Armas por chips: Rússia pode estar a usar a máfia italiana para construir arsenais na Europa

De acordo com o ‘El Confidencial’, estas operações empregariam rotas já usadas para o tráfico de droga, com apoio logístico e conluio institucional

Francisco Laranjeira
Outubro 3, 2025
18:15

Investigadores italianos levantam suspeitas de que o Estado russo estaria a usar rotas criminosas para introduzir armas novas em território europeu e trocar material sensível proibido — como chips ou peças de drones — com organizações mafiosas italianas. De acordo com o ‘El Confidencial’, estas operações empregariam rotas já usadas para o tráfico de droga, com apoio logístico e conluio institucional.

O relatório divulgado pelo meio italiano ‘Linkiesta’, citado pelo ‘El Confidencial’, refere que armas saídas diretamente de fábricas russas, sem marcas de série, entram em solo europeu através de operações clandestinas. Os veículos usados para o transporte aproveitam rotas tradicionais do narcotráfico, com escalas em portos como Gioia Tauro (Calábria) e Siracusa (Sicília). Em alguns casos, dizem fontes, os carregamentos entram disfarçados em tanques de combustíveis para evitar inspeções.

Fontes ligadas ao submundo criminal romano contam ainda que em Catania estão dois depósitos clandestinos, nos bairros de San Giovanni Galermo e Librino. Segundo a publicação espanhola, nessas infraestruturas as armas estariam prontas para distribuição imediata — sem etapas de armazenagem pública — num modelo que o artigo descreve como “armazém controlado”.

Armas sem numeração e cumplicidade estatal

Uma das facetas mais alarmantes do esquema é o facto de as armas encontradas no mercado negro serem completamente desmarcadas — sem número de série. Isso aponta para possível conluio governamental para permitir que o armamento só seja rastreável até certo ponto.

O jornalista Massimiliano Coccia indica que essas armas poderiam ter origem na fábrica estatal de Tula, na Rússia. Segundo ele, espingardas de assalto, armas usadas por forças especiais e até armamento de precisão teriam sido enviados diretamente da produção para as redes criminais italianas.

Objetivos estratégicos e trocas de material

Para Moscovo, a rede teria objetivos múltiplos, segundo o ‘El Confidencial’:

– Financiar-se por meio da venda de armamento novo ao crime organizado europeu;

– Usar essas vendas como meio de troca por componentes eletrónicos sancionados, como microchips ou peças para drones;

– Acumular arsenais prontos para utilização em cenários futuros de conflito ou de instabilidade política.

O abastecimento direto de armas aliadas ao tráfico de material de dupla utilização estabeleceria uma relação simbiótica entre o crime e a estratégia estatal, algo que especialistas classificam como parte de uma guerra híbrida em crescimento.

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