Kremlin arrecadou mais de 3 mil milhões de euros em impostos a empresas da UE em 2023, revela relatório
O Kremlin arrecadou cerca de 3 mil milhões de euros em impostos de empresas da União Europeia que continuam, ou continuaram, a operar na Rússia após a invasão em grande escala da Ucrânia. A informação foi revelada num relatório publicado esta segunda-feira pelas organizações não-governamentais B4Ukraine e Squeezing Putin, em parceria com o Instituto de Economia de Kiev (KSEI).
As empresas estrangeiras na Rússia têm sido um contributo significativo para o cofre de guerra do Kremlin, ao manterem as suas operações e continuarem a vender produtos não sancionados, como alimentos, tabaco e vestuário. O valor total arrecadado com impostos dessas empresas sobe para 21,6 mil milhões de dólares (cerca de 21,2 mil milhões de euros) em 2023, quando se inclui o lucro das empresas provenientes de países que apoiam a Ucrânia ou que são aliados da Rússia na sua guerra de agressão.
Philip Morris: Maior Contribuinte Estrangeiro
A gigante do tabaco Philip Morris foi a maior geradora de receitas para o Kremlin, com a produtora de Marlboro a arrecadar quase 7 mil milhões de dólares (aproximadamente 6,5 mil milhões de euros) em 2023. A empresa pagou 208 milhões de euros em impostos, um aumento em relação aos 144 milhões de euros do ano anterior. O Politico procurou obter um comentário da Philip Morris sobre as suas operações na Rússia, mas não obteve resposta imediata.
Apesar de muitas empresas ocidentais estarem a abandonar a Rússia ou já terem saído desde o início da invasão em 2022, várias centenas de empresas continuaram a operar no país. No final do ano passado, a Lufthansa Technik e a Carlsberg foram algumas das empresas que decidiram deixar o mercado russo.
Empresas da UE e G7 Mantêm Presença na Rússia
De acordo com o estudo realizado, foram analisadas 1.600 empresas, das quais mais de 900 pertencem a países do G7, todos apoiantes da Ucrânia em termos políticos, financeiros e militares. “As 930 empresas dos países do G7 e da União Europeia foram as principais contribuintes de impostos sobre lucros na Rússia, com 16 das 20 maiores empresas a virem dessas nações”, refere o relatório.
Focando-se na União Europeia, o estudo revela que 827 empresas da região mantiveram a sua atividade na Rússia. Juntas, geraram receitas de 81,4 mil milhões de dólares (cerca de 79 mil milhões de euros), uma redução em relação aos 111,4 mil milhões de dólares (aproximadamente 105,8 mil milhões de euros) em 2022, mas os impostos pagos sobre lucros mantiveram-se estáveis nos 3 mil milhões de euros.
Exposição da Família Mulliez e Empresas Alimentícias
A família Mulliez, dona de empresas de retalho como Leroy Merlin e Auchan, também continua fortemente exposta à Rússia. As suas duas marcas ocuparam o terceiro e o sétimo lugar, respetivamente, entre as empresas com maiores receitas originárias da Rússia em 2023.
Um porta-voz da Leroy Merlin afirmou que, a partir de finais de 2023, a empresa-mãe ADEO transferiu a propriedade da sua filial russa para a gestão local. Por outro lado, a Auchan não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
Além das empresas de retalho, o relatório indica que outros grandes grupos alimentares como Nestlé, Mars e Pepsi, bem como retalhistas alemães como Metro e Globus, também se mantiveram no mercado russo. Empresas chinesas, como a Haval e a sua dona Great Wall Motors, a Chery, Geely (dona da Volvo), a FAW e a Changan, também figuram entre as maiores contribuintes.
A Rússia anunciou que o imposto sobre lucros corporativos será aumentado este ano de 20% para 25%, o que poderá resultar num aumento da contribuição de empresas ocidentais para os cofres do Kremlin.
Este relatório coloca em evidência o papel das empresas estrangeiras no financiamento indireto da guerra da Rússia na Ucrânia, apesar das sanções económicas impostas pela comunidade internacional e das pressões para que as empresas ocidentais cessem as suas operações no país.