Desigualdade extrema acelera: elite de 0,001% supera toda a riqueza de 4 mil milhões de pessoas, revela estudo

Documento descreve um mundo onde os 10% mais ricos continuam a ganhar mais do que os restantes 90% e onde diferenças regionais persistem: uma pessoa média na América do Norte e Oceânia ganha cerca de treze vezes mais do que alguém na África Subsariana

Revista de Imprensa
Dezembro 10, 2025
10:01

A desigualdade extrema continua a marcar a economia global, com uma minoria ínfima da população a concentrar uma fatia crescente da riqueza mundial. O novo Relatório sobre a Desigualdade Mundial de 2026, publicado esta quarta-feira pelo World Inequality Lab e citado pelo jornal ‘Público’, mostra que os 0,001% mais ricos do planeta — cerca de 60 mil multimilionários — já possuem três vezes mais riqueza do que metade da população mundial.

O documento descreve um mundo onde os 10% mais ricos continuam a ganhar mais do que os restantes 90% e onde diferenças regionais persistem: uma pessoa média na América do Norte e Oceânia ganha cerca de treze vezes mais do que alguém na África Subsariana. A desigualdade no acesso à educação mantém-se elevada e as mulheres continuam a trabalhar mais horas e a receber menos do que os homens.

Acentuação da desigualdade de riqueza

Embora a desigualdade entre os 10% mais ricos e os 90% tenha estabilizado, o desfasamento entre os super-ricos e a metade mais pobre da humanidade agravou-se significativamente nas últimas décadas. Entre 1995 e 2025, a riqueza dos 50% mais pobres aumentou de 1,44% para 2,01% do total mundial, mas os 0,001% viram a sua quota subir de 3,75% para 6,07%.

Os autores do relatório sublinham que os mais pobres registaram “ganhos modestos”, mas insuficientes perante a “extraordinária acumulação no topo da pirâmide”. A taxa de crescimento da riqueza entre os mais ricos atingiu os 9% em três décadas, muito acima dos 2% a 4% registados pelos 50% mais pobres. É um fenómeno “persistente e em aceleração”.

Desigualdade geográfica e armadilhas estruturais

O relatório reforça também o desequilíbrio Norte-Sul: regiões como a América do Norte, Oceânia e Europa mantêm rendimentos elevados, enquanto América Latina, Sul e Sudeste Asiático e África Subsariana continuam a enfrentar níveis muito baixos de rendimento. A arquitetura financeira internacional agrava estes desequilíbrios, permitindo que países emissores de moedas de reserva acedam a financiamento barato, ao passo que economias em desenvolvimento enfrentam dívidas caras e perda contínua de rendimento.

O WIL estima que, todos os anos, cerca de 1% do PIB global flui das economias mais pobres para as mais ricas através de transferências financeiras, sobretudo juros da dívida.

O investimento em educação é identificado como uma variável crítica. No entanto, o relatório mostra que o fosso aumenta: em 2025, a despesa média por criança na África Subsariana não ultrapassou 220 euros, face a 7430 euros na Europa. Esta discrepância “molda oportunidades de vida e perpetua hierarquias de riqueza”, alertam os autores.

Desigualdade de género permanece transversal

A desigualdade entre géneros mantém-se estável há mais de três décadas. As mulheres recebem pouco mais de um quarto do rendimento global do trabalho, apesar de trabalharem, em média, mais horas do que os homens quando se inclui trabalho doméstico e cuidados a dependentes. As disparidades são mais pronunciadas no Médio Oriente, Norte de África, Sul e Sudeste Asiático e África Subsariana.

O relatório insiste que reduzir desigualdades é “uma escolha política”. Políticas públicas de educação, programas sociais e medidas de igualdade de género são destacadas como eficazes, mas o WIL identifica a fiscalidade como a alavanca mais decisiva para enfrentar a desigualdade gerada pelo topo da pirâmide.

O economista Thomas Piketty, um dos responsáveis pelo relatório, afirmou que os super-ricos enriquecem em parte porque “pagam muito poucos impostos”. Defendeu que qualquer reforma fiscal eficaz deve incidir sobre os multimilionários e não apenas sobre classes médias altas. Recordou ainda os progressos alcançados na Europa ao longo do último século, sustentando que a agenda de redução da desigualdade deve agora ser alargada ao Sul Global.

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