Portugal volta a registar um preocupante aumento de óbitos associado às temperaturas elevadas, num padrão que se repete ano após ano durante os períodos de calor extremo. Nos dias 29 e 30 de julho, contabilizaram-se 88 mortes acima do previsto, com maior incidência na região Norte e entre a população com mais de 85 anos. A situação poderá agravar-se já a partir de domingo, quando os termómetros deverão escalar até aos 43 °C em algumas zonas do país, levando o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a preparar a emissão de aviso laranja para grande parte do território nacional.
De acordo com o sistema de vigilância da mortalidade em tempo real (eVM), consultado esta quinta-feira de manhã pelo Jornal de Notícias (JN), terça-feira registou um pico de excesso de mortalidade de 27%, tendo descido para 5,7% na quarta-feira. Ao todo, são já 31 os dias com excesso de óbitos em 2025, sendo que o período mais crítico decorreu entre 30 de junho e 10 de julho, altura em que a Direção-Geral da Saúde (DGS) contabilizou 284 mortes adicionais, 70% das quais em idosos com mais de 85 anos. O Norte continental é, novamente, a região mais afetada, com aumentos consecutivos desde 26 de julho, atingindo 61,5% de excesso a 28 de julho.
Para o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Bernardo Gomes, estes números enquadram-se num padrão sazonal já conhecido. “É expectável, temos um padrão de mortalidade em Portugal muito associado à componente sazonal”, afirmou ao JN, acrescentando que as mortes tendem a aumentar nos meses mais frios e nos períodos de calor intenso. Apesar disso, sublinha que os dados atuais “são muito similares aos dos últimos três anos”, embora alerta para a influência dos incêndios e da qualidade do ar, que podem agravar a situação.
Embora as temperaturas estejam acima da média, Portugal não está oficialmente em onda de calor, uma vez que, segundo critérios do IPMA, é necessário um período de seis dias consecutivos com temperaturas máximas superiores em 5 °C à média. No entanto, a meteorologista Maria João Frada explicou ao JN que a tendência é de agravamento: “É muito provável que entre 31 de julho e 6 de agosto possa haver uma onda de calor em grande parte das estações do IPMA”, afirmou. O cenário previsto para os dias 3 e 4 de agosto poderá levar à emissão de aviso laranja para o calor, com temperaturas entre os 35 °C e os 40 °C e possíveis picos superiores a 43 °C no interior do Alentejo, Vale do Tejo e Vale do Douro.
A conjugação de calor extremo com a exposição ao fumo dos incêndios representa um risco adicional, segundo os especialistas. “O calor continua a ser protagonista em termos de causalidade”, sublinha Bernardo Gomes, advertindo que o fumo pode “agravar patologias respiratórias” e provocar “reações inflamatórias” que potenciam eventos cardiovasculares. O stress térmico e a má qualidade do ar podem, assim, ter efeitos diretos e indiretos na mortalidade, exigindo resposta clínica e hospitalar.
Perante este cenário, a DGS reforça as recomendações para enfrentar o calor: beber água regularmente (evitando álcool), manter-se em ambientes frescos, evitar a exposição solar direta entre as 11h e as 17h, e proteger os grupos mais vulneráveis, como crianças, idosos, grávidas e doentes crónicos. Em caso de sintomas como suores intensos, febre, náuseas ou pulso acelerado, deve contactar-se o SNS24 (808 24 24 24) ou, em caso de emergência, o 112.
Quanto à exposição ao fumo, as autoridades recomendam fechar portas e janelas, evitar atividades físicas no exterior, utilizar máscaras de proteção, e não recorrer a fontes de combustão dentro de casa. Os sinais de alerta incluem dificuldade respiratória, queimaduras faciais ou alterações da consciência. Nestes casos, o contacto com os serviços de emergência deve ser imediato. Com o calor em ascensão e os incêndios a aumentar, a vigilância e o cumprimento das orientações das autoridades de saúde são fundamentais para minimizar o impacto nas populações.














