Rússia olha para o céu com receio: qual o interesse de Kiev em fazer ‘chover’ drones em Moscovo?

Drones voltaram a atingir o coração da Rússia: Moscovo foi atacado pela segunda vez em três dias

Francisco Laranjeira
Agosto 2, 2023
15:34

Os drones voltaram a atingir o coração da Rússia: Moscovo foi atacado pela segunda vez em três dias. O Kremlin não tem dúvidas de que a Ucrânia está por trás do ataque, apesar do Governo de Kiev não ter confirmado a responsabilidade. No entanto, Volodymyr Zelensky já afirmou que a guerra está a atingir a Rússia, os seus centros simbólicos e bases militares. “E este é um processo inevitável, natural e absolutamente justo.”

O Kremlin descreveu a ‘chuva de drones’ em Moscovo como um “ato terrorista”, a ponto de Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, ter comparado ao 11 de Setembro, nas Torres Gémeas em Nova Iorque.

A Ucrânia não negou que poderia estar por trás do ataque, embora essas ações militares colidam diretamente com a posição dos países ocidentais, que não querem ser vistos como apoiantes de uma ofensiva em território russo – diversos Governos aliados de Kiev não escondem que atacar a Rússia significaria cruzar uma linha vermelha que, para a Ucrânia, permanece ambígua. Andriy Yusov, porta-voz da inteligência militar ucraniana, referiu no entanto que Moscovo deveria preparar-se para um aumento da violência no seu território. “Até que os ocupantes deixem o território ucraniano, até que os criminosos sejam punidos, não há lugares seguros no Estado agressor.”

A escalada de violência preocupa o Ocidente. “O risco que eles veem é que tudo pode estar bem mas a linha vermelha foi ultrapassada e as coisas ficam fora de controlo muito rapidamente”, referiu Jennifer Kavanagh, investigadora do Carnegie Endowment for International Peace, citada pelo jornal espanhol ‘El Confidencial’: a escalada pode materializar-se com o uso de armas nucleares — uma das ameaças mais recorrentes de Vladimir Putin — ou maiores bombardeamentos sobre cidades ucranianas: também podem acontecer ataques cibernéticos contra os países da NATO.

Desde maio, caíram seis drones em Moscovo: se para Kiev eleva o moral do exército e da população ucraniana, acredita-se que também enviar uma mensagem ao povo russo de que a guerra está a tornar o país menos seguro e afetar a sua vida quotidiana.

Os alvos escolhidos para esses ataques também têm uma grande carga simbólica, porque o distrito financeiro de Moscovo foi posicionado como uma forma de representar a Rússia moderna. Os altos arranha-céus construídos na década de 1990 pretendiam integrar o país na economia global mas, após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, tornaram-se outro símbolo, desta vez do conflito entre o Kremlin e o Ocidente. Muitos dos escritórios ficaram vazios e tornaram-se sedes de órgãos governamentais, como o Ministério do Desenvolvimento Digital e o Ministério da Economia, que acabaram por ser atingidos pelos drones.

Há também uma estratégia militar por trás: forçar a Rússia a manter defesas aéreas em lugares como Moscovo em vez de deslocá-las na frente com a Ucrânia. “A melhor maneira de tentar desestabilizar a Rússia é criar problemas de prioridades para o alto comando russo, de modo que não saibam onde concentrar os seus esforços”, referiu Frederick B. Hodges, tenente-general reformado e ex-comandante do Exército dos EUA ao ‘The New York Times’.

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