O objetivo é audacioso: «Revolucionar o financiamento do tecido empresarial português», permitindo às empresas, sobretudo PME, o acesso ao financiamento num curto prazo de tempo. Tudo isso através de uma plataforma tecnológica. É esse o objetivo da Five Credit, um dos primeiros fundos de crédito registado em Portugal. O processo de análise dos financiamentos utiliza as mais recentes tecnologias, explica à Executive Digest, Mafalda Duarte, CEO da empresa.
Como surgiu a Five Credit?
Desde 2015 que o grupo LX Partners tem diversas áreas de investimento em Portugal. E foi durante o período da pandemia que começámos a pensar no que poderia ser uma forma diferente de apoio às empresas e como o poderíamos pôr em prática no pós-Covid. Isso coincidiu com a criação de um instrumento da Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM) para dinamizar o mercado de capitais. Assim, a sociedade gestora, a Circle Capital, que é regulada pela CMVM, teve um processo de aprovações do regulador para o lançamento do fundo de crédito. Isso fez com que demorasse algum tempo até podermos lançar o projeto, mas também nos deu margem para estabelecer a plataforma tecnologicamente. O fundo de crédito é, no fundo, a resposta que queremos dar para chegarmos às empresas de forma distinta.
E qual é essa forma?
Separando o instrumento legal do instrumento da plataforma, um fundo de crédito não é um banco, é um fundo privado, fechado, com investidores institucionais de capital privado. É este fundo de crédito que concede os financiamentos às empresas. Portanto, somos distintos de um banco pela sua natureza legal. Já do ponto de vista da empresa, ter um financiamento de um fundo de crédito ou de outro tipo de instituição é idêntico, há um capital em dívida e há juros para pagar. Mas de um ponto de vista da oferta, acaba por ser distinta por sermos uma plataforma 100% digital que permite a concessão do financiamento. Portanto, a empresa interessada em pedir um crédito entra na plataforma através do nosso site, pede o financiamento e todo o processo de candidatura é feito online. Há uma equipa de suporte que analisa e dá apoio aos clientes, quer seja por telefone, por email ou Teams. Não somos menos exigentes do que outras instituições porque é um processo sólido de avaliação das candidaturas e há uma série de informação administrativa que é pedida em várias fases, sejam dados da segurança social, da autoridade tributária ou do Banco de Portugal. Ou seja, há todo um processo sólido de recolha de informação.

Essa aposta na tecnologia traduz-se numa maior rapidez para as empresas obterem o seu financiamento?
O objetivo é, precisamente, ter uma ferramenta de simples acesso e de processo de decisão. Por isso, a plataforma foi pensada para ser simples para o utilizador, mas também do ponto de vista de automatização da recolha da informação e respetiva leitura da informação. Por isso, pedimos muita informação através de ferramentas tecnológicas, o que nos permite ter um processo de leitura da informação com maior rapidez. Dizemos às empresas que até para ouvir um “não” é importante ser rápido. Ao longo do processo temos filtros que nos permite ser rápidos a aprovar ou não o financiamento. Acreditamos que esse é o valor acrescentado da nossa plataforma.
Quantos dias pode demorar a aprovação?
Se a empresa tiver toda a informação organizada, atualizada e se for rápida na transmissão da mesma, temos capacidade de conceder o financiamento até cinco dias. Acreditamos que conceder um financiamento no espaço de uma a duas semanas é um fator diferenciador da oferta do que existe em Portugal.
Sendo um produto “novo” e tendo em conta a confiança e credibilidade exigida, como estão as empresas a reagir?
Há sempre um período de adaptação e por isso temos feito um esforço para apresentar o projeto e os nossos produtos. Temos uma parceria muito importante com a Associação Industrial Portuguesa (AIP) e temos feito um roadshow pelo País para nos apresentarmos de uma forma mais próxima. É muito importante explicar a legitimidade do produto e que é regulado pela CMVM. E também é importante, do nosso lado, um processo que garanta a legitimidade da informação. Indico exemplos: num determinado momento há a recolha da informação financeira e temos acesso ao histórico das empresas através das bases de dados públicas, contudo a informação mais recente não está disponível. Mas, para fazer a avaliação da melhor forma, precisamos de ter a informação financeira o mais recente possível. Nesse momento pedimos que seja envolvido o contabilista certificado da empresa para ser ele a fazer o upload dessa informação, assim garantimos que a pessoa responsável pela produção das contas é a própria a informar da veracidade da informação. É um instrumento importante porque mostra às empresas que há um processo com legitimidade forte na integridade dos dados. E depois tem de ser o responsável do RCBE (Registo Central do Beneficiário Efetivo), por exemplo, a fazer o upload dessa declaração. Temos algumas medidas importantes para garantir que o processo é legítimo e obviamente mitigar a fraude.
O vosso target são as PME. Nesse universo há algum setor preferencial?
