Aliada de Trump acusa Israel de genocídio em Gaza e desafia o presidente dos EUA

A deputada norte-americana Marjorie Taylor Greene, uma das mais ferozes aliadas do presidente Donald Trump, tornou-se na primeira figura de destaque do Partido Republicano a acusar publicamente Israel de estar a cometer um genocídio na Faixa de Gaza.

Pedro Gonçalves
Julho 30, 2025
12:36

A deputada norte-americana Marjorie Taylor Greene, uma das mais ferozes aliadas do presidente Donald Trump, tornou-se na primeira figura de destaque do Partido Republicano a acusar publicamente Israel de estar a cometer um genocídio na Faixa de Gaza. A afirmação, feita esta segunda-feira nas redes sociais, assinala uma rutura rara dentro de um partido tradicionalmente inabalável no seu apoio a Israel, e levanta tensões crescentes sobre a política externa dos Estados Unidos no Médio Oriente.

A congressista da Geórgia escreveu na plataforma X (antigo Twitter): “É a coisa mais verdadeira e mais simples de dizer que o 7 de outubro em Israel foi horrível e que todos os reféns devem ser libertados, mas também é genocídio, crise humanitária e fome o que está a acontecer em Gaza.” A mensagem surge numa altura em que a operação militar israelita — lançada após os ataques do Hamas a 7 de outubro de 2023 — continua a provocar elevados números de vítimas civis e destruição em larga escala.

Ao utilizar o termo “genocídio”, Greene desafia frontalmente a narrativa dominante em Washington. A palavra, com profundas implicações jurídicas e diplomáticas, é definida pelas Nações Unidas como “atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.” A sua invocação por parte de uma congressista republicana em funções representa uma mudança significativa no discurso político dos EUA sobre Gaza.

Israel lançou a ofensiva militar após os ataques do Hamas, que causaram cerca de 1.200 mortos e resultaram no sequestro de mais de 250 pessoas. Desde então, o número de vítimas palestinianas, incluindo milhares de crianças, tem gerado preocupação internacional. Organizações de direitos humanos alertam para possíveis crimes de guerra cometidos pelo exército israelita.

Com esta declaração, Marjorie Taylor Greene aproxima-se de posições frequentemente associadas a organizações humanitárias internacionais e à ala mais crítica da esquerda americana, contrastando com a posição de grande parte do seu partido, que continua a apoiar o financiamento militar a Israel.

A congressista foi ainda mais longe ao responsabilizar o apoio incondicional a Israel por possíveis consequências sociais: “Apoiar tais ações não só prejudica pessoas inocentes, como também aumenta o antissemitismo ao associar a identidade judaica à violência do Estado,” escreveu.

A publicação de Greene criticava também diretamente o deputado republicano da Florida, Randy Fine, conhecido pelo seu apoio intransigente a Israel. Fine negou recentemente que exista fome em Gaza, afirmando no X: “Não há fome. Tudo sobre a causa ‘palestiniana’ é uma mentira.” Em resposta a uma reportagem da ABC News que indicava a morte de 15 pessoas por desnutrição em 24 horas — incluindo quatro crianças — Fine declarou: “Libertem os reféns. Até lá, que morram à fome.”

Greene respondeu: “Só posso imaginar como se sente agora o eleitorado do 6.º distrito da Florida, ao ver o seu representante defender abertamente o uso da fome contra pessoas e crianças inocentes.”

Esta não é a primeira vez que Marjorie Taylor Greene se opõe ao apoio dos EUA a Israel. No início de julho, propôs uma emenda para cortar financiamento ao sistema de defesa antimísseis israelita — proposta que foi esmagadoramente rejeitada por 422 votos contra 6. Ainda assim, continua a denunciar a situação em Gaza, referindo-se repetidamente ao sofrimento das crianças palestinianas e à “horrível” realidade no terreno.

A congressista tem também expressado descontentamento com a política externa de Trump. Num post de junho, dois dias depois de o presidente ter ordenado um bombardeamento no Irão, escreveu: “CHEGA DE GUERRAS ESTRANGEIRAS. CHEGA DE MUDANÇA DE REGIME. PAZ MUNDIAL,” em referência ao slogan da campanha “Make America Great Again”.

Apesar da postura tradicionalmente pró-Israel da administração Trump, o próprio presidente reconheceu esta segunda-feira que existe “fome real” na Faixa de Gaza. “Vejo isso, e não se pode fingir,” afirmou, prometendo que os Estados Unidos farão mais para aliviar a crise humanitária. A declaração, embora breve, representa uma das poucas admissões públicas por parte do presidente sobre o sofrimento da população palestiniana.

Com Trump a reconhecer a gravidade da situação e Greene a usar linguagem até agora tabu no Partido Republicano, é possível que se intensifique o debate interno sobre o apoio militar a Israel, a ajuda humanitária e a necessidade de responsabilização internacional.

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