Materiais fotossintéticos: o Santo Graal do sequestro de carbono?
Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros
E lá colocará o leitor a questão: o que são materiais fotossintéticos? Bem, uma forma sucinta de o explicar é dizer que são os materiais naturais produzidos pelas plantas através da fotossíntese. Como a maioria saberá, a fotossíntese é um processo usado por plantas e outros organismos para converter energia luminosa em energia química que é usada para alimentar as atividades do organismo, entre as quais a formação dos tecidos constitutivos dessas plantas, que são sintetizados a partir do dióxido de carbono atmosférico e da água.
Essas plantas ou partes de plantas podem ser usadas por exemplo em produtos para fins de longa duração (por exemplo a madeira, cortiça ou mesmo bambu usados na construção, mas não só, mesmo o papel de um livro numa biblioteca), sequestrando durante essa vida o carbono retido da atmosfera e que podem ser reciclados no final, prolongando essa vida. No final dessa vida útil, estes produtos podem ainda ser utilizados na produção de energia, sendo o dióxido de carbono produzido por esta via equivalente ao sequestrado no material que fora retirado da atmosfera e, deste modo, aquilo que habitualmente se designa por “carbono neutros”.
Saliente-se que o tempo de residência do dióxido de carbono na atmosfera, depois de emitido, pode variar de dezenas a centenas de anos. Sendo que a forma mais realista, simples e globalmente impactante de o sequestrar se baseia precisamente na produção de madeira e afins. E a nível nacional, com um setor florestal de assinalável importância, esta forma de sequestro tem ainda mais importância. Além disso assenta em produção e tecnologia disponível, sem necessidade de outros investimentos.
Seria, por isso, interessante desenvolver uma nova abordagem metodológica relativamente ao carbono sequestrado em produtos que tenham na sua constituição materiais naturais fotossintéticos e que sejam de vida longa. Esta abordagem basear-se-ia numa caracterização inicial, quando da introdução do produto no mercado, do teor de carbono dos seus componentes que incorporam carbono “fotossintético” e respetiva conversão em dióxido de carbono equivalente sequestrado. Seria assim possível ter uma indicação do desempenho destes produtos, a este nível, permitindo ao consumidor final a comparação entre diferentes opções ou com produtos concorrentes.
Para a definição de um parâmetro capaz de adequadamente “comunicar” a quantificação do carbono sequestrado em produtos, através da informação técnica de um produto ou mesmo eventualmente por rotulagem, vários aspetos têm de ser tidos em conta: definir se o produto é ou não de vida longa; determinar se o produto tem na sua composição materiais “fotossintéticos”; quantificar a massa desses materiais no produto; quantificar o teor de carbono desses materiais; converter esse teor de carbono em CO2 equivalente; determinar a forma como comunicar esta informação sobre o produto.
Em resultado de uma quantificação desta natureza, o consumidor terá a oportunidade de “orientar” as suas preferências para os materiais naturais, provenientes de recursos renováveis e sustentáveis. Será ainda possível ter um indicador que permite avaliar o desempenho dos produtos a nível do sequestro de dióxido de carbono, permitindo comparar entre diferentes opções, à semelhança do que acontece, por exemplo, com o consumo energético dos eletrodomésticos. Por outro lado, este aspeto poderá conduzir os produtores desses produtos a incorporar cada vez mais materiais “fotossintéticos” nos produtos e respetivos portfólios, aumentando o seu perfil de sustentabilidade.
A implementação desta abordagem poderá contribuir para compras mais conscientes e ambientalmente adequadas, para uma economia mais sustentável e para a redução dos gases com efeito de estufa.
Existe já uma entidade nacional que está a estudar esta implementação, do ponto de vista técnico e prático relativamente à montagem de um sistema de fácil introdução e aceitação por possíveis interessados.