Gestão sob a ótica do ReThink: Porque as oito grandes transições globais estão a redefinir a gestão — e porque é que os líderes têm de agir agora

Opinião de Luis Rasquilha, CEO do Ecossistema Inova. Board Member/Non Executive Diretor (NED) da Maza Tarraf, Giant e Unifisa. Professor convidado na FDC, Hospital Albert Einstein e ESALQ/USP. Colunista do MIT Sloan Review Brasil e Executive Digest Portugal

Executive Digest
Dezembro 2, 2025
9:31

Por Luis Rasquilha, CEO do Ecossistema Inova. Board Member/Non Executive Diretor (NED) da Maza Tarraf, Giant e Unifisa. Professor convidado na FDC, Hospital Albert Einstein e ESALQ/USP. Colunista do MIT Sloan Review Brasil e Executive Digest Portugal

Vivemos um dos períodos mais complexos e instáveis das últimas décadas e porque não dizê-lo da história da gestão. A velocidade, profundidade e simultaneidade das mudanças que atravessam o mundo colocam enormes desafios às empresas — mas também abrem novas oportunidades para quem souber compreender o contexto e adaptar-se. Hoje, gerir bem já não é apenas dominar técnicas; é interpretar o mundo, ler sinais, antecipar cenários e tendências e ajustar rotas num ambiente onde a mudança se tornou estrutural.

É precisamente neste ponto que muitos gestores falham: continuam a tomar decisões para um mundo que já não existe, ignorando as forças que estão a transformar economias, sociedades e modelos de negócio. A gestão moderna exige algo novo: pensamento crítico sobre o contexto, leitura estratégica das transições globais, adaptação e preparação permanentes.

O conceito ReThink nasce desta urgência — e deste vazio — propondo uma reflexão estruturada sobre oito grandes transições que estão a moldar o futuro das organizações.

A seguir, examinamos cada uma e explicamos porque é vital que os líderes passem a olhar para o contexto externo como parte essencial da sua gestão.

  1. Transição Geopolítica: o regresso da instabilidade global

A geopolítica regressou ao centro das decisões económicas.
Conflitos prolongados, rivalidade entre grandes potências, disputas tecnológicas, alianças (comerciais e não só) voláteis e regionalização da economia global criam impactos diretos no preço da energia, na disponibilidade de matérias-primas e na previsibilidade das cadeias de abastecimentos e suprimentos.

Ignorar este cenário pode ser fatal. Empresas que não acompanham estes movimentos podem ver os seus custos disparar, projetos atrasarem-se ou mercados desaparecerem. Empresas que o analisam conseguem diversificar fornecedores, proteger operações e até explorar oportunidades que emergem em cenários de crise.

  1. Transição Energética: do carbono aos modelos limpos e regenerativos

A pressão regulatória, a urgência climática e as novas tecnologias estão a acelerar a transição para energias limpas. Esta mudança não é apenas ambiental — é económica e estratégica. Modelos de negócio intensivos em energia tendem a tornar-se obsoletos; investimentos sem critérios ESG enfrentam custos superiores; consumidores e investidores exigem transparência energética e ambiental.

Os gestores que não se adaptarem verão os seus negócios perder competitividade num mercado cada vez mais exigente.

  1. Transição Económica e Financeira: um novo ciclo, novas regras

A economia global vive um ciclo marcado por inflação persistente, juros elevados, endividamento crítico, retração do investimento e mercados voláteis. Paralelamente, surgem novos sistemas financeiros: moedas digitais, financiamento sustentável, tokenização e novos mecanismos de captação de capital.

Gerir sem considerar estas mudanças é navegar às cegas.
Os líderes precisam de saber onde está o capital, como se movimenta e como se transforma — só assim poderão financiar inovação, garantir estabilidade e crescer em cenários adversos.

  1. Transição Digital e Tecnológica: IA, automação e a nova lógica da produtividade

A digitalização deixou de ser uma opção para se tornar a espinha dorsal da competitividade. A inteligência artificial generativa, a automação avançada, os sistemas de previsão, a cibersegurança e a hiperconectividade estão a redefinir o trabalho, a operação e o relacionamento com clientes.

As empresas que abraçam esta transição tornam-se mais eficientes, mais analíticas e mais rápidas na decisão. As que resistem ficam presas em modelos lentos, caros e incapazes de competir.

  1. Transição Social e Humana: novas expectativas, novos modelos de trabalho

As pessoas mudaram — e as empresas precisam acompanhar essa mudança. Novos valores, novas expectativas de carreira, procura de propósito, flexibilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e novos comportamentos de consumo, influenciados pelas novas gerações com diferentes prioridades, estão a pressionar as empresas a repensar cultura, liderança, políticas internas e formas de relacionamento (interno e externo com clientes e todo o ecossistema).

Os gestores têm de compreender esta dinâmica para atrair e reter talento, motivar equipas e construir organizações humanas e adaptáveis.

  1. Transição Ambiental e Sustentável: da obrigação ao imperativo estratégico

A sustentabilidade já não é um “tema verde”; é um requisito para sobreviver no mercado. Regulações europeias, pressão dos consumidores, exigências dos investidores e custos da inação tornam esta transição inevitável.

Empresas que integram práticas sustentáveis ganham eficiência, reputação, acesso a capital e vantagens competitivas. As que adiam sofrerão penalizações recorrentes e crescentes.

  1. Transição dos Media e Comunicação: reputação em risco permanente

A comunicação vive uma revolução. A velocidade das redes sociais, a desinformação, a fragmentação das audiências e a hiperexposição obrigam os líderes a pensar estrategicamente sobre reputação, narrativa, imagem pessoal, presença  e posicionamento públicos.

Uma crise de comunicação pode destruir em horas ou dias o que levou décadas a construir. Gerir bem esta transição significa comunicar com transparência, propósito e consistência — sempre acompanhando o ritmo da sociedade.

  1. Transição da Gestão: do comando e controlo ao pensamento sistémico

Todas as transições anteriores exigem uma nova forma de gerir e de liderar. A gestão tradicional, linear e previsível deixa de responder à volatilidade atual. A nova gestão é adaptativa, sistémica, colaborativa, descentralizada, interdisciplinar e baseada em inteligência contextual.

Os líderes precisam de desenvolver competências como:

  • literacia geopolítica, económica e tecnológica,
  • leitura de contexto e de tendências,
  • gestão de cenários e capacidade de antecipação,
  • agilidade estratégica e capacidade de operacionalização rápida,
  • pensamento ambidestro (presente e futuro),
  • liderança humana e contextual,
  • mentalidade nexialista.

A gestão passa de operação para interpretação do mundo.

Porquê ReThink? Porque a mudança não espera.

O conceito de (re)pensar (ReThink) surge como uma resposta a este novo paradigma. É um conceito que desafia líderes, executivos, administradores e gestores a ler o mundo antes de gerir a empresa, incorporando as oito transições como lentes de análise estratégica. A olhar de fora para dentro, a redefinir e redesenhar pressupostos e diretrizes.

O objetivo é simples e urgente: preparar as empresas para o futuro antes que o futuro chegue sem aviso.

A questão central já não é: “O que vai mudar?”

A questão é: “Como estamos a preparar-nos para o que já está a mudar?”

Os líderes que tomarem esta pergunta a sério posicionarão as suas empresas para crescer num mundo incerto. Os que a ignorarem arriscam-se a ficar presos a estratégias ultrapassadas, num mercado que não perdoa quem não se adapta.

O mundo mudou. Agora, é a gestão que precisa de mudar com ele.

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