Há FOMO no imobiliário?

Por Pedro Fontes Falcão, gestor e Director do Executive MBA do ISCTE

O setor imobiliário, como muitos outros, continua a sofrer de incertezas sobre a sua evolução. É verdade que é um setor amplo, mas um tema chave é a evolução dos preços dos imóveis.

Dos dois grandes tipos de imóveis, em função da sua utilização, vou apenas focar-me nos residenciais, deixando os imóveis comerciais de lado.

Tanto do lado da oferta como da procura, há dados e perspetivas algo conflituantes. Do lado da oferta, há falta de mão de obra para a realização de obras, vários materiais estão a aumentar de preço, os prazos de entrega de certos materiais estão a resvalar, por vezes sem se saber quando realmente os materiais chegam, o que leva a finalização das obras a atrasar-se e/ou a tornar-se muito mais caro (tentar) conseguir acabar as obras a tempo. Poderia referir mais alguns aspetos, mas o ponto é que quase tudo parece apontar para um aumento dos custos e logo do preço de venda.

A questão de maior incerteza, coloca-se do lado da procura. Vai manter-se a forte procura de estrangeiros? Estes vão essencialmente focar-se em imóveis de luxo? Como é que o aumento dos preços dos imóveis de luxo vai transmitir-se para os outros segmentos de casas? Há zonas do país com maior potencial de subida de preços? A futura subida dos juros e a perda de rendimento de vários segmentos da população vão afetar muito negativamente a procura?

Vai surgir uma fase de inversão, em que os preços da generalidade dos imóveis residenciais vão começar a baixar? Se sim, quando e em que velocidade? É neste contexto que pode entrar o FOMO.

O FOMO – Fear of Missing Out – foi cunhado em 1996 pelo estratega de marketing Dan Herman. Ao ouvir os consumidores em focus groups e entrevistas, ele observou que muitos mencionavam o medo de perder oportunidades que lhes poderiam dar prazer.

O termo foi, entretanto, muito aplicado à era digital, que se caracteriza pelo receio excessivo de se “ficar de fora”, perdendo assim as constantes novidades, em termos dos posts, notícias, discussões, etc que estão a ocorrer. Acontece a certas pessoas quando estão sem smartphone ou acesso à internet, e que ficam com receio de se sentirem excluídas.

Neste caso, vou aplicar o termo ao imobiliário, e o FOMO pode estar a ter impacto no postecipar da eventual e hipotética futura estagnação ou baixa de preços dos imóveis residenciais. Várias pessoas, com receio de ficarem excluídas da oportunidade de comprar um ou mais imóveis antes que, segundo a sua perspetiva, os preços subam mais e que as taxas de juro subam (encarecendo o crédito), querem então aproveitar para fazer a mudança de casa ou a compra de imobiliário para valorização, não se sentindo depois excluídos e ter “ficado de fora” da eventual possibilidade de poder ter feito um bom negócio. Este aumento da procura leva, naturalmente, a um aumento dos preços…

O FOMO pode assim dar ainda mais força à subida de preços dos imóveis nos próximos tempos. Vamos ver até quando…

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