O design que o mundo aprendeu finalmente a levar a sério

Opinião de Marta Fernandez, Leading UX Strategy & Projects da Critical Techworks

Executive Digest
Novembro 27, 2025
12:00

Por Marta Fernandez, Leading UX Strategy & Projects da Critical Techworks

Há mais de uma década que falo de user experience (UX), muitas vezes com um misto de entusiasmo e frustração. Entusiasmo, porque acredito genuinamente que o design centrado nas pessoas transforma negócios. Frustração, porque durante anos vimos empresas tratarem o UX como um adorno, uma camada de “embelezamento” aplicada no fim, em vez de o verem como o que realmente é: uma estrutura de pensamento, uma forma de organizar complexidade.

Durante muito tempo, o UX foi confundido com o user interface (UI), e o UI com estética. Criar algo “bonito” parecia suficiente. Só que a beleza, sem propósito, não converte, não fideliza e não cria confiança. O verdadeiro valor do design está em facilitar, em dar clareza, em fazer com que as pessoas saibam onde estão e o que fazer a seguir. É aí que se gera valor, quando o design deixa de ser um verniz e passa a ser a espinha dorsal da experiência.

Hoje, felizmente, começamos a ver uma mudança. As empresas mais maduras perceberam que o UX é um investimento, não um custo. Que desenhar com base em evidência e estrutura reduz desperdício, melhora a eficiência e acelera o crescimento. Que investigar antes de desenvolver evita meses de iterações desnecessárias. Que medir, testar e evoluir é o que sustenta produtos vivos, capazes de acompanhar as pessoas. E, sobretudo, perceberam que o design gera retorno: em produtos mais usados, equipas mais produtivas e clientes mais fiéis. Um bom design paga-se a si próprio e multiplica o valor que cria.

Mas esta maturidade não veio de um dia para o outro. Foi preciso anos a educar, a mostrar resultados, a traduzir empatia em métricas. O designer de hoje é um mediador entre o que o negócio precisa e o que o utilizador entende. E o de amanhã será ainda mais: um orquestrador de experiências num ecossistema cada vez mais inteligente.

Com a chegada da inteligência artificial (IA), o UX vive uma nova viragem. Já não desenhamos apenas a interação entre humano e máquina, desenhamos ecossistemas onde o humano, a máquina e a inteligência coexistem e aprendem em conjunto. O foco deixa de estar apenas no comportamento do utilizador, para incluir também o comportamento da própria inteligência: como responde, o que aprende e até onde deve ir. Isso traz responsabilidade, mas também uma oportunidade única de moldar um futuro mais humano, transparente e ético. O papel do UX designer expande-se agora para o de curador de informação, estratega de confiança e guardião da integridade nas interações com IA.

Se durante anos trabalhámos para provar o impacto do design nos produtos, hoje precisamos de o afirmar na estratégia da inteligência artificial. Porque é aqui que se decide como a IA aprende, como responde e com que princípios opera. E essa responsabilidade é nossa: garantir que, por mais avançada que seja a tecnologia, o humano continua no centro, como prioridade, referência e propósito.

Mais do que uma transição de UX para uma artificial inteligence (também agente based) experience (AX), vivemos uma ampliação. O design de experiências humanas evolui para incluir também a experiência com inteligências, uma expansão que redefine o nosso papel e propósito. O futuro do design não será apenas criar experiências com IA, mas conceber experiências responsáveis, onde o humano e a inteligência evoluem em conjunto, aprendendo um com o outro, com ética e intenção.

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