystron, eurodeputado do AfD, afirmou que a Estratégia de Segurança Nacional apresentada por Washington representa “um reconhecimento direto” do trabalho do partido. O documento alerta que a Europa poderá tornar-se “irreconhecível” em duas décadas devido à migração e à perda de identidades nacionais, numa formulação quemtem fortes paralelos com o discurso da extrema-direita europeia.

Alice Weidel, uma das líderes nacionais do AfD, reforçou a leitura, defendendo que a estratégia americana demonstra a necessidade do AfD “na defesa da soberania e da remigração”. Uma delegação do partido desloca-se esta semana a Washington para reuniões com aliados republicanos próximos do movimento MAGA.

O partido acredita que a validação pública de Trump poderá facilitar futuras negociações com os conservadores do chanceler alemão Friedrich Merz, abrindo caminho a eventuais coligações. Markus Frohnmaier, vice-líder parlamentar do AfD, é mesmo convidado de honra num evento do Clube dos Jovens Republicanos de Nova Iorque, que apoia uma “nova ordem cívica” na Alemanha.

Cautela francesa perante um aliado impopular

Em França, a Reunião Nacional adota uma postura inversa. O partido de Marine Le Pen considera que uma aproximação explícita a Trump seria eleitoralmente prejudicial, dado o forte nível de rejeição ao presidente americano junto do eleitorado francês.

Jordan Bardella, presidente da Reunião Nacional, afirmou à imprensa britânica concordar com parte da agenda anti-imigração defendida por Washington, mas rejeitou qualquer influência dos EUA sobre a política doméstica. “Sou francês e não preciso de um irmão mais velho como Trump para pensar no destino do meu país”, declarou ao ‘The Telegraph’.

Thierry Mariani, dirigente do partido, sublinhou que Trump “trata a Europa como uma colónia”, um comportamento que considera problemático tanto do ponto de vista económico como político. Argumentou ainda que um presidente sem possibilidade de reeleição poderia agir de forma “excessiva” e “por vezes ridícula”.

A Reunião Nacional tem procurado distanciar-se do AfD, que foi expulso do grupo Identidade e Democracia no Parlamento Europeu após sucessivos escândalos. A estratégia de moderação visa apresentar o partido como alternativa governamental credível para as presidenciais de 2027.

Divergências ideológicas e cálculo político

Embora AfD e Reunião Nacional partilhem referências nacionalistas e anti-migração, persistem diferenças de fundo, nomeadamente declarações de dirigentes alemães sobre a II Guerra Mundial. Acrescem divergências de posicionamento: Le Pen defende o Estado social e mostra pouco interesse pelo conservadorismo religioso, ao contrário do alinhamento ideológico mais próximo do trumpismo observado no AfD.

Segundo especialistas citados pelo ‘POLITICO’, o fenómeno político associado a Trump é “distintamente americano” e dificilmente transferível para a realidade francesa. Le Pen, frequentemente acusada de proximidade à Rússia, procura evitar qualquer associação adicional a potências estrangeiras. O partido considera que não tem “nada a ganhar” em ser visto como dependente de Trump, sobretudo quando até parte do seu eleitorado mantém uma imagem negativa do presidente americano.

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