Afinal a avó tinha mesmo razão: Ciência confirma benefícios das sopas e canjas contra gripes e constipações

Durante gerações, a canja de galinha tem sido apontada como um remédio reconfortante para os dias em que a constipação ou a gripe se fazem sentir. A sua reputação como tratamento caseiro atravessa culturas e épocas.

Pedro Gonçalves
Julho 19, 2025
19:00

Durante gerações, a canja de galinha tem sido apontada como um remédio reconfortante para os dias em que a constipação ou a gripe se fazem sentir. A sua reputação como tratamento caseiro atravessa culturas e épocas. Mas haverá fundamento científico para esse papel tão valorizado? A resposta, segundo uma nova revisão sistemática publicada no The Conversation por Sandra Lucas, docente na Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Oeste da Escócia, é um claro sim.

Em conjunto com outros investigadores, Lucas analisou mais de 10 mil registos científicos e identificou quatro estudos de elevada qualidade, que envolveram um total de 342 participantes. Estes trabalhos testaram os efeitos de diferentes tipos de sopa — desde a tradicional canja de galinha a sopas de cevada e misturas vegetais com ervas — no tratamento de infeções respiratórias agudas, como constipações, gripe e até COVID-19. Embora ainda numa fase preliminar, os resultados revelaram-se promissores.

Um dos estudos incluídos na revisão demonstrou que os participantes que ingeriram sopa durante o período de doença recuperaram até 2,5 dias mais depressa do que os que não o fizeram. Sintomas típicos como congestão nasal, dor de garganta e fadiga apresentaram-se de forma mais branda. Além disso, houve uma redução de marcadores inflamatórios no sangue — nomeadamente as proteínas IL-6 e TNF-α, associadas à resposta imunitária — entre os que consumiram sopa, o que pode indicar uma regulação benéfica da inflamação pelo organismo.

Apesar destes dados encorajadores, os autores salientam uma lacuna importante: nenhum dos estudos avaliou o impacto da sopa em resultados quotidianos, como o número de dias de trabalho perdidos ou a necessidade de hospitalização. Este será um dos temas que futuras investigações deverão abordar.

Sandra Lucas chama ainda a atenção para o valor simbólico da sopa no contexto do autocuidado. “Há um aspeto cultural e comportamental muito forte nas práticas alimentares em situações de doença”, explica. Em muitas famílias, a canja é mais do que nutrição — é conforto, rotina e expressão de cuidado.

Investigações anteriores da autora revelaram que muitos pais recorrem a remédios tradicionais, como a canja, como primeira linha de resposta quando os filhos adoecem, frequentemente antes de procurarem aconselhamento médico. Esta tendência reflete a crescente valorização dos remédios caseiros, enraizados nas tradições familiares e na confiança cultural.
Um aliado simples e económico na gestão da saúde

Com os sistemas de saúde sob crescente pressão, a promoção de cuidados domiciliários baseados em evidência científica pode desempenhar um papel crucial. A resistência aos antibióticos, a sobrecarga dos serviços médicos e os efeitos duradouros da pandemia de COVID-19 tornaram ainda mais evidente a importância de soluções simples e acessíveis.

A título de exemplo, Lucas destaca que uma mensagem automática enviada aos utentes sobre constipações — lembrando que estas geralmente passam em poucos dias e não exigem consulta médica — conseguiu reduzir em 21% a procura por consultas, demonstrando o potencial das estratégias de autocuidado informadas.

Segundo dados da Local Government Association britânica, os médicos de clínica geral lidam com cerca de 57 milhões de casos de doenças ligeiras por ano, como constipações e tosses, representando um custo superior a 2 mil milhões de libras anuais para o Serviço Nacional de Saúde. A entidade defende que melhorar a literacia em saúde e promover o autocuidado poderá poupar aos médicos de clínica geral até uma hora por dia.

Além de ser fácil de preparar, acessível e segura para a maioria das pessoas, a canja continua a ser uma das opções mais consensuais para quem quer aliviar sintomas ligeiros em casa. Os ingredientes frequentemente utilizados — como alho, cebola, vegetais de folhas verdes ou verduras — possuem propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e de suporte ao sistema imunitário. O calor da sopa ajuda a soltar o muco, aliviar a dor de garganta e proporcionar conforto.

Ainda assim, os autores da revisão científica sublinham que são necessários mais estudos. Seria importante testar receitas padronizadas, comparar diferentes combinações de ingredientes (canja de galinha vs. sopa de cevada vs. sopa vegetal), bem como distinguir os efeitos entre sopas caseiras e enlatadas. Igualmente relevante seria medir resultados concretos, como o tempo de recuperação, a qualidade do sono ou os níveis de energia dos doentes.

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