Pacto da Indústria Limpa: a Europa aposta o seu futuro na corrida pela energia verde

Opinião de Aroa Ruzo, Country Manager Portugal da Schneider Electric

Executive Digest
Dezembro 4, 2025
12:01

Por Aroa Ruzo, Country Manager Portugal da Schneider Electric

A União Europeia deu um passo fundamental na transformação do nosso modelo industrial coletivo, com o anúncio recente do Pacto da Indústria Limpa. Esta iniciativa representa um marco importante na aceleração da descarbonização, mas também se posiciona como um motor de crescimento para a indústria transformadora europeia. Num contexto de crescente concorrência global e de constantes desafios energéticos, este Pacto reforça o compromisso da Europa com uma indústria mais sustentável e competitiva.

Tal como Ursula von der Leyen recordou no seu recente discurso do “State of Union 2025”, a política climática europeia é, acima de tudo, também uma política industrial: proteger, incentivar e recompensar as indústrias que apostam na descarbonização será fundamental para garantir a competitividade do continente.

Estamos, portanto, num momento crucial para definir e fortalecer o futuro da indústria europeia: a volatilidade dos preços da energia, a pressão para reduzir as emissões de carbono e a necessidade de garantir a segurança do abastecimento são desafios que a Europa enfrenta todos os dias. Este Pacto oferece uma oportunidade única para transformar esses desafios em vantagens estratégicas, impulsionando o investimento nas três grandes transformações que enfrentamos atualmente: a digital, a energética e a cultural.

No entanto, o sucesso deste acordo dependerá da adoção de ações concretas que garantam que o futuro da indústria europeia seja não só sustentável, mas também próspero e competitivo a nível global.

Neste sentido, convém recordar que o apagão que afetou Portugal, Espanha e parte de França este ano – que nos mostrou, como em nenhum outro momento até aqui, a fragilidade da rede elétrica continental, e reforçou a necessidade de acelerarmos a modernização das nossas infraestruturas energéticas. As oscilações na produção renovável registadas em Portugal nos últimos meses – com períodos de grande excedente seguidos por dias de importação acentuada – também nos mostram a importância de acelerar a modernização das infraestruturas energéticas nacionais. Portugal tem metas ambiciosas no seu Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030), que prevê que 85% da eletricidade consumida em 2030 seja de origem renovável. No entanto, para cumprir este objetivo, é essencial investir em redes inteligentes, armazenamento e digitalização.

A eletrificação e a eficiência energética são fundamentais para a competitividade

O preço da energia é um dos principais desafios principais da indústria. A crise energética dos últimos anos demonstrou a vulnerabilidade do nosso sistema e a urgência de reduzir a dependência de determinadas fontes energéticas. A única solução estrutural passa pela eletrificação e pela adoção de modelos mais eficientes e de facto, com um compromisso de até 100 mil milhões de euros por parte da Comissão Europeia para apoiar a produção limpa na UE, estamos perante uma oportunidade única para enfrentar este desafio.

Portugal, que nos primeiros nove meses de 2025 já gerou cerca de 70% da sua eletricidade a partir de fontes renováveis, encontra-se numa posição favorável para liderar esta transição. Contudo, o peso da indústria nacional no PIB (cerca de 13%) torna urgente acelerar a adoção de tecnologias limpas e digitais se quisermos reforçar a nossa competitividade e atratividade a nível internacional.

Neste sentido, a energia acessível surge como um dos pontos-chave do Pacto da Indústria Limpa. A Comissão Europeia estima também que, através da adoção do novo Plano de Ação para Preços da Energia Acessíveis, se poderão gerar poupanças de até 260 mil milhões de euros anuais na Europa. Metade destas poupanças será proveniente da produção de eletricidade limpa de origem local, enquanto a outra metade será conseguida através de tecnologias relacionadas com a eficiência energética, a digitalização e as infraestruturas de redes inteligentes.

A digitalização pode reduzir até 30% os custos energéticos

A eletrificação é o caminho mais limpo e eficiente para descarbonizar a indústria, os edifícios e o transporte. Contudo, atualmente, apenas um terço do consumo energético industrial na UE provém da eletricidade, quando até 78% dos processos poderiam ser eletrificados. Para tirar partido deste potencial, é imprescindível reforçar as redes elétricas através de investimentos em infraestruturas, digitalização e uma gestão flexível da procura. Isto deve ser acompanhado dos incentivos adequados que permitam tirar partido da flexibilidade da rede e reduzir os picos de consumo.

Tal como referiu von der Leyen no seu discurso, pilares como a digitalização, a inteligência artificial, as gigafábricas ou a economia circular são, e continuarão a ser, fundamentais para a competitividade europeia. Neste campo, a Schneider Electric pode aportar soluções que integram automação, gestão energética e circularidade para avançar para um modelo industrial mais eficiente e sustentável.

Segundo a Agência Internacional da Energia, a indústria pode reduzir em até 30% do seu consumo energético com recurso a tecnologias que já existem e estão disponíveis, com períodos de retorno do investimento inferiores a dois anos. Contudo, muitas empresas ainda não dispõem dos dados energéticos nem da capacidade de os analisar de forma adequada. Para tal, é essencial investir na transformação digital. De facto, a combinação de automação, gestão da procura e digitalização permite reduzir os custos energéticos entre 10% e 30%, ao mesmo tempo que melhora a produtividade e a sustentabilidade das operações industriais.

Consolidar a liderança europeia

A descarbonização e a digitalização são, assim, fundamentais para evitarmos a “desindustrialização” na Europa. Ambas se reforçam mutuamente e constituem a base sobre a qual devemos construir o novo modelo industrial – mais resiliente, competitivo e sustentável. A UE tem nas suas mãos a oportunidade de liderar a transição energética global, mas o sucesso desta iniciativa dependerá da rapidez com que forem adotadas medidas concretas.

Portugal deve aproveitar esta oportunidade para consolidar um modelo industrial nacional mais forte e sustentável. A modernização da rede elétrica e o investimento em competências digitais serão cruciais para garantir que a nossa indústria não apenas se mantenha relevante,  como até ganhe peso no novo mapa industrial europeu.

Em suma, a transformação dos alicerces industriais europeus através da digitalização e da automação não apenas reduzirá o consumo energético, como também nos permitirá competir com as fábricas mais avançadas do mundo e, assim, consolidar a liderança da Europa em relação aos outros continentes. O momento chegou: mais do que nunca, devemos estar preparados para contribuir para esta transformação e demonstrar que uma indústria mais sustentável também é uma indústria mais competitiva.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.