Líder da estratégia para travar a epidemia de Covid-19 em Portugal, Graça Freitas admite que, no pior cenário, um milhão de portugueses possam vir a ser infetados, 20% dos quais com gravidade.
Em entrevista ao Expresso, a Diretora-Geral da Saude não esconde que é uma questão de tempo até à deteção dos primeiros casos.
“É inevitável. A convicção de que vai chegar existe, se se vai propagar ainda não temos a certeza. Neste momento há várias situações no mundo: há países que importaram casos da China e contiveram, como a Alemanha, há o caso da Itália que tem um foco que ainda está em evolução, e o caso da Coreia, Japão, Irão e Singapura que têm focos, mas estão a travar a infeção, como aconteceu com a SARS. É certo que a probabilidade de conseguir conter o vírus não é grande. O mais provável é que haja uma disseminação da doença”, afirma.
Mas qual é o pior cenário para Portugal? A responsável traça o retrato: “Estamos a fazer cenários para uma taxa total de ataque de 10% [um milhão de portugueses] e assumindo que vai haver uma propagação epidémica mais intensa durante, pelo menos, 12 a 14 semanas. Temos estudos que nos dizem que 80% vão ter doença ligeira a moderada e só 20% terão doença mais grave e 5% evolução crítica. A taxa de mortalidade será à volta de 2,3% a 2,4%”.
Num cenário mais plausível, acrescenta, “prevemos cerca de 21 mil casos na semana mais crítica, dos quais 19 mil ligeiros — não é muito, é como a gripe — e 1700 graves, que terão de ser internados, nem todos em cuidados intensivos. E nessa fase haverá camas em todos os hospitais”.
Apesar de a infeção já se ter espalhado por todos os continentes, a OMS ainda não declarou uma pandemia, mas a Diretora-Geral da Saúde defende que todos “temos de estar preparados” para essa situação.
“Quando surge um vírus com estas características, que se transmite potencialmente de pessoa a pessoa e para o qual a Humanidade não tem imunidade, há o potencial de tornar-se pandémico”, afirma.
E, alerta, desenganem-se aqueles que pensam que a aproximação do tempo quente pode reverter a situação: “Os coronavírus são de inverno. Mas este foge à teoria e pode ser como a gripe A, em que tivemos casos todo o verão, embora pouco graves. Quando surge pela primeira vez, um vírus vem com toda a pujança e pode não respeitar a sazonalidade”, sublinha a responsável, em declarações ao mesmo jornal.














