Esforços do Irão para construir uma bomba nuclear ganham tração e vão acelerar se país for atacado, avisam autoridades

Após anos a manter um dos programas nucleares mais avançados do Médio Oriente e uma das forças militares convencionais mais poderosas, os decisores políticos e responsáveis iranianos estão a começar a reconsiderar a proibição oficial do país em desenvolver armas de destruição em massa, à luz das crescentes tensões e das condições de segurança deterioradas na região.

Pedro Gonçalves
Maio 16, 2024
12:12

Após anos a manter um dos programas nucleares mais avançados do Médio Oriente e uma das forças militares convencionais mais poderosas, os decisores políticos e responsáveis iranianos estão a começar a reconsiderar a proibição oficial do país em desenvolver armas de destruição em massa, à luz das crescentes tensões e das condições de segurança deterioradas na região.

A possibilidade de rever esta política, que tem sido veementemente contestada por Israel e pelos Estados Unidos, surge num contexto em que o Irão enfrenta uma série de desafios no cenário geopolítico, incluindo confrontos diretos com Israel e uma deterioração nas negociações internacionais sobre o seu programa nuclear.

Segundo Kamal Kharrazi, conselheiro sénior do Líder Supremo Ayatollah Ali Khamenei e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, “se a existência do Irão estiver ameaçada, teremos de mudar a nossa doutrina nuclear”. Esta declaração, feita à Newsweek, vem num momento em que Israel ameaça atacar as instalações nucleares iranianas, como alertou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Outras figuras influentes no Irão têm expressado opiniões semelhantes. O brigadeiro-general Ahmad Haghtalab, comandante do Corpo de Proteção e Segurança Nuclear dos Guardas Revolucionários Islâmicos (IRGC), afirmou que “uma revisão da doutrina nuclear e das políticas da República Islâmica e o fim das considerações anteriormente declaradas é possível e concebível.”

Estas declarações refletem uma mudança significativa no discurso oficial iraniano, que durante anos tem afirmado não estar a desenvolver armas nucleares. No entanto, especialistas alertam que esta mudança de retórica não pode ser ignorada, dada a atual conjuntura regional e internacional.

Histórico do Programa Nuclear Iraniano e Sanções Internacionais

O Irão tem sido alvo de escrutínio internacional devido ao seu programa nuclear, que remonta aos esforços apoiados pelos EUA na década de 1950 e continuou a expandir-se após a Revolução Islâmica de 1979. O país foi alvo de sanções internacionais, levando a uma série de negociações, incluindo o histórico acordo nuclear de 2015 conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JPOA).

No entanto, a saída dos Estados Unidos deste acordo em 2018 e a subsequente retomada das sanções levaram o Irão a acelerar o seu programa nuclear, levando a uma escalada de tensões com os países ocidentais.

Recentemente, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, alertou que o Irão estaria a apenas algumas semanas de construir uma arma nuclear se escolhesse fazê-lo. Esta declaração veio após uma série de eventos explosivos que incluíram ataques entre Israel e Irão, aumentando ainda mais a preocupação com a possibilidade de uma escalada nuclear na região.

A resposta oficial do Irão a estas preocupações tem sido a reiteração do compromisso com a ‘fatwa’ do Líder Supremo, que proíbe a produção, aquisição, armazenamento e uso de armas de destruição em massa. No entanto, o país alertou que qualquer ataque às suas instalações nucleares poderia levar a uma revisão desta política.

Com a escalada das tensões na região e a incerteza em torno do futuro do acordo nuclear, o mundo observa atentamente os próximos passos do Irão e as possíveis ramificações para a estabilidade global. Segundo Farzan Sabet, ex-investigador do Instituto de Pesquisa sobre Desarmamento da ONU, “é uma mudança discursiva séria num momento em que as tensões regionais estão bastante altas.”

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.