O colapso histórico nos preços do petróleo que tem vindo a acontecer nas últimas semanas alcançou marcos inimagináveis, até recentemente, atingindo, por exemplo, preços negativos. E o Canadá, um país que produz variedades muito complexas para usar, estabeleceu o que pode ser o recorde até agora: no caso do Western Canadian Select (WCS), chegou a custar 35 dólares por barril na segunda-feira.
O país vê-se assim na posição de oferecer a quem leve um barril desse petróleo para casa, mais de 30 euros, como que compensando o comprador ‘pelo inconveniente’.
Segundo os analistas, os números fazem sentido tendo em conta que as variedades canadianas são muito pesadas e requerem vários processos de refinamento para serem usadas, o que faz com que sejam sempre vendidas com desconto face ao preço base dos EUA, o WTI. O que mais surpreende é que o valor do WCS esteja ainda assim acima, expondo a grande situação do mercado dos EUA.
Os alarmes já foram acionados na noite de domingo, quando o WCS, extraído das areias betuminosas de Alberta, no oeste canadiano, já alcançava menos 0,65 dólares por barril. O governador da província, Jason Kenney, revelou os dados à meia-noite, via Twitter, alarmado e pedindo ajuda ao governo. “Nos últimos anos, o setor pagou 359 mil milhões em royalties e impostos. Existem 500 mil empregos que dependem dele. Quando o setor automobilístico entrou em colapso em 2008, o governo tomou medidas para salvar esses trabalhadores”, lembrou o governador.
A queda nos preços devido à falta de espaço para armazenar excesso de stock levou a que todos os preços do petróleo na América do Norte estivessem a sofrer quedas históricas. O Bakken Guernsey foi pago a menos 37 dólares, o Bakken UHC a menos 38, o Alasca a menos 49, o Houston a menos 27 e o Louisiana a menos 20.
A lógica por trás deste cenário está no facto dos stocks mundiais estarem no auge, e a acumularem ainda mais petróleo enquanto esperam a recuperação dos preços. A mexicana Pemex, por exemplo, já tem mais gasolina do que tem espaço para acumular, o que a forçou a contratar navios-tanque para acumulá-la, com o consequente custo que implica.
O resultado, diz a Bloomberg, é que os produtores que podem fazê-lo estão a decidir ‘fechar a torneira’. Assim, 13% da capacidade de extração dos EUA foi encerrada na semana passada . Mesmo assim, o ritmo de produção continua a exceder em muito a procura mundial enfraquecida face à crise do coronavírus e dos stocks mundiais.
Cerca de 150 milhões de barris de capacidade de armazenamento permanecem nos EUA, mas o excedente está a crescer a uma taxa de cerca de 6 milhões por semana, segundo a consultoria Lipow Oil Associates.
No Texas, por exemplo, os preços caíram para 2 dólares por barril em algumas empresas, apesar de o petróleo ser mais fácil de manusear do que o petróleo canadiano.
(texto de Sónia Bexiga, revista Risco)













