Por David Moura-George, Diretor-Geral da Athena Advisers Portugal
Portugal afirma-se como hub estratégico na economia digital global. O país combina conectividade transatlântica, energia limpa e investimento tecnológico, atraindo gigantes da tecnologia e posicionando-se como o novo epicentro europeu para a inteligência artificial e data centres.
Quatro anos após a entrada em operação do EllaLink, o cabo submarino que liga diretamente Sines a Fortaleza, Portugal consolida-se como um pivô estratégico na conectividade global. A rota direta entre a Europa e a América Latina, de alta capacidade e baixa latência (estima-se que reduza em cerca de 50% a latência típica entre a Europa e o Brasil), transformou o país num vértice essencial do Atlântico digital e num destino natural para o investimento em data centres.
A triangulação Fortaleza-Lisboa-Costa Leste dos EUA criou um corredor de dados que acelera a transmissão de conteúdos e garante maior resiliência das redes, um fator crítico para workloads sensíveis como cloud, gaming, fintech e inteligência artificial. Mais do que uma conquista tecnológica, é uma mudança de paradigma económico. Portugal deixou de ser periferia digital para se tornar uma porta de entrada natural para a Europa e um elo central entre continentes – Europa, América e África – sustentado por uma rede crescente de cabos internacionais como o EllaLink, Equiano, 2Africa, Nuvem, Medusa e PISCES.
Este posicionamento está a impulsionar uma nova vaga de investimento e a afirmar Portugal como hub digital de referência no sul da Europa, bem como um centro de excelência para a localização de data centres, estruturas que são hoje a espinha dorsal que sustenta o novo ecossistema digital. Segundo a Portugal DC, o contributo do setor dos data centres para o PIB nacional deverá crescer de 160 milhões de euros em 2024 para 3,7 mil milhões em 2031, apoiado em investimentos diretos superiores a 13 mil milhões de euros. Além disso, o número de postos de trabalho deverá triplicar, de 2.800 para 9.500, em funções altamente qualificadas.
O crescimento português contrasta com a desaceleração observada nas geografias nórdicas, hoje limitadas pela escassez energética. Portugal surge como alternativa competitiva: energia mais barata, maior quota de renováveis e disponibilidade de terrenos estratégicos para projetos de larga escala. A deslocalização de investimentos para o sul da Europa é já uma realidade, impulsionada por empresas globais, como hyperscalers e grandes operadores de cloud, em busca de alternativas resilientes às rotas do norte da Europa com capacidade, eficiência e sustentabilidade.
Em Sines, o “porto digital” português, a ligação do EllaLink atraiu projetos de dimensão internacional. O Start Campus, que arranca com a construção do segundo edifício no final deste ano, prepara-se para receber, a partir de 2026, o projeto que junta a Nvidia e a Microsoft.
A força desta transformação assenta na combinação entre conectividade, energia verde e talento. Portugal opera com uma das matrizes energéticas mais limpas da Europa e os novos centros de dados integram energia verde, reutilização de calor e sistemas avançados de arrefecimento, reduzindo significativamente a pegada ambiental.
Todos os olhos estão agora postos em Portugal. As grandes tecnológicas americanas procuram locais que combinem infraestrutura robusta, custos competitivos e segurança jurídica. E o país oferece exatamente isso, somando a vantagem geográfica única de ser o ponto mais próximo entre a Europa e a América Latina.
O EllaLink e a nova triangulação digital que dele resulta são um catalisador de investimento, inovação e emprego e o alicerce de uma economia baseada em dados e inteligência artificial. Portugal tem hoje uma oportunidade histórica para se afirmar como um dos principais hubs digitais da Europa. O desafio está em transformar esta vantagem estrutural em valor económico, conhecimento e liderança tecnológica. E, olhando para outros mercados, percebemos que há exemplos inspiradores que mostram como essa ambição pode ser concretizada.
Um desses exemplos é o Brasil. No início de novembro tive oportunidade de participar no DCD Connect Brasil 2025, em São Paulo, uma conferência de referência para o setor dos data centres. Ficou claro que o país está a capitalizar de forma exemplar a sua enorme capacidade energética, apoiado por legislação específica e pela criação de zonas dedicadas – Zona de Processamento de Exportação (ZPE) – que oferecem benefícios fiscais e um enquadramento competitivo para atrair investimento tecnológico. Uma estratégia clara e orientada para o futuro, que Portugal faria bem em olhar com atenção.




