Roma, Barcelona e Atenas são algumas das principais cidades europeias fartas de turistas: embora a pandemia da Covid-19 tenha proporcionado um alívio bem-vindo para muitos moradores locais das hordas de viajantes que chegavam de avião, o regresso dos turistas problemáticos tem irritado cada vez mais os habitantes locais.
Em várias cidades de Espanha, Itália, Portugal e Grécia, moradores e ativistas têm saído às ruas em protesto, para ‘recomendar’ aos visitantes turbulentos para irem para casa. De acordo com os manifestantes, o excesso de turismo tem aumentado os preços das moradias, acelera a gentrificação e torna os já restritos abastecimentos de água ainda mais escassos – em centros urbanos atingidos pela seca, como Barcelona os turistas consomem consideravelmente mais água do que o residente médio. Na árida Sicília, várias cidades começaram a rejeitar turistas devido à escassez de água.
Os Governos estão pouco inclinados a implementar medidas duráveis: para muitos países da UE, especialmente os do sul da Europa, o turismo é um pilar fundamental da economia: 11,3% para a Croácia, e entre 6 e 8% para Portugal, Grécia, Espanha e Itália, de acordo com uma análise da Allianz.
Em parte devido ao turismo, Espanha, Portugal e Grécia — há muito tempo os retardatários entre as grandes economias da Europa — superaram o resto da UE em 2023. Enquanto o PIB em todo o bloco cresceu 0,5%, as economias de Portugal, Grécia e Espanha registaram taxas acima de 2%.
“O que estamos a ver nos media é o que começámos a ver antes mesmo da pandemia da Covid-19”, salientou Sandra Carvão, diretora de inteligência de mercado, políticas e competitividade da agência de turismo das Nações Unidas ao jornal ‘POLITICO’. “Já naquela época víamos um movimento e protestos contra o turismo nos destinos. Vemos agora a regressar.”
No final de julho último, cerca de 20 mil ativistas anti-turismo reuniram-se em Palma de Maiorca, exigindo uma mudança num modelo de turismo que estará a prejudicar as Ilhas Baleares, cujas três principais ilhas são Maiorca, Menorca e Ibiza.
Em 2023, o número total de turistas nas ilhas aumentou para 14,4 milhões — uma quantidade impressionante para as ilhas que têm uma população total anual de cerca de 1,2 milhões de residentes.
Em Barcelona, ativistas borrifaram visitantes estrangeiros com pistolas de água num protesto de menor escala. O ministro do turismo da Espanha condenou a ação, dizendo que não representavam a cultura de hospitalidade do país. Em ruas e espaços públicos por toda a Espanha, há autocolantes e graffitis com referências aos “guiris”, um termo coloquial depreciativo para os turistas que têm problemas em respeitar as leis e a cultura locais.
Protestos anti-turismo semelhantes aconteceram neste verão em cidades por toda a Espanha, incluindo Madrid, Málaga, Granada e Alicante. Fora da Espanha, pontos turísticos como Portugal, Itália e Grécia têm vivenciado protestos de vários graus.
As cidades têm combatido o turismo excessivo com multas, taxas e proibições — com graus variados de sucesso. Algumas implementaram regras menores para desencorajar turistas: nada de selfies em áreas da cidade italiana de Portofino, nada de sentar na Escadaria Espanhola em Roma, nada de grandes navios de cruzeiro em Dubrovnik, na Croácia, ou em Santorini, na Grécia, e nada de chinelos em Cinque Terre.
Algumas apostam mais alto: o autarca de Barcelona anunciou em junho que a cidade vai fechar os arrendamentos de apartamentos de curto prazo para turistas até 2028. Na última década, as Ilhas Canárias, juntamente com as cidades de Berlim e Lisboa, aprovaram medidas semelhantes.
Segundo Carvão, uma estratégia de turismo bem-sucedida precisa focar no equilíbrio entre impacto económico, social e ambiental e levar em conta o nível de procura, bem como a capacidade de carga do destino (em termos de tamanho da cidade, infraestrutura ou recursos), citando Amesterdão como um exemplo de uma cidade no bom caminho para controlar o turismo
A cidade, que ganhou a reputação de capital das festas da Europa, proibiu fumar marijuana no seu ‘Red Light District’, e lançou uma campanha de afastamento que visou britânicos jovens e desordeiros que só visitam para festejar. Mais recentemente, também anunciou a proibição da construção de novos hotéis.














