Randstad Insight: A “des-reforma”
Por José Miguel Leonardo | CEO da Randstad Portugal
Como qualquer situação na vida, também o espectro profissional tem o seu ciclo. Começamos novos, ambiciosos e sem experiência numa empresa, vamos crescendo e progredindo, podendo trocar de empresas ao longo dos anos, trocando impressões e criando relações e finalmente terminamos este ciclo com a reforma, sem que isto implique que a pessoa não continue com atividades que o permitem manter-se ativo perante os olhos da sociedade.
Este foi o panorama durante décadas, mas vemos um novo fenómeno a aparecer e que põe em causa o status quo, a “des-reforma” ou “unretirement”. Este cenário surge no meio da pandemia, nos EUA, com vários profissionais a voltarem ao ativo para fazerem face aos primeiros sinais da situação económica incerta, mas rapidamente se estende a outros países.
Por cá, o estudo Workmonitor da Randstad mostra-nos que o tema também está a ganhar alguma forma, com 10% dos profissionais a pensar em adiar a reforma para fazer face ao aumento do custo de vida e 52% a acreditar que só se conseguirá reformar entre os 65 e os 69 anos. São números que mostram a preocupação dos profissionais pela situação de inflação e que prevêem uma nova realidade no mercado de trabalho, mais perto de nós, das organizações, do que se pensava.
No entanto, este fenómeno faz-nos pensar num novo prisma, especificamente noutra camada profissional que ainda procura manter-se ativa. Ainda longe da idade da reforma mas com uma faixa etária que faz com que as empresas se retraiam na sua contratação, os profissionais com mais experiência, com mais de 50 anos de idade, são ainda uma camada profissional que quer manter-se a trabalhar, com um histórico favorável e competências já comprovadas e, permitam-me dizer, com muito ainda a contribuir para as empresas.
São profissionais com experiência comprovada mas isto não lhes retira a ambição nem a curiosidade de quem quer continuar a progredir e aprender, porque afinal de contas, aprender não tem idade. Se devemos dar lugar aos profissionais que entram agora no mercado de trabalho, sim sem dúvida alguma, mas face à escassez de talento que vivemos, a resposta pode estar nos profissionais com mais experiência e com a mesma vontade e proatividade que um jovem.
Esta é com todas as certezas, uma tendência que deve fazer as lideranças repensarem o factor da idade, não como um detrator, mas como um sinal de experiência e de motivação que contribui para o sucesso das empresas.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 203 de Fevereiro de 2023