O poder silencioso do olhar: Cientistas revelam o segredo visual mais eficaz para pedir algo (sem abrir a boca)

Nem sempre é fácil comunicar o que queremos, especialmente em situações sociais onde falar pode não ser apropriado — como sair discretamente de um jantar aborrecido ou pedir ao parceiro para encher novamente o copo de vinho.

Pedro Gonçalves
Julho 20, 2025
17:00

Nem sempre é fácil comunicar o que queremos, especialmente em situações sociais onde falar pode não ser apropriado — como sair discretamente de um jantar aborrecido ou pedir ao parceiro para encher novamente o copo de vinho. Agora, investigadores da Universidade de Flinders, em Adelaide, Austrália, garantem que há uma forma simples e cientificamente comprovada de o fazer… apenas com os olhos.

Segundo o estudo, publicado esta semana na revista Royal Society Open Science, a chave está numa sequência específica de olhares: fixar um objeto, estabelecer contacto visual com outra pessoa e, em seguida, voltar a olhar para o mesmo objeto. Esta cadeia de movimentos é interpretada pela maioria das pessoas como um pedido não verbal de ajuda ou de ação.

“Descobrimos que não é apenas a frequência com que alguém olha para si ou se olha para si no final de uma sequência de movimentos oculares. O que importa é o contexto desses movimentos — e é isso que os torna comunicativos e relevantes”, explicou o autor principal do estudo, Dr. Nathan Caruana.

Para chegar a estas conclusões, a equipa australiana envolveu 137 participantes numa tarefa de construção de blocos em ambiente virtual. Durante a experiência, os participantes tinham de discernir se o seu parceiro virtual — um avatar — estava apenas a observar ou a solicitar um dos três objetos disponíveis. O comportamento ocular dos avatares foi cuidadosamente manipulado para testar diferentes padrões de olhar.

Os resultados mostraram que os participantes foram mais rápidos e mais propensos a interpretar um gesto como um pedido quando o avatar olhava para um objeto, depois para a pessoa, e novamente para o mesmo objeto. Esta sequência, segundo os investigadores, transmite de forma intuitiva a intenção de pedir algo — uma descoberta com implicações práticas em múltiplos contextos.

“O nosso estudo ajuda a decifrar um dos comportamentos mais instintivos que temos: o olhar”, sublinhou Caruana. “Esta compreensão pode ser usada para melhorar a comunicação em ambientes de elevada pressão, como no desporto, nas forças armadas ou em locais de trabalho barulhentos.”

Curiosamente, o efeito manteve-se mesmo quando a mesma sequência de olhares foi realizada por um robô. “Seja com um colega de equipa, um robot ou alguém com um estilo de comunicação diferente, compreender como o olhar funciona pode ajudar a criar ligações mais eficazes”, acrescentou o investigador.

Além das aplicações mais óbvias — como facilitar a comunicação com pessoas com deficiência auditiva ou com autismo —, esta descoberta também abre portas para o aperfeiçoamento de tecnologias baseadas em inteligência artificial e interação humano-máquina, especialmente em áreas como a robótica social ou os assistentes virtuais.

Este estudo junta-se a outras investigações recentes sobre o poder do olhar. Por exemplo, uma experiência conduzida por Neeltje Boogert, investigadora em ecologia comportamental na Universidade de Exeter, demonstrou que encarar gaivotas pode ser suficiente para impedir que estas ataquem a sua comida. “As gaivotas consideram o olhar humano aversivo e são menos propensas a aproximar-se da sua refeição se estiver a olhar diretamente para elas”, explicou a cientista.

A nova investigação australiana reforça assim a importância do olhar como ferramenta de comunicação não verbal, revelando que até um gesto tão simples como o movimento dos olhos pode carregar um significado profundo e universal. Seja para proteger as batatas fritas de uma gaivota, indicar que quer sair de um jantar ou cooperar numa missão crítica, os olhos continuam a ser um dos instrumentos mais poderosos da linguagem humana.

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