Agências de rating Fitch e Moody’s defendem Governo da AD com apoio do PS (e sem Chega)

Fitch e Moody’s manifestam preferência por um cenário de estabilidade política com exclusão do Chega, elogiando políticas orçamentais prudentes e trajetória descendente da dívida pública portuguesa.

Revista de Imprensa
Maio 28, 2025
8:54

As agências de notação financeira Fitch e Moody’s manifestaram esta terça-feira uma clara preferência pela manutenção do modelo político que tem garantido estabilidade económica a Portugal: um governo minoritário da Aliança Democrática (PSD-CDS) com o apoio implícito do Partido Socialista (PS). Esta posição, divulgada em análises enviadas aos investidores, e citadas pelo Diário de Notícias, valoriza o consenso em torno de políticas orçamentais prudentes e a exclusão do Chega de qualquer solução governativa.

Num comentário assinado pelos economistas Federico Salazar, Mark Brown e Utku Geyikci, a Fitch recorda que “as anteriores eleições, em março de 2024, conduziram a um governo minoritário da AD que teve o apoio implícito do PS” e considera que “um acordo semelhante parece ser o resultado mais provável após a votação de domingo, especialmente porque a AD excluiu a possibilidade de formar uma coligação com o Chega”. A agência alerta que o envolvimento do partido de extrema-direita poderia intensificar pressões políticas para o aumento da despesa pública, comprometendo a atual trajetória de consolidação orçamental.

Também a Moody’s considera essencial a manutenção de pontes entre o governo liderado por Luís Montenegro e o PS. Num comentário recente, a agência afirma que “a AD vai continuar a precisar do apoio do PS para aprovar legislação”, o que permitirá “implementar o Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal (PRR), bem como uma política orçamental prudente com o objetivo de reduzir a dívida pública”. A Moody’s vê neste cenário a garantia de continuidade da disciplina orçamental que tem sustentado a melhoria da notação da dívida soberana portuguesa nos mercados internacionais.

A Fitch sublinha que “a ascensão do partido anti-imigração Chega, que pode tornar-se no segundo maior do Parlamento quando os votos do estrangeiro forem contados”, poderá reforçar essas pressões orçamentais, sobretudo tendo em conta o calendário eleitoral nacional. “As eleições autárquicas estão previstas para o final de setembro ou início de outubro deste ano e as próximas presidenciais estão agendadas para janeiro de 2026”, nota a agência, que alerta para o risco de instabilidade política num ciclo com múltiplos momentos eleitorais.

Desde o fim do programa de ajustamento da troika, Portugal tem conseguido subir progressivamente nas classificações das agências de rating. A Fitch retirou o país do chamado “lixo” financeiro em 2018, ao elevar a notação para BBB. Em 2022 e 2023, as sucessivas subidas culminaram na passagem da dívida portuguesa para o patamar A — o melhor em décadas — o que reforçou a atratividade da dívida pública nacional junto dos investidores.

Apesar da instabilidade política frequente, a Fitch destaca que “essa volatilidade não impediu a melhoria do perfil do crédito soberano de Portugal”, graças ao “consenso entre os principais partidos políticos a favor das políticas orçamentais prudentes”. A agência considera que este modelo de compromisso entre AD e PS permitiu manter uma trajetória de redução sustentada da dívida pública.

Por seu lado, a Standard & Poor’s também assume uma posição cautelosamente positiva, projetando que “Portugal vai manter um excedente orçamental das administrações públicas em 2025 pelo terceiro ano consecutivo”, embora sem especificar qual a configuração partidária que poderá garantir esse resultado. Já a Morningstar DBRS é menos taxativa na exclusão do Chega, admitindo que “o novo governo minoritário liderado pela AD pode cair se perder uma nova moção de censura” e reconhecendo que poderá vir a necessitar do apoio parlamentar do PS ou do Chega, embora também considere viável o apoio da Iniciativa Liberal em moldes ainda por definir.

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