Arranque do ano só trouxe 5.600 casas novas ao mercado e licenciamentos caíram 20%
Por Miguel Mascarenhas, CEO da Imovendo
A habitação foi uma das bandeiras de todos aqueles que reconheceram na habitação um assunto prioritário para o ano de 2024, no entanto, vamos a metade do ano e os desejos parecem estar ainda na fase da escolha dos materiais. Segundo dados do INE, foram construídas em Portugal 5646 casas novas este primeiro semestre, para quem o número não traduz grande coisa, fica a comparação de que há 20 anos, em 2004, foram construídas quase mais 70.000 “fogos para habitação familiar”. Estes números sugerem um abrandamento que pode ter várias implicações para o mercado imobiliário, pois uma oferta limitada de imóveis novos, pode não ser suficiente para atender à procura crescente, especialmente nas grandes cidades onde a procura por habitação continua elevada.
Paralelamente, o número de licenciamentos de construção, indicadores-chave da quantidade de casas que estarão disponíveis no futuro, registou uma redução de 20%, dados particularmente preocupantes que sugerem uma pressão extra num mercado que exige inventário, exacerbando a escassez de habitações e pressionando os preços para cima. Aqui importa notar o impacto da pandemia, altura em que muitas empresas de construção fecharam portas pelas razões conjunturais, algumas desapareceram completamente e outras estão ainda em processo de recuperação. A estas dificuldades reconhecidas somam-se a carência de mão-de-obra e o elevado custo dos materiais.
Em termos económicos, o abrandamento na construção de novas casas pode ter impactos negativos mais amplos. A construção civil é um setor crucial para a economia portuguesa, contribuindo significativamente para o crescimento económico e onde uma desaceleração no setor, pode levar a uma perda de empregos e a uma redução nos investimentos, afetando toda a economia de forma geral. É portanto essencial que as políticas públicas abordem estas questões com a urgência e seriedade necessárias.
A imovendo tem tido desde sempre a oportunidade e privilégio de ouvir proprietários e compradores sobre este assunto, a conclusão é particularmente unânime: Portugal precisa de mais casas e de facilitar os processos de construção. Resta aos decisores políticos corresponder às demandas do mercado e cumprir aquilo que já estabelecido com Bruxelas, sem começar pelo telhado.