Apesar dos dados indicarem que existem 1.4 milhões de PME, a verdade é que com contabilidade organizada são aproximadamente 500 mil. E destas, 85% a 88% são microempresas que faturam até dois milhões de euros e que têm uma estrutura pequena. São empresas que precisam de valores de financiamento relativamente baixos, na ordem dos 75 mil, 100 mil ou 300 mil euros. É nesse nível de montantes que acreditamos que está o valor acrescentado da nossa solução. Os nossos financiamentos vão até 500 mil euros, portanto, temos dimensão para as PME, que são o nosso core.
No futuro, podemos vir a ter outros produtos mais específicos para startups, mas neste momento não é elegível porque o processo de avaliação pressupõe ter alguns anos de informação financeira das empresas para avaliarmos e precisamos de ter, pelo menos, três anos de contas fechadas.
Como correu o primeiro semestre do ano? Quantos clientes já têm?
Está a correr bem e temos cada vez mais empresas com candidaturas para obterem financiamento. Acredito que o segundo semestre vai ser mais forte, já que o primeiro foi o de arranque do projeto. Sou muito prudente a revelar números, mas posso adiantar que já concedemos alguns financiamentos neste primeiro período.
Têm um montante específico para colocar no mercado por ano? Quanto vão disponibilizar durante 2025?
Temos esse raciocínio feito. Existe um valor de novos financiamentos disponíveis às PME e acreditamos que dentro de três a quatro anos podemos chegar aos 300 milhões de euros. É um volume possível de atingir em três a quatro anos.

E no que diz respeito às percentagens de juros, qual é o posicionamento da vossa oferta?
Do ponto de vista de pricing temos dois produtos disponíveis: um produto a cinco anos, com montantes até 500 mil euros, e outro produto de curto prazo. Um está estruturado com uma taxa de juros fixa e outro está estruturado com uma taxa de juros variável.
Mas o pricing da operação depende do risco da empresa. Acreditamos que o nosso preço está em linha com o mercado. Agora, é natural que para determinadas empresas o nosso preço possa parecer mais elevado e para outras não. Portanto, depende muito da empresa. Mas estamos em linha com o mercado.
Consideram-se concorrência à banca ou um complemento?
Somos uma oferta complementar à banca. O mercado europeu tem, atualmente, dezenas de soluções de players alternativos de financiamento. Inglaterra é tipicamente o país que está à frente com diversas plataformas, aliás, existe uma plataforma que é a Funding Circle, que tem uma oferta muito similar à nossa. França é igual, Itália também, e Espanha tem dezenas de fundos de crédito.
Ou seja, tem vindo a ser feito todo um desenvolvimento do mercado de capitais a nível europeu que permite às empresas terem várias opções de acesso a financiamento e de reforço da sua estrutura de capitais que não dependem só da banca. O nosso instrumento é inovador em Portugal, sim, mas caminha para uma estrutura de mercado onde existirão vários players. As empresas podem recorrer à banca e podem recorrer a uma plataforma que tem mais rapidez.
Portanto, a nossa oferta, como referi, é para uma faixa importante da economia portuguesa e que se calhar não é o core dos bancos. Por isso, acreditamos que somos uma oferta complementar.
Estas soluções de financiamento já existem noutros países europeus há cerca de uma década, no entanto só agora chegam a Portugal…
Não sei dizer se há uma razão específica para ter demorado, mas acho que tem a ver com as dinâmicas de mercado no desenvolvimento em trazer soluções novas e pelo facto da regulamentação desta atividade em Portugal ser relativamente.
E, até à data, qual tem sido a maior dificuldade na implementação do negócio no mercado português?
O principal desafio tem sido o trabalho de apresentação do que é um fundo de crédito às empresas. Podemos pensar na questão de ser uma plataforma digital, o que também pode ser um desafio, mas a verdade é que tem sido feito um grande esforço de digitalização por parte das empresas.
Por isso, achamos que o principal desafio é mesmo a apresentação do que é uma plataforma digital de financiamento.
Como é que perspetivam a evolução da empresa para os próximos anos?
Acredito que há muito espaço para crescer. Como já referi, o nosso target são os 1% dos novos financiamentos para as PME (300 milhões de euros), portanto, estamos a falar de uma quota de mercado bastante pequena e com um volume bastante material. É muito importante virmos a desenvolver parcerias com as grandes empresas de contabilistas certificados, porque têm um papel fundamental para garantir que a informação financeira é legítima. Acreditamos que, através de parcerias e de apresentação ao mercado, vamos conseguir chegar às empresas que queremos chegar.
E utilizam a Inteligência Artificial nos vossos processos?
A nossa política de avaliação de risco é feita através de mecanismos matemáticos que são alimentados por informação financeira. Utilizamos ferramentas para automatização, sim, mas não para fazer as avalizações.














