PRIO: Mobilidade e energia: caminhos para reduzir emissões

A transição para uma mobilidade mais sustentável exige soluções diversificadas, que integrem inovação, redução de emissões e economia circular.

Executive Digest
Novembro 25, 2025
10:36

A transição para uma mobilidade mais sustentável exige soluções diversificadas, que integrem inovação, redução de emissões e economia circular.

Nos últimos anos, a sustentabilidade deixou de ser apenas uma preocupação ambiental ou reputacional e tornou-se um imperativo estratégico para empresas de todos os sectores. Em entrevista à Executive Digest, Cristina Correia, directora de Inovação e Sustentabilidade da PRIO, explica como a empresa tem integrado estas prioridades na sua estratégia, abordando desde a descarbonização e a economia circular até à mobilidade eléctrica, inovação tecnológica e educação ambiental.

Nos últimos anos, a pressão regulatória e social sobre as empresas para reduzir emissões tem vindo a crescer. Como é que a Prio define prioridades entre a adaptação a exigências legais e a antecipação de tendências futuras em matéria ambiental?

A PRIO encara o cumprimento regulatório como ponto de partida, assegurando o total cumprimento das obrigações legais e das directrizes de sustentabilidade, essenciais para a confiança e transparência no mercado. No entanto, a nossa actuação vai além do que a lei exige: a sustentabilidade faz parte da nossa génese, tendo a PRIO surgido para oferecer soluções mais sustentáveis para a mobilidade.

Numa primeira fase, alinhámos as nossas iniciativas com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, tornando este compromisso um pilar da nossa estratégia. Seguidamente, medimos a nossa pegada carbónica, identificando os impactos directos e indirectos das emissões de gases com efeito de estufa, o que nos permitiu definir o nosso Roteiro de Descarbonização. Estabelecemos metas para 2030, 2040 e 2050, monitorizando anualmente a pegada e a intensidade carbónica dos produtos que comercializamos, de forma a garantir o alinhamento com os objectivos traçados.

Actualmente, a PRIO é responsável por uma fatia considerável das emissões de CO2 evitadas no sector da mobilidade em Portugal. Fomos pioneiros na produção nacional de biocombustíveis a partir de matérias- primas residuais e lideramos a inovação com soluções como o ECO Diesel e o ZERO Diesel. Em 2025, participámos na organização do Tour d’Europe e acolhemos a caravana de veículos no nosso Complexo Novas Energias, no Porto de Aveiro – um reconhecimento europeu do nosso papel na promoção de uma transição energética justa e acessível.

A produção de biocombustíveis tem sido apontada como um eixo estratégico para a descarbonização. Quais são os principais obstáculos técnicos e económicos que ainda limitam a sua penetração no mercado nacional?

Os biocombustíveis já se afirmaram como uma solução prática e escalável para reduzir emissões, sendo uma alternativa eficaz, economicamente viável e compatível com a infraestrutura existente, com impacto ambiental mensurável no curto prazo. Ainda assim, enfrentam desafios significativos.

Os principais obstáculos são de natureza regulatória, como a falta de uniformização legal entre países, a dificuldade em integrar os combustíveis renováveis nas metas oficiais de descarbonização e o acesso limitado a incentivos financeiros para novos investimentos. A falta de literacia energética é também um entrave, pois impede que mais clientes experimentem estas soluções. A PRIO está empenhada em colaborar com parceiros e entidades europeias para garantir que estas alternativas sejam reconhecidas pelo seu valor ambiental, económico e social.

A mobilidade eléctrica tende a ganhar protagonismo, mas a realidade portuguesa ainda está longe da neutralidade carbónica. Como é que a Prio se posiciona entre o apoio à electrificação e a aposta em combustíveis alternativos de transição?

Na PRIO, acreditamos que não existe uma solução única para descarbonizar a mobilidade. A electrificação tem crescido de forma expressiva em Portugal – actualmente já circulam cerca de 400 mil veículos electrificados (PHEV e BEV) – e a PRIO, pioneira nesta área, é responsável por cerca de 30% do fornecimento de electricidade para mobilidade em espaço público. Dispomos de uma rede própria de carregamento e de serviços que facilitam o acesso, como a integração de terminais de pagamento directo nos postos.

Em paralelo, oferecemos biocombustíveis renováveis neutros em carbono, como o ZERO Diesel B100 e o ZERO Diesel HVO, e também o ECO Diesel, que contém mais energia renovável do que o gasóleo convencional e que representa uma solução imediata para sectores que não podem migrar tão rapidamente para opções zero emissões.

A estratégia da PRIO baseia-se em disponibilizar um conjunto diversificado de soluções que permitam reduzir emissões desde já, com as frotas e infraestruturas existentes, apoiando os clientes na escolha mais adequada aos seus desafios. Por isso seguimos uma abordagem de neutralidade tecnológica, garantindo que cada cliente encontra a solução mais eficaz para as suas necessidades.

A empresa gere uma cadeia logística complexa. Que medidas estão a ser aplicadas para reduzir emissões em transporte, armazenamento e distribuição?

Gerir uma cadeia logística extensa implica actuar em várias frentes. No transporte, temos optimizado rotas e integrado combustíveis 100% renováveis. No Complexo Novas Energias, no Porto de Aveiro, reforçámos o uso de energia renovável produzida localmente, que já representa cerca de 15% do consumo total, e investimos em processos mais eficientes. Sempre que possível, recorremos a tecnologias de monitorização para reduzir perdas energéticas no armazenamento e distribuição. Estas medidas resultam numa cadeia de abastecimento mais resiliente, com menor intensidade carbónica e custos operacionais optimizados.

