IA, talento e sustentabilidade marcam a logística de 2024

Por Rui Gomes, Country Manager de DHL Supply Chain Portugal

Não há dúvida de que a inteligência artificial (IA) pode desempenhar  um papel crucial na gestão da cadeia de abastecimento, especialmente durante períodos de grande procura, como a época alta natalícia, que em Portugal começa no final de novembro com a Black Friday e se estende até janeiro, altura em que termina a corrida às compras e assitimos ao desafio das devoluções de Natal.

É uma tecnologia que está a ganhar peso todos os dias nas operações dos principais operadores logísticos e com a qual tanto as empresas como os seus clientes podem ganhar uma importante vantagem competitiva. Na nossa experiência dentro da DHL Supply Chain, a sua utilização pode ajudar a evitar erros na gestão da cadeia de abastecimento e proporcionar ganhos de eficiência muito relevantes.

Existem muitos exemplos de como a IA está a ser utilizada no sector da logística. Com base nas nossas operações, destacamos primeiro a sua força no que diz respeito à previsão da procura. Através de algoritmos baseados na aprendizagem automática, a IA está a ajudar a analisar padrões históricos de vendas e fatores externos para prever a procura de produtos específicos, permitindo planear as operações com antecedência. Outro ponto de aplicação crucial da IA é no planeamento de rotas de transporte, ajudando  a avaliar e otimizar esta área, melhorando significativamente a eficiência.

Os algoritmos de inteligência artificial também são utilizados para otimizar os percursos dos trabalhadores no armazém. Nesta área, a IA incorporada na tecnologia de robótica colaborativa permite, por exemplo, lidar melhor com os picos significativos de procura que ocorrem em períodos como a já referida época alta, mantendo também a segurança dos operadores que trabalham com estes robôs.

Em suma, a IA é uma ferramenta valiosa para a logística, especialmente durante períodos de elevada procura. Pode otimizar as operações, melhorar a eficiência, aumentar a segurança da força de trabalho e, em última análise, proporcionar um melhor serviço ao cliente.  Isto explica porque é que, à escala global, se espera que a taxa de adoção da IA atinja um valor de 6,5 mil milhões de dólares até 2035.

Quanto à evolução futura desta tecnologia na logística, espera-se que a IA continue a avançar e se torne ainda mais integrada nas operações. Isto poderá incluir a utilização da IA para a entrega autónoma de encomendas e a implementação de sistemas de IA mais sofisticados para a gestão de inventários e a previsão da procura.

Algumas referências para futuros desenvolvimentos na aplicação da IA na logística giram em torno da IA generativa, auxiliando a criação de relatórios automatizados, comunicações com clientes, documentação interna, imagens de produtos ou desenhos de embalagens, layouts de armazém 3D ou a utilização cada vez mais comum de chatbots como o ChatGPT, que pode melhorar a interação com os clientes e fornecer respostas contextuais, consistentes e relevantes às suas perguntas.

Outras áreas ligadas a aplicações futuras – mas não distantes – da IA generativa poderão ser a previsão da manutenção, através da qual as empresas podem vir a conseguir  prever problemas futuros com mais precisão do que os modelos atuais, por exemplo, se um camião ou uma automação vão falhar a médio prazo; ou a automação das entregas, em que a IA generativa poderá ser utilizada para automatizar as entregas de “última milha” e de “meia milha” com veículos autónomos.

Estes são apenas alguns exemplos de como a IA generativa pode ser aplicada na logística. No entanto, o campo é vasto e as possibilidades são virtualmente ilimitadas. Mas nunca devemos esquecer que, embora a tecnologia em geral, e a IA em particular, se tenham tornado uma parte incontornável do sector da logística, são as pessoas que constituem a espinha dorsal do modelo e a base da inovação e da criatividade. Ou seja, as pessoas devem estar sempre primeiro, até porque o talento e as equipas são quem deverá estar no centro das operações.

Numa altura em que o sector da logística enfrenta grandes desafios para atrair e reter os melhores talentos, o foco deve estar nos modelos participativos de gestão de pessoas e na promoção de um ambiente de trabalho em que cada indivíduo se sinta seguro e possa desenvolver todo o seu potencial, tanto a nível pessoal como profissional. Tal como a IA cria redes de algoritmos com efeitos surpreendentes, as pessoas num ambiente profissional complexo, como a logística e os transportes, dão o melhor de si num modelo que ajuda a criar uma rede de ligações emocionais entre os membros da equipa, bem como a identificação de cada trabalhador com os valores da empresa, promovendo relações produtivas ao longo do tempo e o orgulho de pertencer a uma organização.

Por fim, não posso deixar de referir a importância da execução de uma logística sustentável. Já correram rios de tinta sobre este assunto, mas tenho que sublinhar a criticidade deste aspeto. A aposta numa logística de emissões zero, a reciclagem, a adoção de novas ferramentas de otimização das embalagens, dos materiais e das tecnologias de movimentação, a otimização da ocupação  de frotas e a sua eletrificação progressiva são apenas algumas das muitas medidas que um operador de logística integrada deve considerar.

A inteligência artificial, as pessoas e a sustentabilidade irão, sem dúvida, moldar a logística, não só em 2024 como também nos anos seguintes.

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