A tensão transatlântica voltou a subir esta terça-feira depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter descrito a Europa como um conjunto de países “em decadência”, governados por líderes “fracos” incapazes de responder aos desafios atuais. As críticas surgiram numa entrevista concedida à jornalista Dasha Burns, do Politico, transmitida num episódio especial do podcast The Conversation, onde o presidente norte-americano voltou a atacar de forma contundente a forma como o continente gere a migração.
Trump insistiu que os dirigentes europeus “são fracos” e que “não sabem o que fazer”, acrescentando que, na sua opinião, “a Europa não sabe o que fazer” perante os desafios migratórios e geopolíticos. As afirmações desencadearam respostas imediatas e firmes das mais altas figuras das instituições europeias.
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, reagiu de forma direta às declarações de Trump, sublinhando a necessidade de preservar a relação estratégica entre as duas margens do Atlântico. Segundo afirmou numa conferência de imprensa na Irlanda, “a Europa e os Estados Unidos têm de agir como aliados” e, para isso, o respeito é essencial.
Costa frisou que a União Europeia respeita as escolhas eleitorais dos cidadãos norte-americanos e espera o mesmo em sentido inverso. “Respeitamos a escolha dos americanos, e eles têm de respeitar as escolhas democráticas dos nossos cidadãos”, declarou. Referiu igualmente que, tendo sido eleito pelos líderes europeus para a presidência do Conselho Europeu, também Trump deve aceitar essa decisão: “Quando todos os líderes me elegem presidente do Conselho Europeu, o presidente Trump deve respeitar isso. Tal como nós respeitamos que os cidadãos americanos o tenham eleito presidente dos Estados Unidos. É assim que os aliados se comportam entre si.”
Comissão Europeia reforça defesa dos líderes europeus
A porta-voz-chefe da Comissão Europeia, Paula Pinho, também respondeu às críticas, assegurando que os europeus estão bem representados e orgulhosos dos seus dirigentes. Em resposta a uma pergunta do Politico, Pinho apresentou uma defesa clara da liderança europeia, destacando, em primeiro lugar, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.
“Estamos muito satisfeitos e gratos por ter excelentes líderes, a começar pela líder desta casa, a presidente da Comissão Europeia, von der Leyen, de quem estamos realmente orgulhosos e que tem capacidade para nos conduzir perante os muitos desafios que o mundo enfrenta”, afirmou. Acrescentou que os responsáveis dos 27 Estados-membros também fazem parte de um projeto europeu que continua a ser um projeto de paz, enfrentando simultaneamente desafios que vão do comércio internacional às guerras na vizinhança europeia.
Pinho sublinhou ainda: “Permitam-me aproveitar para reiterar aquilo que é o sentimento de muitos milhões de cidadãos da UE: estamos orgulhosos dos nossos líderes.”
Administração Trump multiplica ataques à Europa
As críticas do presidente norte-americano não surgem isoladas. Nas últimas semanas, Washington tem endurecido o tom em relação à União Europeia. Um novo manifesto de segurança nacional dos EUA sugeriu que a Europa se encontra em “declínio civilizacional”, retomando a narrativa já utilizada por Trump e vários membros da sua Administração.
Ao mesmo tempo, altos responsáveis norte-americanos acusaram o bloco europeu de promover censura, depois de a Comissão Europeia ter aplicado uma multa de 120 milhões de euros à plataforma X, propriedade de Elon Musk, por violação das regras de transparência.
A sucessão de ataques tem provocado crescente desconforto entre líderes europeus, que insistem em apresentar uma frente unida. A resposta coordenada de António Costa e Paula Pinho procurou precisamente reforçar essa mensagem: a Europa rejeita as acusações de fraqueza, reafirma a legitimidade democrática dos seus líderes e exige respeito de Washington.














