A Central de Cervejas e Bebidas, parte do grupo HEINEKEN, assume um papel de liderança ao integrar a sustentabilidade no centro da sua estratégia de negócio. Em entrevista, Salomé Faria, directora de Comunicação, Relações Institucionais e Sustentabilidade da empresa, explica como a ambição de «produzir um mundo melhor» orienta decisões em áreas tão diversas como as embalagens, a energia, o consumo responsável ou a inclusão no local de trabalho.
De que forma os critérios ESG influenciam actualmente o vosso modelo de negócio e a relação com os investidores?
Na Central de Cervejas e Bebidas, parte do grupo HEINEKEN, o compromisso com a sustentabilidade está presente em toda a cadeia de valor – da cevada ao bar -, sendo parte central da estratégia e actividade da empresa e um factor crítico para o sucesso. Através do programa de sustentabilidade “Brew a Better World – Produzir um Mundo Melhor” são definidas metas e acções concretas em três pilares: Ambiental, Social e Responsável, que reforçam o propósito da empresa de crescer de forma sustentável, criando valor para as pessoas, para o Planeta e para o negócio, hoje e no futuro. No pilar Ambiental, trabalhamos para alcançar a neutralidade carbónica, reduzindo as emissões de carbono provenientes da actividade, promovendo a circularidade e protegendo os recursos hídricos.
No pilar social, procuramos criar impacto positivo na comunidade e contribuir para uma sociedade mais inclusiva e justa, promovendo uma cultura de diversidade e um ambiente de trabalho mais justo e seguro. Já no pilar [do consumo] Responsável, assumimos o compromisso de promover escolhas conscientes juntos dos consumidores, através da sensibilização para o consumo moderado de bebidas alcoólicas e da oferta de alternativas sem álcool.
Para além de orientar as decisões estratégicas da empresa, este compromisso reforça a confiança dos investidores e stakeholders, que valorizam cada vez mais organizações com propósito, conduta ética e uma visão sustentada de longo prazo.
Como equilibram as exigências de crescimento económico com os compromissos de sustentabilidade ambiental e responsabilidade social?
Na Central de Cervejas, o crescimento económico e a sustentabilidade são aspectos basilares do nosso sucesso e um só faz sentido com o outro.
No pilar ambiental, por exemplo, os investimentos em energias renováveis, como a instalação de mais de 8.000 painéis solares nas unidades de Vialonga e Luso, não só reduzem a pegada de carbono, como também representam uma poupança energética a longo prazo. Para além disso, a aposta na circularidade das embalagens e na eficiência logística, através da implementação de frotas eléctricas ou a biocombustível e optimização de rotas, contribuem para a redução de custos operacionais, respondendo, simultaneamente, às exigências ambientais e regulatórias. E temos este tipo de abordagem também em eventos, por exemplo, como o NOS Alive, em que usamos energia solar para servir as cervejas de pressão. Do ponto de vista da responsabilidade social, temos como prioridade investir no bem-estar dos colaboradores, promovendo um ambiente de trabalho mais inclusivo e diverso. Também no âmbito deste pilar de registar os investimentos signicativos nas comunidades locais para devolver à comunidade o que nos dá.
Que papel pode ou deve ter a indústria das bebidas na liderança das práticas sustentáveis em Portugal?
Ao nível do setor cervejeiro em Portugal (segundo dados da APCV) existem cerca de 110 empresas cervejeiras que geram mais de 50 mil empregos e contribuem para o PIB com 1,5% (NOVA SBE 2021). Estes números demonstram o contributo incontornável e activo para o desenvolvimento social, económico e sustentável do nosso país na produção de uma bebida que tem como base exclusiva ingredientes naturais e água.
Daí que apoiar a economia nacional também faça também parte da estratégia da Central de Cervejas. A empresa valoriza a agricultura local, como exemplificado pelo investimento na produção de cevada dística em Portugal, usada na produção de cervejas como a Sagres Bohemia 100% Cevada Nacional. Esta iniciativa visa apoiar os agricultores e cooperativas regionais e revitalizar a cultura da cevada em Portugal.
Procuramos ser um agente de mudança e adoptar uma abordagem integrada que alia inovação, responsabilidade e compromisso com o futuro. A promoção da circularidade, particularmente nas questões ligadas às embalagens, é seguramente uma das nossas bandeiras na empresa.
A promoção da circularidade, particularmente no que se refere às embalagens, também é uma prioridade. A empresa procura constantemente materiais que reduzam o impacto ambiental e aumentem a reciclabilidade de suas embalagens.
O nosso compromisso com a economia circular envolve também a protecção dos recursos hídricos – não há cerveja sem água, e não há água de elevada qualidade se não protegermos o aquífero onde tem origem a nossa água de Luso.
