A mudança dos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia, assim como as suas alianças estratégicas, materializaram-se esta segunda-feira no grande cenário das relações internacionais: a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Os EUA votaram com a Rússia e um punhado de países na órbita de Moscovo e China nas resoluções para tentar promover um processo de paz para o conflito na Europa de Leste, no dia do terceiro aniversário da invasão decretada por Vladimir Putin.
Depois de décadas de políticas de bloqueio e dos esforços de Washington para isolar a Rússia pela sua agressão à Ucrânia, a mudança americana foi visível nos ecrãs da Assembleia Geral da ONU: EUA e Rússia partilharam a mesma cor em várias votações, algo impensável há apenas algumas semanas – e votaram contra alguns dos seus aliados ocidentais, desde os países europeus ao Canadá e Japão.
Na Assembleia Geral foi apresentados dois textos a votação: um apresentado pela Ucrânia e os seus aliados europeus e outro introduzido pelos EUA. No primeiro, era mantida a posição defendida pela grande maioria da comunidade internacional desde a invasão russa: as exigências de uma paz duradoura, justa e de acordo com a Carta das Nações Unidas; a retirada imediata das tropas russas e o respeito pela soberania nacional e integridade territorial da Ucrânia.
Contrariamente ao que fez nos últimos três anos com dezenas de resoluções similares na ONU, os Estados Unidos de Donald Trump votaram contra, tal como a Bielorrússia, Nicarágua, Eritreia, República Centro-Africana. Juntou-se ainda Israel, grande aliado americano, e a Hungria, o único país europeu que votou contra. Apesar da situação, a resolução a favor da Ucrânia contra a agressão russa saiu vencedora, com 93 votos a favor, 18 contra e 65 abstenções.
Washington e Moscovo voltaram a alinhar-se quando foram votadas as emendas ao texto americano, apresentadas por França em nome dos aliados europeus – EUA e Rússia votaram contra. A delegação americana absteve-se na votação do seu próprio texto, o que não impediu que saísse à frente, com 93 votos a favor, oito contra e 73 abstenções.
As resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas não têm poder vinculativo, mas sim pelo político. E esta segunda-feira foi visto a rutura dos EUA com os seus aliados tradicionais e o desaparecimento das suas posições com a Rússia.
Nos dias anteriores à votação, a Administração Trump pressionou a Ucrânia a retirar a sua proposta de resolução, mas sem sucesso. Também não concordou com um texto comum com parceiros europeus. Como alternativa, apresentou o seu próprio texto, uma resolução muito breve, de apenas três parágrafos, nos quais qualquer menção à agressão da Rússia ou qualquer condenação da Rússia foi evitada e que apenas exigia um “fim rápido” da guerra e uma “paz durável” entre Ucrânia e Rússia.














