A França está a enfrentar uma das mais delicadas conjunturas económicas e financeiras das últimas décadas, com os mercados a darem sinais de alarme sobre a sustentabilidade da dívida pública do país. Pela primeira vez desde 2005, os títulos franceses a cinco anos passaram a oferecer um rendimento superior aos equivalentes italianos — uma inversão histórica que levou analistas a falarem numa “ultrapassagem da vergonha”.
O agravamento do risco fiscal francês é impulsionado por um défice público elevado (5,8% do PIB em 2024) e perspetivas de crescimento económico limitadas. O cenário político instável, com um governo minoritário liderado por François Bayrou e sem maioria parlamentar, dificulta ainda mais a implementação de reformas e medidas de contenção orçamental.
Segundo cálculos do BNP Paribas, os encargos com juros da dívida francesa deverão aumentar cerca de 0,4 pontos percentuais do PIB já em 2026, atingindo níveis recorde nos anos seguintes, revela o ‘elEconomisa’. Projeções apontam para uma subida da dívida pública dos atuais 116% para 146% do PIB até 2035, aproximando-se dos níveis italianos — atualmente em 135% do PIB, mas em trajetória de estabilização.
Christoph Rieger, analista do Commerzbank, considera que será “apenas uma questão de tempo” até os títulos franceses a 10 anos igualarem os italianos em termos de rendimento, refletindo o crescente receio dos investidores.
O presidente do Tribunal de Contas francês, Pierre Moscovici, critica a inércia das autoridades: “Enquanto países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália aproveitaram a inflação para reduzir os seus rácios de dívida, a França está a ficar para trás”.
Além do peso dos juros, as despesas com defesa — que deverão atingir 3,5% do PIB até 2035 segundo os compromissos da NATO — também ameaçam agravar ainda mais as contas públicas. A Capital Economics estima que, financiadas exclusivamente por dívida, essas despesas podem aumentar o rácio de endividamento francês em mais de 10% do PIB na próxima década.
O crescimento económico estagnado e a deterioração do mercado laboral agravam o panorama. Em 2024, 10,5% das empresas francesas estavam em dificuldades financeiras, face a 8,1% no ano anterior, segundo a consultora Alvarez & Marsal.














