EUA eliminam recomendação universal da vacina da hepatite B para recém-nascidos

Um painel consultivo de vacinação dos Estados Unidos decidiu, esta sexta-feira, pôr fim à orientação que, desde 1991, recomendava a administração universal da vacina contra a hepatite B a todos os recém-nascidos.

Pedro Gonçalves
Dezembro 5, 2025
18:04

Um painel consultivo de vacinação dos Estados Unidos decidiu, esta sexta-feira, pôr fim à orientação que, desde 1991, recomendava a administração universal da vacina contra a hepatite B a todos os recém-nascidos. A medida, descrita como uma vitória política para o secretário da Saúde, Robert F. Kennedy Jr., está a ser duramente criticada por especialistas, que alertam para o risco de anular décadas de progressos na proteção infantil.

O comité decidiu manter a vacinação ao nascimento apenas para bebés cujas mães testem positivo para o vírus da hepatite B, abandonando a recomendação que abrangia todos os lactentes e que prevenia infeções capazes de causar doenças graves do fígado.

Para bebés cujas mães apresentem testes negativos, o painel defende agora que a decisão fique nas mãos dos pais, em articulação com um profissional de saúde, incluindo a possibilidade de adiar ou não iniciar o esquema vacinal. Até aqui, a diretriz previa uma dose logo após o parto, seguida de mais duas doses entre o primeiro e o segundo mês e entre os seis e os 18 meses.

O comité recomenda que a primeira dose seja oferecida apenas a partir dos dois meses de idade. A mudança mereceu críticas imediatas de especialistas em saúde pública, que avisam que a transição para um modelo de “decisão clínica partilhada” criará novos obstáculos ao acesso à vacinação. Os especialistas sublinham ainda que os pais “já tinham controlo sobre os cuidados dos seus filhos”, pelo que a alteração não representa empowerment, mas antes uma barreira adicional.

O comité é responsável por aconselhar os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) na definição de recomendações nacionais que influenciam a cobertura dos seguros de saúde e orientam médicos na escolha das vacinas a administrar.

Em junho, Robert F. Kennedy Jr. — fundador do grupo antivacinas Children’s Health Defense — demitiu os 17 especialistas independentes que integravam o comité e substituiu-os por membros alinhados com as suas posições críticas da ciência. Entre os novos integrantes já não se encontra qualquer imunologista.

Durante a reunião plenária de dois dias, dois membros opuseram-se de forma veemente à mudança, afirmando que não existe qualquer evidência que a justifique e recordando que há décadas de dados que comprovam tanto a segurança como a eficácia da vacina. Em sentido contrário, vários dos novos membros alegaram que não há provas de que a vacina seja segura e argumentaram que os Estados Unidos estão desalinhados de outros países.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) continua a recomendar que todos os bebés recebam a primeira dose da vacina contra a hepatite B logo após o nascimento, seguida de duas ou três doses adicionais com intervalos mínimos de quatro semanas. A agência de saúde internacional alerta ainda que 95% dos recém-nascidos infetados acabam por desenvolver hepatite crónica, uma das razões pelas quais a vacinação universal ao nascimento se tornou prática comum em vários países.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.