Tragédia no Afeganistão: talibãs impedem resgate e tratamento de milhares de mulheres e crianças vítimas do sismo

Abalo deixou mais de 6.700 famílias desabrigadas no leste do país, matando mais de 2.200 pessoas e afetando pelo menos 500 mil, de acordo com os últimos relatórios do Escritório de Ajuda Humanitária da Comissão Europeia (ECHO) e de agências da ONU

Francisco Laranjeira
Setembro 8, 2025
11:59

No passado dia 31, um terramoto de magnitude 6.0 na escala de Richter atingiu o Afeganistão, deixando mais de 6.700 famílias desabrigadas no leste do país, matando mais de 2.200 pessoas e afetando pelo menos 500 mil, de acordo com os últimos relatórios do Escritório de Ajuda Humanitária da Comissão Europeia (ECHO) e de agências da ONU. Quatro dias depois, um novo abalo, de 5.6 de magnitude, atingiu a mesma área, o que complicou os esforços de resgate e as avaliações de danos em marcha.

A maioria das pessoas afetadas pelos sismos são mulheres e crianças, isto devido às políticas que as confinam em casa. No entanto, a lei talibã impede que essas mulheres e meninas sejam resgatadas, pois os regras dizem que estas sejam tocadas apenas por familiares próximos. A maioria dos socorristas são homens, portanto, resgatar essas mulheres e meninas constituiria uma violação flagrante da política talibã.

Mais: só podem ser resgatadas por parentes mais próximos ou outras mulheres. Além disso, não têm permissão para falar alto em público e a sua vestimenta obrigatória é o xador, o que torna mais difícil encontrá-las sob os escombros.

Para aquelas que são resgatadas, mas precisam de atenção médica, a situação mantém-se crítica: a lei impede de serem tratadas por médicos homens e há poucas mulheres como médicas, uma crise criada pela proibição talibã de mulheres estudarem medicina.

Diversas organizações têm-se mobilizado para alertar para a situação e garantir que essas pessoas possam ser resgatadas. Médicos que trabalham em campos de emergência no leste do Afeganistão também emitiram um alerta sobre a escassez crítica de medicamentos e equipamentos para tratar os milhares de feridos pelo terramoto. Uma avaliação inicial realizada pelo Cluster de Saúde da ONU em 17 aldeias revelou que 52% delas não tinham medicamentos suficientes ou adequados, e 53% não tinham os abastecimentos médicos necessários para lidar com a emergência causada pelo terremoto. “Esses medicamentos não são suficientes, nem esses serviços. Essas pessoas precisam de mais remédios, tendas, comida e água limpa”, apontou Shamsher Khan, responsável de um dos campos.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.