Outros dos aspectos essenciais da nossa actuação é a Responsabilidade e a promoção do consumo moderado e responsável de bebidas alcoólicas. Fazemo-lo a título individual (por exemplo, investindo 10% do orçamento de marketing da marca Heineken em campanhas de sensibilização e disponibilizando sempre alternativas aos consumidores que se adequam a diferentes ocasiões de consumo) mas sobretudo através de parcerias como a que mantemos com a Prevenção Rodoviária Portuguesa, focada na condução, ou com o ACP em que os veículos de assistência em viagem disponibilizam aos condutores que solicitam assistência uma cerveja sem álcool e informação sobre o impacto do consumo de álcool na condução.
Que metas ambientais assumiu a Sociedade Central de Cervejas (SCC) para reduzir a sua pegada carbónica nos próximos anos?
No âmbito ambiental, a Central de Cervejas e Bebidas tem como meta atingir a neutralidade carbónica na produção até 2030 e em toda a cadeia de valor até 2040, promovendo, simultaneamente, a circularidade e a preservação dos recursos hídricos.
Para alcançar estas ambições, temos vindo a investir significativamente em energia renovável, nomeadamente com a instalação de 8.412 painéis solares fotovoltaicos nas unidades de Vialonga e Luso. A par disso, apostamos também na descarbonização dos processos logísticos, substituindo gradualmente a nossa frota por veículos eléctricos e optimizando cargas e rotas.
A gestão de embalagens é outro eixo prioritário, através da adopção de princípios de ecodesign e a utilização de materiais que minimizem o impacto ambiental e reduzam o excesso de embalagem.
No que diz respeito à protecção dos recursos hídricos, participamos em acções de limpeza, plantação e reflorestação na Mata do Bussaco, contribuindo para a preservação do ecossistema e a proteção do aquífero da Água de Luso.
Como é que a empresa está a integrar a economia circular nas suas operações, nomeadamente em termos de embalagens e gestão de resíduos?
Apesar de procurarmos assegurar que a economia circular está presente em todas as etapas da cadeia de valor, temos vindo, com o objectivo de reduzir o nosso impacto ambiental, a implementar medidas focadas especificamente nas nossas embalagens e na forma como realizamos a gestão de resíduos.
A aposta nos formatos reutilizáveis tem sido um dos aspectos mais visíveis da nossa estratégia. Neste momento, é possível consumir, tanto Cerveja Sagres, como Água de Luso em garrafas retornáveis que, após o consumo, são devolvidas, higienizadas e reintroduzidas no circuito, promovendo a reutilização e reduzindo a necessidade de produção de novas embalagens.
Nos formatos de plástico, para reduzir a quantidade de plástico utilizada, a Água de Luso tem vindo a ajustar o design das suas garrafas de plástico, conseguindo uma redução de cerca de 21% no plástico por litro entre 2012 e 2023, o que representa menos 876 toneladas de plástico utilizado. Assim como, é claro, a incorporação de PET reciclado na produção das mesmas, continuamos a contribuir para sistemas de recolha seletiva, como é o caso da Sociedade Ponto Verde e, num futuro próximo, para o Sistema de Depósito e Reembolso em Portugal. Além da informação nas embalagens sobre o local correto para deposição dos diferentes materiais.
De que forma a SCC promove um ambiente de trabalho inclusivo e diverso dentro da organização?
Definimos como meta aumentar a representatividade feminina em cargos de gestão de topo em 30% até 2025 e em 40% até 2030. Adicionalmente, oferecemos formação em práticas inclusivas para lideranças e temos como prática o princípio de pagamento igual para função/trabalho igual.
Garantir um local de trabalho justo e seguro é outra das nossas ambições e a segurança é uma das nossas principais áreas de actuação. Trabalhamos diariamente para construir uma cultura de segurança rumo a zero acidentes.
Que políticas têm em vigor para garantir a saúde, segurança e bem-estar dos colaboradores, principalmente em funções operacionais?
A saúde e o bem-estar dos nossos colaboradores são factores essenciais e prioritários para a Central de Cervejas e Bebidas. Um dos nossos valores da empresa é exatamente o Cuidar – das pessoas e do Planeta.
Temos um foco na segurança por razões óbvias ligadas à nossa actividade de produção e distribuição de bebidas e na saúde das nossas pessoas e fazemos, por exemplo, semanas temáticas.
Destacaria a área de Bem-Estar que é abordada internamente em quatros dimensões: Físico, Emocional, Social e Financeiro, com diversas atividades associadas a cada um.
Apoiam iniciativas junto das comunidades locais? Que projectos sociais se destacam neste âmbito?
