Membro original dos Anonymous conta os segredos do grupo de hackers internacional

O grupo de hackers Anonymous foi protagonista de alguns dos mais espetaculares golpes cibernéticos. Mas, quem são, o que fazem e o que pretendem? Um membro original do grupo hacktivista internacional revelou o segredo do grupo pela primeira vez num documentário recém-lançado – Gregg Housh descreveu a ascensão da organização de uma sala de chat online de trolling a um grupo de vigilantes que expõe neonazis e ataca a Igreja da Cientologia.

O que começou como um pequeno grupo de trolling online de apenas 10 pessoas nos EUA cresceu para uma organização internacional de milhares de membros, alguns dos quais estão “agora em posições de poder”, desde representantes estatais a conselheiros governamentais, em particular nos Estados Unidos.

O Anonymous são famosos pelas suas máscaras e secretismo ao realizar ataques de alto perfil, muitas vezes motivados por questões sociais ou políticas. “Dado o quão secreto tem sido o movimento historicamente, a nossa equipa de documentários ficou chocada com o quanto Gregg foi um livro aberto” para o documentário, salientou o produtor Joshua Tanner Murphy, em declarações ao tabloide britânico ‘Daily Mail’.

Segundo Housh, o grupo começou numa sala de chat online na sua cave em 2006 e pretendia que fosse utilizado exclusivamente como um fórum de tecnologia online, onde todas as pessoas deveriam ser anónimas. Durante cerca de um ano, foram apenas utilizadores a trollar uns aos outros, anos antes de o trolling se tornar popular, até que se depararam com alguém que acreditavam merecer ser ameaçado – Hal Turner.

Turner era um apresentador de rádio neonazi que uma vez segurou uma corda de um enforcado numa entrevista à ‘CNN’, garantindo: “Este é um símbolo de justiça e vocês vão ver muito mais disto nos Estados Unidos.” Dito e feito: um membro dos Anonymous invadiu a sua caixa de email e descobriu que Turner era um informador do FBI e dedicava-se a entregar outros neonazis para se manter fora da prisão.

O golpe trouxe fama aos Anonymous, o que fez mais pessoas juntarem-se à causa. “Não se sentiam mal por se juntarem porque estavam a perseguir uma pessoa má”, salientou Housh. Em junho de 2009, Turner foi condenado a 33 meses de prisão por ameaçar agredir e assassinar três juízes federais por causa de uma decisão sobre porte de arma.

Os Anonymous viveram os seus primeiros anos a tentar “descobrir o poder que tinha, a mesma coisa pela qual passa um adolescente na sua vida”, o que levou o cibergrupo a encontrar o seu caminho para o hacktivismo, utilizando as suas técnicas de hacking para apoiar uma causa ou fazer uma declaração.

A primeira grande transição da organização para o hacktivismo ocorreu na sua guerra contra a religião Cientologia, depois de ter sido publicado, em 2008, um vídeo de Tom Cruise a promover o grupo. O vídeo foi rapidamente removido, mas os Anonymous encontraram o vídeo e voltaram a publicá-lo online.

Um utilizador, com o nome ‘Dojo’, comentou no site dos Anonymous que a republicação do vídeo estava a custar muito dinheiro à igreja e que os media queriam noticiar o assunto. “Depois pediram-nos para escrever um comunicado de imprensa”, frisou Housh. Os Anonymous fizeram uma mensagem de vídeo para a Cientologia que foi transmitida no dia 21 de janeiro de 2009 às 22h20 – antes que Housh desse conta, o vídeo foi divulgado nos noticiários e os Anonymous passaram de algumas centenas de utilizadores para 10 mil em 42 países e em 143 cidades.

De repente, Housh lembrou-se de ter pensado: “Temos um exército. O que fazemos com ele?” Foi quando viu Tory Magoo, um antigo membro da Cientologia que se tornou crítico, a dançar e a cantar diante de um edifício da igreja. Voltou a publicar o vídeo no site dos Anonymous, escrevendo: “É assim que seria se todos saíssem.”

O seu comentário desencadeou um protesto global enquanto milhares de Anons (membros Anonymous) planeavam estar diante dos edifícios da Cientologia em todo o mundo às 9 horas (hora local).

Housh ligou para lojas de fantasia para encontrar a máscara mais barata que as pessoas de todo o mundo pudessem comprar para proteger o seu anonimato e descobriu que todos tinham uma em comum – Guy Fawkes do filme “Fifth of November”.

Dessa forma, milhares de pessoas apareceram mascaradas para protestar à porta dos edifícios da Cientologia e impedir a organização de recrutar membros. Eventualmente, os edifícios da igreja foram forçados a encerrar.

Gregg Housh lembrou ainda o caso de um australiano, que um ano volvido, entrou no chat dos Anonymous a pedir ajuda da organização contra o Senado local, que planeava a aprovação de um lei de censura para tornar a pornografia ilegal, sob a premissa de que mulheres com seios pequenos fariam com que os homens se tornassem pedófilos.

Em poucas horas, Housh recebeu uma chamada de um senador não identificado a perguntar o que precisavam de fazer para impedir os Anonymous de divulgar os seus e-mails: bastava o projeto não ser aprovado. No dia seguinte, a votação foi negativa e Housh recebeu uma chamada do senador a agradecer por não ter divulgado os e-mails.

Mas foi apenas quando Aaron Barr, que trabalhava para a ‘HB Gary Federal’, afirmou ter uma lista de nomes de utilizadores anónimos com nomes e números de telefone anexados aos líderes do grupo de hackers que a organização realmente arrancou.

A ‘HB Gary’ é uma empresa de segurança informática com contratos de defesa cibernética do Governo americano: quando os hackers dos Anonymous acederam ao sistema, perceberam que os nomes não eram de membros, mas sim dados de pessoas inocentes que nunca fizeram parte do grupo.

“Este foi realmente o grande começo do hacktivismo total”, sustentou Housh. “Estão nas câmaras estaduais como representantes estaduais e conselheiros no Congresso, alguns até concorrem a lugares no Congresso. Estão em posições de poder nas corporações. Há jornalistas por todo o lado. Então a resposta a ‘quem é anónimo hoje’ é qualquer pessoa que diga que é. Estamos literalmente em todo o lado”, concluiu Housh.

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