2025 tem sido um ano repleto de acontecimentos inesperados na economia global. Entre os principais, destaca-se a surpreendente trajetória dos mercados financeiros norte-americanos, inicialmente abalados pelas tarifas anunciadas no “Dia da Libertação”, mas que recuperaram rapidamente após um recuo inesperado por parte da Administração dos EUA.
Sean Shepley, Economista Sénior da Allianz Global Investors (AllianzGI), considera que ainda mais surpreendente tem sido o comportamento da inflação. Apesar das expectativas de que os aumentos das tarifas resultariam numa pressão inflacionista imediata, os dados mais recentes mostram exatamente o oposto. Nos últimos três meses, o núcleo da inflação registou a subida mais baixa desde o início da escalada dos preços no pós-pandemia.
Embora episódios semelhantes de descida da inflação nos últimos dois anos tenham sido temporários, esta nova tendência contraria as previsões dos analistas, sobretudo num contexto de aumento de tarifas. Inquéritos realizados a empresas indicavam que os custos acrescidos seriam, inevitavelmente, transferidos para os consumidores — alguns previam mesmo repassar a totalidade do impacto. Nenhum cenário previa que esse aumento fosse simplesmente absorvido sem repercussões.
Como explicar esta tendência aparentemente paradoxal?
De acordo com o economista, há vários fatores a considerar. Em primeiro lugar, nem todos os produtos sujeitos a tarifas são vendidos diretamente ao consumidor final, o que dilui o impacto nos índices de preços ao consumidor.
Em segundo, os preços da energia — impulsionados por decisões da OPEP que levaram ao aumento da produção — recuaram nos últimos meses, ajudando a compensar o efeito inflacionista das tarifas.
Outro elemento importante tem sido a pressão política sobre os retalhistas para que evitem aumentos imediatos nos preços, especialmente após o anúncio das novas medidas comerciais.
Por fim, muitas empresas anteciparam-se às tarifas, reforçando os seus stocks nos últimos meses de 2024 e início de 2025. Estes bens, comprados antes da entrada em vigor dos novos impostos, permitem agora manter os preços estáveis, pelo menos enquanto durar o inventário.
Impacto nos mercados e perspetivas futuras
A desaceleração inesperada da inflação tem sido um fator determinante para a recuperação dos ativos financeiros desde abril, alimentando o otimismo dos investidores quanto a possíveis cortes nas taxas de juro por parte da Reserva Federal ainda este ano — apesar do discurso cauteloso mantido pelo banco central norte-americano.
A evolução da inflação nos EUA nas próximas semanas poderá continuar a influenciar fortemente os mercados. Caso o impacto das tarifas se mantenha adiado, cresce a probabilidade de o Fed considerar que o risco de uma inflação persistente é reduzido.














