IA: Como garantir uma viagem segura ao futuro?

Opinião de Herman Duarte, Offensive Security Services Director na Devoteam Cyber Trust

Executive Digest
Julho 7, 2025
13:59

Por Herman Duarte, Offensive Security Services Director na Devoteam Cyber Trust

A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma miragem futurista e afirma-se como força transformadora no nosso quotidiano. Tal como a produção em massa de automóveis selou o destino dos cavalos na mobilidade, percorrendo distâncias maiores a custos inferiores, a IA está a redefinir a forma como vivemos e trabalhamos. A sua adoção é galopante, impulsionada pela promessa de “fazer muito mais com menos”. Contudo, a forte pressão competitiva para adotar IA rapidamente pode levar a implementações superficiais de segurança, pelo que é imperativo equilibrar velocidade com robustez.

Pensemos em sistemas de IA como agentes virtuais altamente capacitados, disponíveis permanentemente e capazes de executar tarefas que antes exigiam equipas humanas complexas, mas com custos marginais reduzidos. Esta metáfora ilustra o potencial de automatização de processos, extração de insights a partir de grandes volumes de dados e personalização de serviços em escala. A promessa de eficiência, inovação e agilidade operacional é irresistível, mas é preciso equilibrar ambição com vigilância e antecipar desafios.

As ameaças são reais. No Data Poisoning, atacantes contaminam os dados de treino para enviesar modelos, levando a resultados imprecisos ou discriminatórios. Na exposição involuntária de dados sensíveis (Sensitive Data Exposure), um modelo pode revelar informação confidencial, provocando quebras de privacidade. No Prompt Injection, vulnerabilidades em interfaces (por exemplo, chatbots) permitem contornar restrições e obter comportamentos não autorizados. Estes perigos não são estanques: uma manipulação bem-sucedida pode culminar na exposição de dados confidenciais, enquanto a contaminação de dados mina a confiança essencial às oportunidades de negócio.

A par disto, o roubo de modelos (AI Model Theft) e as vulnerabilidades de acesso oculto (Backdoor Vulnerabilities) transcendem prejuízos individuais, pois modelos comprometidos podem espalhar-se e amplificar danos além da organização visada. Perante este cenário, a inação não é opção. As organizações devem adotar, desde a conceção, um modelo de segurança centrado em IA (Security by Design), reduzindo vulnerabilidades e reforçando a robustez dos sistemas.

Isto implica desenvolver resiliência adversarial: testar e simular continuamente cenários de ataque, antecipar vetores de contaminação de dados e monitorizar o comportamento dos modelos em produção. A eficácia depende de coordenação multidisciplinar, envolvendo equipas de cibersegurança, ciência de dados, gestão de risco e compliance. Sem esta abordagem integrada, corre-se o risco de criar a aparência de proteção em vez de segurança real.

A conformidade regulatória, como o Regulamento de IA da UE, não deve ser vista como entrave, mas como catalisador de inovação. Ao estabelecer requisitos claros (transparência, documentação de dados, avaliação de risco), a regulação fomenta confiança e acelera adoção segura, conduzindo a um mercado mais ético e resiliente.

Em suma, a IA é uma jornada inevitável e transformadora. Os riscos apresentados são apenas a ponta do icebergue, dada a complexidade e evolução constante desta tecnologia. É essencial delinear, implementar e testar hoje a “viagem segura” rumo ao futuro da IA. Isso exige uma estratégia clara de governança de segurança: desde a conceção e testes adversariais até à monitorização contínua em produção, assegurando que cada etapa incorpore medidas robustas que reforcem a confiança e a resiliência dos sistemas.

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