“A globalização, do meu ponto de vista, morreu”, avança Nelson Pires, Diretor-Geral da JABA Recordati

O mundo está a avançar em direção à “blocalização”, começou por afirmar o responsável da farmacêutica JABA Recordati, na XXII Conferência Executive Digest, prevendo que a globalização está no fim dos seus dias, depois de se ter revelado inadequada à realidade que hoje se desenrola à frente dos nossos olhos.

Nelson Pires explicou que hoje vivemos num mundo BANI, um acrónimo em inglês que descreve um mundo frágil, ansioso, não-linear e, em alguns aspetos, incompreensível. Fruto da guerra que irrompeu na Ucrânia e as consequentes quebras ao nível das cadeias de abastecimento, bem como das perturbações lançadas pela pandemia de Covid-19 que ainda se fazem sentir, observamos um choque na procura e na oferta, que tem feito disparar os preços de uma grande variedade de produtos e matérias e impulsionado a subida da inflação.

O responsável acredita que o mundo deverá caminhar em direção a uma “blocalização”, ou seja, à transição de uma economia fundamentalmente globalizada para economias alicerçadas em blocos de países, unidos por interesses mútuos, valores partilhados e moedas comuns.

Esta nova estrutura da economia mundial permitirá reduzir a dependência significativa de países com os quais não se partilham valores e que podem causar sérios impactos negativos ao nível dos volumes de fornecimento.

Contudo, Nelson Pires esclareceu que essa “blocalização” não significa que os países passarão a produzir o que precisam para suprir as suas próprias necessidades. O que acontece é que, dentro de cada bloco, os seus membros especializar-se-ão na produção de determinados bens e artigos, alimentando o mercado do bloco. Assim, do offshoring não vamos passar para o onshoring, mas sim para o nearshoring.

Quanto a Portugal, o responsável frisou que “não podemos depender tanto do Estado, nem o Estado pode atrapalhar tanto como tem atrapalhado”, referindo que existem cerca de 4.300 tipos diferentes de impostas a nível nacional, sendo o terceiro país na Europa com a maior carga fiscal, e isso é um obstáculo.

Salientou que o Estado não deve ser um agente económico, mas deve, isso sim, ser um regulador dos agentes económicos, e ser o principal dinamizador de culturas de meritocracia na esfera empresarial.

Portugal tem de estar na linha da frente das tendências tecnológicas, apostar em cadeias de valor “verde”, fortalecer as suas próprias capacidades de transporte de mercadorias e investir na formação dos seus recursos humanos.

Sobre esse último ponto, Nelson Pires sublinhou que “não percebo como temos escassez de recursos humanos” em Portugal, lamentando que os cursos técnico-profissionais tenham sido terminados, pois seriam essenciais para a revitalização de setores económicos tão importantes como o Turismo.

Para rematar uma intervenção com os olhos postos no amanhã, mas com os pés assentes no dia de hoje, o responsável sentenciou que “a globalização, do meu ponto de vista, morreu”, e que o futuro reside na “blocalização”.

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