Fala-se muito de economia circular, mas menos da sua aplicação prática. Que projetos têm desenvolvido para reaproveitamento de matérias-primas e resíduos?

Na PRIO, a economia circular é uma prática diária. O exemplo mais evidente é a recolha e valorização de óleos alimentares usados e outras matérias residuais, que integram a produção de biocombustíveis avançados. Investimos igualmente no desenvolvimento de produtos com menor intensidade carbónica, optimizando processos e colocando a economia circular no centro da nossa operação.

Empresas como a PRIO têm um papel estruturante na transição energética. Por isso, apostamos numa abordagem de economia circular replicável, que integra matérias- primas residuais e valoriza o território, mantendo-nos como um agente activo de mudança, com impacto económico, ambiental e social positivo.

O sector energético enfrenta desafios de investimento elevado em I&D. Qual tem sido a aposta da Prio em inovação e que projectos estão em curso com potencial disruptivo?

Para liderar a transição energética acessível, a PRIO assenta a sua actuação num forte pilar de inovação. Este traduz-se em soluções rodoviárias como o ZERO Diesel B100, com zero emissões no uso, o ECO Diesel B15 e o FLEX Diesel, adaptáveis às necessidades de cada cliente, bem como no sector marítimo, com o ECO Bunkers, que permite diferentes níveis de incorporação de biocombustível avançado.

A digitalização é outro foco, com ferramentas para utilizadores dos cartões Truck e Electric que permitem gerir abastecimentos e monitorizar emissões em tempo real.

A inovação faz parte do ADN da PRIO e é incentivada através do programa interno PRIO TOP Ideias, que premeia a visão inovadora das suas pessoas. Actualmente, temos em curso também vários projectos de investigação em novas matérias-primas e combustíveis mais sustentáveis.

Num mercado competitivo, como é que a sustentabilidade se traduz em vantagem para a empresa? Existe retorno económico mensurável associado à redução da pegada ambiental?

A sustentabilidade deixou de ser apenas uma questão legal ou reputacional para se tornar parte essencial de um modelo de negócio viável e preparado para o futuro. Na PRIO, temos exemplos de retorno mensurável, como o crescimento das vendas de produtos mais ecológicos (ECO Diesel, ZERO Diesel B100 e ZERO Diesel HVO), contratos de longo prazo com frotas que procuram reduzir a sua pegada carbónica e ganhos de eficiência nas nossas instalações através de projectos de eficiência energética. A nossa estratégia foca-se na criação de valor a longo prazo, considerando as necessidades de todas as partes interessadas – fornecedores, comunidades e consumidores.

A sustentabilidade não depende apenas da empresa, mas também do comportamento dos consumidores. Que iniciativas de sensibilização e educação ambiental têm lançado para envolver os clientes?

Temos promovido campanhas para valorizar o uso de óleos alimentares usados, incentivando a sua entrega para produção de biocombustíveis, como no projecto PRIO Ecowaste. Contamos já com mais de 250 oleões espalhados pelo país, promovendo a economia circular. Esta iniciativa inclui também acções com escolas, para sensibilizar crianças e jovens para hábitos mais sustentáveis.

Destacamos ainda o apoio à iniciativa Green eFact, que promove a literacia sobre Alterações Climáticas, Sustentabilidade e Energia.

No campo da mobilidade eléctrica, tornámos os postos de carregamento mais acessíveis e transparentes, com terminais de pagamento directo, e criámos ferramentas digitais que permitem às empresas monitorizar e comunicar reduções de emissões. Em parceria com o ISQ, desenvolvemos um certificado que comprova essas reduções, envolvendo colaboradores e clientes nas metas de sustentabilidade e promovendo decisões mais informadas e conscientes.

Como é avaliado o impacto ambiental global da Prio – desde a produção até ao consumo final dos combustíveis?

No nosso caminho para a neutralidade carbónica em 2050, definimos metas intermédias para 2030 e 2040 e acompanhamos indicadores como a intensidade carbónica dos produtos que comercializamos e o consumo de energia renovável na organização. Este processo contínuo de medição e reporte permite-nos ajustara rota, monitorizar o cumprimento do nosso Roteiro de Descarbonização e garantir credibilidade no percurso para a neutralidade carbónica. Desde 2024, publicamos no nosso website o relatório de sustentabilidade, onde destacamos as principais iniciativas e quantificamos o progresso alcançado.

Acredita que a sustentabilidade deve ser encarada sobretudo como responsabilidade ética das empresas ou já é uma condição essencial para a sobrevivência no sector energético?

A sustentabilidade deixou de ser uma opção e tornou-se uma condição de sobrevivência para as empresas, impulsionada pelo mercado, pela regulação e pelas preferências dos consumidores. Para além do valor ético, passou a ser uma exigência competitiva.

Na PRIO, promovemos iniciativas sociais como o Dia Solidário PRIO e o projecto Marvão ao Mar, que apoiam comunidades e promovem inclusão. Mas a sustentabilidade vai além da economia circular e dos compromissos éticos: inclui repensar a gestão de activos e proteger a biodiversidade. Na Ria de Aveiro, em parceria com a Universidade de Aveiro, promovemos o restauro de pradarias marinhas, reforçando a biodiversidade e contribuindo para a captura de CO2, alinhando impacto ambiental com objectivos empresariais.

Reguladores, investidores e consumidores exigem práticas responsáveis e redução de emissões. A PRIO nasceu com esta missão e continua a liderar esta transformação.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Redução da pegada ambiental”, publicado na edição de Outubro (n.º 235) da Executive Digest.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.