A Europa deu um novo passo na proteção das suas infraestruturas espaciais face ao aumento das ameaças cibernéticas atribuídas à Rússia no extremo norte do continente. Segundo avança a CNN Portugal, uma startup lituana assinou um contrato com a Agência Espacial Europeia (ESA) e com a Dinamarca para construir a primeira estação terrestre ótica do Ártico, um ponto estratégico para comunicações via satélite que se pretende mais rápidas, seguras e resistentes a interferências.
O projeto ganha força num contexto em que vários episódios de interferência nos sinais GPS têm sido registados na região. Em julho, companhias aéreas reportaram falhas de navegação no espaço aéreo de Svalbard, situação confirmada pela Autoridade Norueguesa de Comunicações. A origem permanece desconhecida, mas publicações como o Barents Observer têm documentado o uso recorrente pela Rússia, desde 2017, de técnicas de guerra eletrónica no norte da Noruega, Finlândia e Báltico, fenómeno que se agravou após a ofensiva militar contra a Ucrânia em 2022.
As tensões no Ártico não se limitam ao comportamento russo. No início do ano, Copenhaga foi surpreendida quando Donald Trump ponderou, durante uma visita à Casa Branca, avançar para a tomada da Gronelândia, cenário que levou a Dinamarca a reforçar a vigilância da ilha. Entre as medidas adotadas está a criação de uma “patrulha da noite”, responsável por monitorizar, entre as 17h00 e as 07h00, declarações e movimentos dos Estados Unidos que possam afetar a região, produzindo relatórios diários para o governo dinamarquês.
ESA e Dinamarca avançam com nova estação ótica no Ártico
Pouco depois desta revelação, a ESA anunciou um projeto pioneiro para reforçar as capacidades europeias de comunicação Terra-Espaço, através de um acordo com a Astrolight, empresa especializada em tecnologia espacial e de defesa. O objetivo é implementar em Kangerlussuaq, na Gronelândia, a estação terrestre ótica mais setentrional do mundo, concebida para garantir comunicações ultrarrápidas e praticamente imunes a interferências.
“Estamos a desenvolver uma tecnologia de comunicação segura baseada em lasers para comunicação espacial, terrestre e marítima”, explicou Laurynas Mačiulis, CEO da Astrolight, citado pela CNN Portugal. Segundo o responsável, os feixes de laser utilizados são “extremamente estreitos, invisíveis e muito difíceis de detetar e intercetar”, tornando-se assim mais resistentes à ciberguerra e oferecendo velocidades superiores às das ondas de rádio.
Comunicações mais rápidas e resistentes para satélites em órbita baixa
A aposta nesta tecnologia responde também ao aumento explosivo do número de satélites em órbita terrestre baixa, cuja presença deverá crescer 190% na próxima década, segundo estimativas do Fórum Económico Mundial. A ESA sublinha que as tradicionais estações de radiofrequência já não conseguem acompanhar a procura crescente, prevendo-se uma sobrecarga na largura de banda e limitações no envio de dados.
Mačiulis explica que, tal como os cabos de fibra ótica revolucionaram a internet em terra, as comunicações laser permitem uma ligação direta mais eficiente entre satélites, drones, navios e estações terrestres. A nova infraestrutura no Ártico promete uma taxa de transferência de dados mais de dez vezes superior e um custo 70% mais baixo por gigabyte.
Região crítica para inteligência e segurança europeia
O Ártico é especialmente sensível devido à elevada concentração de satélites de geointeligência que cruzam os pólos várias vezes por dia. Atualmente, muitos dependem de um único cabo de fibra submarino ligado à estação existente em Svalbard, o que cria um ponto vulnerável. Segundo Mačiulis, as operações de interferência eletrónica são relativamente simples com sistemas de rádio, mas tornam-se praticamente impossíveis com comunicações laser.
A ESA destaca que a nova estação apoiará também missões de busca e salvamento, atividades científicas e serviços públicos essenciais, melhorando a recolha de dados óticos, hiperespetrais, infravermelhos e de radar. O projeto pretende ainda reforçar a resiliência das comunicações europeias num momento de crescente receio de sabotagens a cabos submarinos e redes de radiofrequência.
Sem divulgar o valor total do investimento por se tratar de investigação e desenvolvimento, Laurynas Mačiulis revelou que as estações da Astrolight são “cerca de duas vezes mais baratas” do que as da concorrência devido ao desenvolvimento interno dos seus subsistemas. A estação de Kangerlussuaq já se encontra em fase de construção e deverá estar operacional até ao final de 2026.














