Psicólogos do INEM apoiaram quase 40 pessoas após o acidente no Elevador da Glória. Como é feito o acompanhamento?

Segundo dados do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC), foram assistidas 37 pessoas, entre vítimas diretas, familiares, amigos, testemunhas e profissionais de socorro.

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Setembro 4, 2025
12:17

Cinco equipas de psicólogos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) estiveram no terreno, na quarta-feira, para prestar apoio às vítimas do descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa. Segundo dados do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC), foram assistidas 37 pessoas, entre vítimas diretas, familiares, amigos, testemunhas e profissionais de socorro.

Em declarações à CNN Portugal, Sónia Cunha, coordenadora nacional do CAPIC, explicou que os psicólogos do INEM desempenham um papel essencial nestas situações de emergência. “Ontem chegámos a ter cinco equipas no terreno. À medida que foram identificadas as necessidades, foram sendo reforçadas”, disse. As equipas, designadas UMIPE (Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência), são compostas por um psicólogo e um técnico de emergência hospitalar com formação específica em intervenção em crise.

O trabalho passa por identificar, no terreno, quem mais necessita de apoio, podendo tratar-se de vítimas primárias (diretamente envolvidas), secundárias (familiares e amigos) ou terciárias (operacionais e testemunhas). “Um dos grandes objetivos é a identificação de potencial risco de vir a desenvolver psicopatologia, por exemplo stress pós-traumático ou perturbação da ansiedade”, sublinhou Sónia Cunha.

A psicóloga reforçou que estas reações são esperadas em acontecimentos traumáticos e que é fundamental criar “uma bolha de apoio e de conforto”, que permita às pessoas ganhar tempo para ativar mecanismos internos de adaptação. A intervenção estendeu-se também aos hospitais que receberam os feridos, sendo mantido contacto telefónico com algumas das vítimas.

Sofia Ramalho, presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), destacou que a presença de psicólogos nestes cenários é tão importante quanto a de outros profissionais de socorro. “É fundamental até para garantir que esses profissionais possam fazer o seu trabalho sem interferências das próprias vítimas”, afirmou.

A responsável defendeu ainda que, após a intervenção imediata, deve existir articulação com os serviços de saúde primários e hospitalares, idealmente com acompanhamento das vítimas durante três meses. Contudo, reconheceu que esta missão é muitas vezes impossível de concretizar pela falta de recursos humanos. “É fundamental o reforço dos psicólogos nas comunidades, nos serviços de saúde e no INEM”, acrescentou.

A OPP lembra também que existem outros níveis de impacto psicológico, incluindo pessoas emocionalmente próximas das vítimas e cidadãos expostos às imagens e notícias. Por isso, a ordem tem promovido literacia para que a população não se exponha em excesso e elaborou um guia de autocuidado para psicólogos. “Estes acontecimentos mostram-nos a importância que os psicólogos têm nos mais diversos setores”, concluiu Sofia Ramalho.

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