Há 90 anos que procuramos retribuir à comunidade o que a mesma nos dá e criar um impacto positivo onde operamos, apoiando o desenvolvimento, sempre em linha com as áreas foco da nossa estratégia. Fazemo-lo através de donativos, patrocínios mas também da oferta de produto que viabiliza muitas iniciativas e projectos de cariz social. A nível interno, apostámos na plataforma “Juntar os Mundos” que nos permite unir mundos, diferentes públicos que servimos, ao mesmo tempo que criamos um impacto positivo duradouro junto da sociedade. Em 2024, foram 178 os voluntários que dedicaram 825 horas a trazer à vida o nosso propósito de criar a alegria da verdadeira união para inspirar um mundo melhor! As acções são sempre focadas nas nossas áreas estratégicas em termos de sustentabilidade.
No âmbito do pilar social da nossa estratégia faz também parte a criação de impacto positivo nas nossas comunidades, nomeadamente através da implementação de um projecto de impacto social Em Portugal temos, desde há largos anos, uma parceria com a CAIS – Futebol de Rua, que utiliza o desporto como ferramenta de inclusão social. E de destacar também que em 2024 lançámos o Reconectar, um projecto de capacitação e empregabilidade para o sector da restauração, desenvolvido com o Turismo de Portugal e a AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. Através deste programa, participantes em situação de vulnerabilidade social ou desemprego prolongado, podem aceder a melhores oportunidades económicas através da sua requalificação. Recebem formação certificada em serviço de restaurante/ bar, abrindo caminho para novas oportunidades profissionais.
Como está estruturada a governança da SCC para assegurar a integração dos princípios ESG na tomada de decisões estratégicas?
A estrutura de governança da empresa assenta na formação contínua, no empoderamento dos colaboradores, na transparência e num sistema integrado de autogestão e controlo. A comissão executiva é composta por perfis diversos em termos de idade, género, nacionalidade e tempo na organização, promovendo uma abordagem plural e abrangente na tomada de decisões. As decisões estratégicas são alinhadas com as ambições globais e resultam de uma articulação estreita com as diretrizes e valores da empresa.
Está implementado um programa de governança robusto e multidisciplinar que cobre várias áreas de risco, incluindo anticorrupção, direito da concorrência, integridade empresarial, sustentabilidade e relações com terceiros. Cada uma delas, com metodologias próprias, equipas com papéis claramente definidos e sistemas de controlo internos bem estruturados e complementares. Este modelo assegura uma actuação consistente, com equipas devidamente capacitadas e mecanismos eficazes para monitorizar e mitigar riscos de forma contínua.
A transparência é um dos pilares da boa governação. Como comunicam os vossos compromissos e resultados ESG aos stakeholders?
Os compromissos e resultados ESG da Central de Cervejas são consolidados e reportados centralmente pela HEINEKEN – o conhecido relatório e contas do grupo, além da performance financeira, contém os statements de sustentabilidade, e este processo anual é feito a 360 com divulgação junto de todas as partes interessadas, disponibilizado online, monitorizados os atingimentos face às ambições, etc.
Ainda assim, para garantir que o nosso compromisso com os princípios ESG e, por consequência, que as acções implementadas são visíveis para os nossos stakeholders, valorizamos não só a participação em conferências ou eventos de terceiros, a participação em artigos e publicações que permitam dar a conhecer as diversas medidas implementadas, mas também as parcerias com entidades cujos valores se alinhem com os nossos.
Para além disso, a segunda inclusão consecutiva da HEINEKEN na lista A do Carbon Disclosure Project (CDP) demonstra o reconhecimento público do trabalho feito nesta área da redução das emissões de carbono, em específico, e as metas de emissões líquidas zero e FLAG (Florestas, Terras e Agricultura) da HEINEKEN foram aprovadas pela iniciativa Science Based Targets (SBTi), tornando-se a primeira Cervejeira global a atingir este marco de sustentabilidade.
Acima de tudo, valorizamos e privilegiamos o envolvimento com as partes interessadas. O diálogo aberto é fundamental para nos ajudar a compreender as questões, os riscos e as oportunidades mais relevantes para o nosso negócio e para as partes interessadas.
Têm práticas para mitigar riscos éticos e garantir o cumprimento das normas legais e regulatórias?
Sim. A empresa dispõe de um Código de Conduta claro, de um canal de denúncias seguro e acessível, e de formações obrigatórias em áreas essenciais como concorrência, integridade e ética empresarial.
O programa de due diligence é executado em conformidade com as políticas globais, garantindo a detecção e mitigação eficaz de riscos relacionados com corrupção, branqueamento de capitais e outros comportamentos irregulares.
Por sua vez, a formação contínua e os mecanismos de controlo existentes asseguram o cumprimento rigoroso das obrigações legais e regulatórias.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “ESG”, publicado na edição de Junho (n.º 231) da Executive Digest.














