Filha “secreta” de Putin causa polémica ao trabalhar em galerias pró-ucranianas em Paris

A comunidade russa exilada em Paris vive dias de intensa polémica após ter sido revelado que Luiza Rozova, alegada filha ‘secreta’ do presidente russo Vladimir Putin, trabalha em galerias de arte dedicadas a promover obras de artistas russos e ucranianos críticos do Kremlin e da invasão da Ucrânia.

Pedro Gonçalves
Junho 16, 2025
17:49

A comunidade russa exilada em Paris vive dias de intensa polémica após ter sido revelado que Luiza Rozova, alegada filha ‘secreta’ do presidente russo Vladimir Putin, trabalha em galerias de arte dedicadas a promover obras de artistas russos e ucranianos críticos do Kremlin e da invasão da Ucrânia. A informação foi inicialmente avançada pela escritora e artista russa Nastya Rodionova, ela própria exilada em França, e tem gerado um aceso debate sobre os limites éticos da presença de Rozova num espaço assumidamente oposto ao regime do seu suposto pai.

Foi no passado dia 4 de junho que Nastya Rodionova, através de uma publicação nas redes sociais, identificou Luiza Rozova, de 22 anos, como funcionária de várias dessas galerias. Segundo a artista, apenas depois de se cruzar repetidas vezes com Rozova em eventos artísticos em Paris se apercebeu da verdadeira identidade da jovem. Rozova é filha de Svetlana Krivonogikh, mulher apontada por várias investigações jornalísticas como antiga companheira de Vladimir Putin. As informações sobre esta relação e sobre a paternidade de Rozova foram divulgadas em reportagens de órgãos como o Proekt, meio de comunicação russo dedicado ao jornalismo de investigação.

A publicação de Rodionova rapidamente se tornou viral e acabou por dividir a comunidade russa residente em Paris. Alguns exilados saíram em defesa de Rozova, argumentando que não se deve responsabilizar um indivíduo pelos atos dos seus progenitores. Outros, pelo contrário, consideraram inaceitável que alguém do círculo íntimo do presidente russo trabalhe precisamente em locais dedicados a dar voz a artistas perseguidos pelo regime de Moscovo.

Rodionova, citada pelo Kyiv Independent, reforçou que a presença de Rozova nas galerias representa um risco e um dilema ético. “Estamos a falar de artistas que fugiram ao regime. Muitos estão em perigo. Confiaram os seus dados pessoais ao pessoal da galeria sem imaginar quem ali trabalhava. Quando souberam, sentiram-se profundamente afetados”, sublinhou a artista.

Até ao momento, Rozova não fez qualquer comentário público sobre a polémica. O Kyiv Independent tentou obter uma reação da jovem através das galerias onde trabalha. A administração confirmou ter transmitido o pedido, mas indicou que Rozova responderia apenas se assim o desejasse.

A situação ocorre num momento particularmente delicado para a comunidade russa no exílio. Desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, milhares de russos, incluindo artistas, intelectuais e ativistas, procuraram refúgio na Europa, em fuga à repressão e à guerra. Paris tornou-se um dos principais centros deste exílio cultural e político, acolhendo diversas iniciativas que denunciam tanto a agressão militar como a censura e perseguição internas promovidas pelo Kremlin.

Nesse contexto, a presença da alegada filha de Putin em galerias assumidamente anti-guerra é vista por muitos como uma afronta. Para alguns, há ainda uma preocupação adicional: a de que informações sensíveis sobre os exilados possam chegar, inadvertidamente, aos serviços de inteligência russos.

Luiza Rozova, também conhecida como Elizaveta Krivonogikh, sempre esteve envolta em especulação mediática, sobretudo depois das referidas investigações do Proekt. O Kremlin nunca confirmou nem desmentiu o seu eventual laço de sangue com Vladimir Putin. Ao contrário de outras figuras próximas do presidente russo, Rozova tem mantido uma vida discreta, afastada da ribalta e dos círculos do poder em Moscovo.

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