Cientistas estão perplexos com misteriosas ‘bolas de Neptuno’ que aparecem nas praias do Mediterrâneo

À primeira vista, parecem cocos caídos ou até mesmo animais peludos enrolados. Há quem confunda com depósitos resultantes de alguma civilização extraterrestre. Sejam o que forem, essas bolas curiosas que aparecem nas praias do Mediterrâneo certamente estão fora de lugar

Francisco Laranjeira
Setembro 7, 2025
13:00

À primeira vista, parecem cocos caídos ou até mesmo animais peludos enrolados. Há quem confunda com depósitos resultantes de alguma civilização extraterrestre. Sejam o que forem, essas bolas curiosas que aparecem nas praias do Mediterrâneo certamente estão fora de lugar.

Algumas são quase perfeitamente esféricas, enquanto outras têm o formato de bolas de rugby. São conhecidas como as “bolas de Neptuno”, mas nada têm a ver com o oitavo planeta do Sistema Solar. Receberam o nome em homenagem ao deus romano do mar, que pode controlar ventos ferozes e tempestades.

Moradores, turistas e até cientistas têm ficado perplexos com as ‘bolas de Neptuno’, que muitas vezes surgem após tempestades. No entanto, de acordo com o tabloide britânico ‘Daily Mail’, uma equipa espanhola de investigadores acredita saber agora o que são estes objetos… e porque continuam a aparecer.

Segundo os especialistas, as ‘bolas de Neptuno’ são feixes redondos e compactos de uma espécie de erva marinha conhecida como ‘Posidonia oceanica’, que se encontra no Mar Mediterrâneo.

Ancoradas ao fundo do mar, as folhas da planta caem e juntam-se como uma espécie de erva daninha subaquática, formando esferas soltas. Essas esferas recolhem plástico à medida que se formam, incluindo pedaços de embalagens de alimentos, sacos plásticos, tampas de garrafas e muito mais. Quando surgem nas praias, servem de ‘lembrete’ para a dimensão da poluição de plástico nos mares – desta forma, esta engenhosa planta está efetivamente a remover o plástico do mar e devolvê-lo à origem.

De acordo com cientistas, as ‘Posidonia oceanica’ que balançam no fundo do mar começam a enrolar-se no plástico antes mesmo de as suas folhas se desprenderem. E alguns deles são “microplásticos” — partículas de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, invisíveis a olho nu. O mais assustador é que as ‘bolas de Neptuno’ podem conter igualmente pensos higiénicos, tampões e lenços que foram atirados para a sanita.

Anna Sànchez-Vidal, professora de ciências da terra na Universidade de Barcelona, em 2021, publicou um estudo na revista ‘Scientific Reports’ que abordou a escala da poluição plástica na ‘Posidonia oceanica’, uma espécie encontrada apenas no Mar Mediterrâneo.

Em 2018 e 2019, contaram o número de partículas de plástico encontradas em bolas que foram parar a quatro praias em Maiorca, na Espanha, que tem grandes pradarias de ervas marinhas na costa. Os cientistas descobriram que havia detritos plásticos em metade das amostras de folhas soltas de ervas marinhas – até 600 pedaços por quilo de folhas. Apenas 17% das fibras de ervas marinhas agrupadas continham plástico, mas numa densidade muito maior — quase 1.500 peças por quilo de bolas marinhas. O formato e a disposição das ervas marinhas debaixo d’água fazem delas um filtro e uma armadilha eficazes para plásticos nas áreas costeiras.

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