China acusada de tentar comprar um país estratégico com…1,5 milhões de garrafas de água

A China está a ser acusada de tentar ‘comprar’ as Maldivas, depois de ter feito uma ‘generosa’ doação de 1500 toneladas de água potável engarrafada, vinda do Tibete, às Maldivas. Críticos e analistas internacionais questionam as motivações de Pequim no gesto de apoio.

A Public Service Media, a estação televisiva estatal das Maldivas, anunciou na semana passada que a “Região Autónoma do Xizang da China estendeu uma generosa doação de 1500 toneladas de água [sensivelmente 1,5 milhões de garrafas de água) de um litro potável às Maldivas, com o objetivo de aliviar as escassezes de água nas ilhas”.

Logo após o anúncio, que não foi feito por nenhum rosto governamental, alguns utilizadores das redes sociais das manifestaram dúvidas, sugerindo que a doação de água poderia ser destinada ao uso pessoal do Presidente das Maldivas, Mohamed Muizzu. “Não foi anunciado oficialmente porque Muizzu queria usar isto em Muleeaage [a residência oficial do presidente das Maldivas]”, comentou um utilizador local numa plataforma semelhante ao Twitter.

Quando abordada pela Newsweek para esclarecimentos, a Embaixada Chinesa em Washington, D.C. não disse estar ao corrente “dos detalhes2 referidos, e recusou comentar o caso.

À medida que a história foi ganhando tração, o Ministério dos Negócios Estrangeiros das Maldivas permaneceu em silêncio, não fornecendo comentários sobre o assunto.

O Presidente Muizzu, que assumiu o cargo no ano passado, tem-se aproximado cada vez mais da China, afastando as Maldivas dos seus laços tradicionalmente fortes com a Índia. Esta mudança estratégica chamou a atenção dos EUA, que têm monitorizado a crescente influência de Pequim nas Maldivas, uma nação estrategicamente posicionada na encruzilhada das vitais vias navegáveis do Oceano Índico que ligam ao Médio Oriente e África.

Contrariamente às especulações em circulação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros das Maldivas negou qualquer ligação pessoal entre a doação e o Presidente Muizzu. A AFP noticiou em 29 de março que o ministério esclareceu que a água potável foi doada por Yan Jinhai, o presidente da Região Autónoma do Tibete, enfatizando que não se tratou de um presente pessoal ao Presidente das Maldivas.

Yan Jinhai, um alto político chinês responsável pelo Tibete, visitou a capital das Maldivas, Malé, em novembro de 2023, com o objetivo de fortalecer as relações bilaterais, conforme confirmado pelo Gabinete do Presidente das Maldivas no ano passado.

Destacando a origem da água engarrafada doada, a Public Service Media, estação televisiva estatal das Maldivas, noticiou: “Produzida nas montanhas intocadas da Região Autónoma do Xizang, a doação de água engarrafada representa um gesto de solidariedade e apoio da China às Maldivas em tempos de necessidade.”

Reconhecendo a importância geopolítica das Maldivas, os EUA inauguraram a sua primeira embaixada no país em 2023. Donald Lu, Secretário de Estado Adjunto dos EUA para o Sul e Central da Ásia, sublinhou a importância das Maldivas na região do Indo-Pacífico, afirmando à Press Trust of India em fevereiro: “Os Estados Unidos estão comprometidos em reforçar a cooperação com as Maldivas, um parceiro chave na garantia de uma região do Indo-Pacífico livre, aberta, segura e próspera.”

As Maldivas, que enfrentam uma escassez de água doce agravada pelas alterações climáticas e pela subida dos níveis do mar, necessitam urgentemente de soluções hídricas sustentáveis. Abdulla Naseer, ex-Ministro das Maldivas para o Ambiente, Alterações Climáticas e Tecnologia, realçou as vulnerabilidades do país durante um discurso nas Nações Unidas em março de 2023. “Os únicos recursos hídricos naturais disponíveis são a chuva e as águas subterrâneas, ambos altamente vulneráveis às alterações climáticas”, alertou na altura.

Na tentativa de abordar as persistentes escassezes de água potável, a China já tinha anteriormente doado cinco sistemas de dessalinização de água do mar às Maldivas, conforme noticiado pelo jornal estatal chinês China Daily, em meados de março deste ano

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