Empresa que lê os dados da íris em troca de criptomoedas prepara regresso em 2025 após controvérsias com proteção de dados

A World, anteriormente conhecida como Worldcoin, empresa fundada por Sam Altman, criador do ChatGPT, está a planear retomar as operações em Espanha em 2025. A empresa, que gerou polémica ao utilizar dispositivos para ler os dados da íris em troca de criptomoedas, enfrentou acusações de violação da privacidade e recolha de dados pessoais de menores, incluindo Portugal.

A informação avançada pelo ‘elEconomista’ dá assim conta de um retorno deste projeto no próximo ano, tendo Damien Kieran, explicado que foram implementadas mudanças que incluem a anonimização dos dados recolhidos. “Agora, tiramos fotos da íris, geramos um código único para cada utilizador, criptografamos e eliminamos qualquer dado pessoal”, afirmou Kieran, que assumiu o cargo um ano após o início das operações na Espanha.

Recorde-se que, no passado dia 26 de março a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) decidiu suspender, por 90 dias, o scan da iris realizada pela Worldcoin Foundation, para salvaguardar o direito à proteção de dados pessoais.

Em Portugal, a empresa admitiu retomar a atividade num futuro próximo, mas ainda sem informações concretas.

A recolha de imagens digitais da íris em troca de uma compensação em criptomoedas (uma moeda virtual usada na internet) começou em 2023. Após o lançamento global, a autoridade de proteção de dados pessoais no estado alemão da Baviera (BayLDA), a autoridade líder competente responsável pela supervisão da conformidade com Worldcoin, abriu uma investigação cujos resultados ainda não foram publicados.

Em Portugal, a CNPD, seguindo a decisão da congénere espanhola, deliberou em 25 de março suspender por 90 dias a scan da íris, prazo já terminado, justificando esta decisão com denúncias sobre as condições de recolha dos dados, incluindo de menores, deficiências na informação prestada aos titulares e impossibilidade de apagar os dados ou revogar o consentimento.

A adoção da medida provisória urgente surgiu na sequência de “largas dezenas de participações” recebidas na CNPD, dando conta do scan da iris de menores de idade sem a autorização dos pais ou outros representantes legais, bem como de deficiências na informação prestada aos titulares, na impossibilidade de apagar os dados ou revogar o consentimento.

Em outubro, a empresa revelou uma série de atualizações destinadas a reforçar a proteção da privacidade, combater deepfakes e fraudes online, e escalar a verificação de humanidade a nível global. As novidades foram apresentadas pelos co-fundadores Alex Blania e Sam Altman durante o primeiro evento global exclusivo da empresa.

Embora a opção de ler a íris ainda esteja disponível, a empresa agora prioriza a verificação de identidade através de passaportes equipados com chip NFC, que contêm informações digitais, incluindo fotografias e impressões digitais.

Este novo sistema, denominado “World ID Credentials”, já está disponível em países como os EUA, Malásia e Reino Unido, mas ainda não está confirmado em Portugal.

A World aspira a criar um sistema de identificação universal que distinga humanos de bots e inteligências artificiais, com o objetivo de erradicar a possibilidade de fraudes online através de ferramentas de deepfake. Para tal, a empresa apresentou um novo scanner de íris, que promete ser mais rápido e facilitar a sua expansão a novos mercados, incluindo a América Latina.