O contributo das universidades para apresentar soluções para o país que ajudem a combater literacia financeira e a desburocratização, os (baixos) índices de competitividade e a política fiscal do país. Estas foram algumas das principais ideias discutidas durante o pequeno-almoço sobre MBA, Pós-Graduações e Programas de Executivos que decorreu, em Abril, no hotel Vila Galé Ópera, em Lisboa. O debate contou com a presença de Elisabete Alcobia do ISCTE Executive Education; Filipa Cristóvão do ISEG Executive Education; Sofia Graça, da Católica Porto Business School; Tiago Guerra, do Técnico + e Instituto Superior Técnico; Luís Schwab, do IPAM; Paulo Martins, do ISCTE Executive Education e Pedro Brito, da Nova SBE Executive Education.
Durante a reunião foi apontada a falta de alinhamento entre instituições de ensino para ajudarem a resolver problemas do país. Na conversa, um dos participantes disse que «as escolas estão muito mais focadas na dimensão económica, o que é importante, mas pouco nos desafios sociais». A falta de alinhamento para resolver problemas concretos foi igualmente sublinhada, tal como a omissão de pontos comuns entre as diferentes escolas para apoiar o país.
Ao mesmo tempo foi sublinhado o trabalho mediano que o Estado português tem feito para a disponibilização de fundos europeus para o sector da educação em Portugal. «O processo é tão complexo e tão burocrático, que não há sequer do nosso lado [das escolas e universidades], a pressão para nos juntarmos com mais força e dizer que podemos assumir a responsabilidade de organizar e operacionalizar». Uma das dificuldades indicadas no acesso a esses apoios é a constante mudança das regras em conjunto com a instabilidade política, sobretudo a que levou o país a novas eleições legislativas, pouco mais de um ano após o último sufrágio legislativo. Foi ainda indicado o exemplo do cheque formação lançado há três anos: «dos 18 milhões de euros de lotação e foram gastos dois milhões», explicou um dos presentes. O mesmo participante no pequeno-almoço indicou que isso acontece porque o processo de acesso é complicado. E deu exemplos: «às vezes acontecem problemas com uma mera assinatura, se esta for colocada numa página errada o processo tem de voltar ao início». Haverá forma de contornar o que acontece? «Pode passar pelas universidades que, com mais força, possam criar consórcios conjuntos – para fazer com que as regras mudem e que sejam as universidades a operacionalizar e indicar que as regras têm de mudar», indicou um dos presentes no debate. Durante a fase inicial da conversa foi questionada a razão porque as escolas não exercem um poder colectivo e real, «não para ir em consórcios a projectos do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) ou de Fundos Europeus, mas sim para identificar alguns desafios da sociedade, como a literacia financeira», foi sublinhado. «Há que tentar perceber como é as escolas podem exercer um poder colectivo para ajudar o país a progredir, seja do ponto de vista económico seja do ponto de vista social, mesmo existindo uma dimensão competitiva», indicou um dos presentes. Outro dos participantes deu o exemplo da banca, que apesar de ser um mercado com muito concorrência, sempre que há problemas sérios, o sector une-se». Mas que tipo de problemas concretos podem ajudar as universidades a resolver? Foram sinalizados uma série de problemas nos quais as universidades podiam contribuir para a sua resolução, ou melhoria: a literacia financeira e a desburocratização, os índices de competitividade e a política fiscal do país.
AS UNIVERSIDADES E AS PME
Outra das ideias indicadas durante o encontro foram as competências de gestão dos empresários das pequenas e médias empresas. Os presentes no pequeno-almoço concordaram que existe alguma falta de espírito crítico na maioria dos empresários das PME. E foi avançada a ideia de colocar os responsáveis das pequenas e médias empresas em contacto uns com os outros fora dos seus meios e seus sectores. «É também uma oportunidade de os conectarmos, de os juntarmos, de os pormos a falar e de avançarmos para modelos cooperativos. O mundo está a mudar de tal forma que temos de perceber e aprender uns com os outros. Portanto, as universidades têm essa oportunidade de os juntar para debater e criar as soluções conjuntas. É uma oportunidade única», indicou um dos participantes. No entanto, durante a conversa foi levantada a questão que tais iniciativas requerem algum esforço das universidades com a possibilidade de não haver retorno, um dos participantes retorquiu, indicando que «o retorno é o de aumentar as competências dos nossos gestores, mas para tal é necessário, primeiro, «captar a sua atenção». Os presentes concordam, mas alertaram que é necessário perceber qual o valor para os empresários das PME e como comunicar esse valor. Avançou-se para a necessidade de criar um grupo de trabalho para desenvolver essa aproximação.
