Quatro bebés por nascer obrigados a levar transfusões devido a surto de parvovírus B19 em Portugal
Portugal atravessa um surto de parvovírus B19, que já obrigou a Maternidade Alfredo da Costa a fazer quatro transfusões intrauterinas por causa de anemias nos bebés, duas delas graves, refere esta sexta-feira a rádio ‘Renascença’: o vírus, que provoca uma condição conhecida por “doença da bofetada”, é inofensivo para adultos e crianças, mas é um risco durante a gravidez – podendo provocar abortos, malformações e anemias graves nos fetos.
O número crescente de infeções em dez países já motivou um alerta do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e Portugal não foge à regras: na maternidade lisboeta, além de várias complicações decorrentes do parvovírus, em 2024 já houve necessidade de duas transfusões intrauterinas devido a anemias graves em bebés, refere Luísa Martins, responsável pela consulta de diagnóstico pré-natal.
“Um dos efeitos é a anemia fetal, e até meados de junho já foram feitas quatro transfusões intrauterinas, das quais duas confirmadamente por infeção grave do feto com parvovírus B19”, refere, salientando que “este número de transfusões intrauterinas traduz-nos que há muito mais casos que já chegaram a uma fase grave”.
“Para além disso, temos tido casos de mortes fetais, abortos, umas malformações, que são as hidropsias, que depois vamos ver que estão associadas à infeção materna por parvovírus B19”, acrescenta a especialista responsável do único Centro de Responsabilidade Integrada de medicina e cirurgia fetal do país. Os casos são detetados por “história de contacto ou doença elas próprias, eritema, dores articulares, febre ou uma ecografia que revela que o feto já está afetado”. Quando os médicos investigam a causa, chegam “à conclusão que é parvovírus”.
Em cerca de 30% dos casos a infeção pelo parvovírus B19 passa da mãe para o bebé, com consequências diferentes em função do tempo de gravidez. “Se essa passagem for no início da gravidez ou na primeira metade há um risco de morte fetal, ou seja, é mais provável que aconteça um aborto espontâneo ou uma alteração a que nós chamamos hidropsia e que dê morte fetal”, relata Luísa Martins. Se acontecer no segundo semestre de gestação, “este vírus pode condicionar o que nós chamamos uma crise aplástica”, definida por uma paragem repentina da “formação de glóbulos vermelhos”, o que resulta numa “anemia grave nos fetos”.
Cerca de metade das mulheres portuguesas em idade fértil são imunes ao parvovírus: no entanto, detetar a infeção é essencial, pelo que é necessário avaliar através de ecografia a forma como afeta o bebé. “Se houver na família, ou o filho manifestar esta doença, o primeiro passo é orientar logo para o médico que segue a gravidez, que irá pedir uma análise à mãe para ver se ela é ou não imune. Se for, acabou, não se fala mais no caso”, conclui Luísa Martins.