O PODER POLÍTICO
Outro dos temas discutidos durante o encontro foi como será possível envolver poder político na questão dos preços dos mestrados. Um dos participantes indicou que alguns partidos preferem que deixasse de existir propinas ou que estas tivessem um valor muito reduzido. Ao mesmo tempo relembrou quem tenha uma posição oposta, no sentido liberalizar de alguma forma o valor da propina, «de acordo com a lei da oferta e da procura». Foi lembrado que nesta área da educação – no qual se inserem os MBA, Pós-Graduações e Programas de Executivos – Portugal não pode olhar apenas para dentro. «De uma forma muito radical, o nosso país é pequeno, portanto, as escolas e as universidades nunca podem só olhar para quem estão para formar, cá dentro, têm de ter capacidade de atracção para os estudantes internacionais. Como exemplo foi lembrado o sucesso da expansão do negócio da saúde em Portugal, onde actualmente nem os privados estão a conseguir responder a toda a procura.
CURSOS MAIS CURTOS
O crescimento de cursos de menor duração foi outro dos assuntos discutidos. «Nota-se que as pessoas querem fazer programas entre 20 e as 30 horas. Acabam o curso numa sexta-feira e na segunda-feira seguinte, chegam à empresa e querem colocar prática o que aprenderam», foi dito na reunião. Foi igualmente acrescentado que «para áreas básicas, a escolha está a recair em cursos online, mas para áreas mais complexas, a preferência vai para os cursos presenciais. Contudo, um dos intervenientes sublinhou que «três ou quatro dias é algo pouco estruturada também. São pilulas de conhecimento, mas muitas vezes, sentimos essa procura de coisas mais curtas, mais centrais, mais focadas», adiantou. Outro dos participantes no pequeno-almoço indicou que «a maior parte dos programas pré-executivos são abaixo das 40 ou 50 horas, é o que as pessoas procuram. «Actualmente, é muito difícil que um particular decida que vai investir num programa de 100 horas de duração. Ou faz uma pós-graduação, um mestrado por exemplo, ou algo que depois possa em termos curriculares ter outra visibilidade. Ou então, quer saber sobre um tema em particular e faz algo rapidamente». Outro participante, ligado a outra escola indicou que as pós-graduações, «estão muito estabilizadas. Não estão em declínio, mas também não estão em crescimento. Há sempre um target que procura as pós-graduações por causa da valorização particular, sobretudo para pessoas, em que o mestrado não é necessariamente a melhor escolha. É fruto desta sociedade do imediato, também da formação das pessoas que têm este imediato. O consumo também tem de ser imediato para uma aplicação prática».
A nível das empresas, a procura por formação é mais estruturada, concordaram os participantes. Para o final, fez-se o balanço de como está a correr o ano em termos de negócio. Um dos participantes adjectivou de «desafiante» e que podia correr melhor. E apontou a instabilidade e a conjuntura que não ajudam à decisão na escolha de formações. «Está tudo um pouco em standby para ver para onde é que o país vai». «Há muita incerteza para as empresas e para os particulares», indicou outro dos participantes. Ainda outro representante de uma universidade indicou não ter sentido qualquer paragem, mas notou sim algumas decisões a serem adiadas. Este encontro decorreu antes do início da campanha para as eleições legislativas de 18 de Maio.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-Graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Maio (n.º 230) da Executive Digest.














