ISCTE Executive Education: Exportar a formação de executivos
Internacionalizar, internacionalizar, internacionalizar. Para José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, o futuro ao nível da formação de executivos passar por conquistar novos mercados além-fronteiras. «O mercado português é pequeno. Somos muitos players. Não há um hub ou uma organização que nos permita trabalhar em conjunto o mercado nacional. Estamos em “red ocean” puro. O único sentido é, de há muito, ir para fora. E há vários mercados a trabalhar, não obstante alguns dos mercados estarem também eles com problemas. Mas não há outro sentido ou outra aproximação. Por todas as razões e mais uma temos de exportar formação de executivos. Em paralelo com visão estratégica, liderança carismática e habilidades digitais, entre outras competências que têm vindo a ser delimitadas pelo World Economic Forum», afirma o responsável.
Nesse sentido, continua José Crespo de Carvalho, o que se pede em Portugal não é o que se pede no mundo todo. «Cada um dos mercados onde estamos tem requisitos e lógicas diferentes e necessidades e dores diferentes. Todos querem crescer. Mas a verdade é que estamos num mercado pequeno, Portugal, onde deixámos um pouco de lado as competências mais técnicas e o pensamento crítico, a resolução de problemas complexos ou até a criatividade para nos centrarmos sempre muito à volta da liderança. Não é que não seja um tema importante. É crítico até pela ausência notória de lideranças e de preparação para liderar. Mas não pode e não deve ser o único tema. Por exemplo, temos muito a aprender com GenAI, nas várias dimensões e nas várias áreas da gestão, e não só. Estamos a aproveitar tudo o que temos disponível? Ainda não até porque a velocidade de avanço da inteligência artificial generativa é gigantesca e para apanhar o comboio, nesta fase, não será fácil para nenhum player.»
Os programas flagship do Iscte Executive Education continuam a ser os mesmos – Executive MBA, Executive Masters, Pós-graduações e Pós-graduções online com fim-de-semana final imersivo. Agora derivados de muitas componentes na óptica da sustentabilidade, da governance e das tecnologias, em particular inteligência artificial. «Como grande aposta temos um programa de inteligência artificial para gestão, totalmente em inteligência artificial, a primeira pós-graduação em Portugal. Temos alguns programas na área do desenvolvimento humano através de questões comportamentais, também ao nível de pós-graduções, e as áreas de vendas, de comunicação, mas também de mercados financeiros, fintech e ESG foram reforçadas com novos programas.»
AS VÁRIAS GERAÇÕES E AS DIFERENTES LITERACIAS
Sobre se as novas gerações vão forçar uma mudança na estrutura das organizações, José Crespo de Carvalho considera que tudo está a mudar e o tema não pode ser tratado de forma leve. Aliás, a mudança está muito longe do final, se houver final. «O querer horários flexíveis e autonomia é legítimo. Mas do outro lado da balança parece consensual que não se pode ter full remote porque danifica-se a cultura da empresa, inibe-se a inovação, compromete-se e estratégia, qualquer que seja, e está-se a contribuir para uma sanidade mental absolutamente depauperada. Ao caucionarmos a dessocialização estamos a contribuir para seres humanos sem quaisquer competências relacionais, que são críticas. Basta olharmos para o que se pretende em termos de competências e ao inibirmos pensamento crítico e inovação, criatividade (colectiva), resolução de problemas (em grupo), e mesmo liderança – é quase impossível uma liderança humanizada à distância – estaremos a fazer a vontade de novas gerações, mas ao fazer-lhes a vontade a matar o que de mais rico já conquistámos ao longo de anos e anos de empresas. São caminhos estreitos, mas exigem algum amadurecimento e soluções com alguns denominadores comuns quer aos novos tempos quer à necessidade de não destruir empresas», sublinha.
Também ao nível da formação de executivos, o envelhecimento constante da população portuguesa constituirá em muito pouco tempo um enorme desafio. «Não vislumbro universidades e mesmo formação de executivos sem públicos mais jovens. Que ou virão do exterior ou não virão das nossas “pirâmides etárias”. Há um movimento muito importante de recentramento na pessoa, qualquer que seja a sua idade, e a enfase nos processos de lifelong learning. Teremos por aí uma mescla interessante de caminhos a explorar e a escolher », refere o presidente do Iscte Executive Education.
Em relação ao facto de muito se falar na literacia de gestão como elemento fundamental para melhorar a competitividade das nossas empresas (tendo as PME como principal destinatário desta situação) poucas medidas têm sido feitas como incentivo para incrementar a formação. José Crespo de Carvalho dá algumas pistas para encontrar uma solução. «Diria que literacia de gestão e literacia financeira. Lá está, como é possível ter literacia de gestão sem ter literacia financeira? Não é possível. Temos vários programas a promover a literacia financeira. E vamos lançar entre Abril-Maio um novo livro da colecção VOZES precisamente sobre literacia financeira. Para justamente promover essa literacia que, por mais iniciativas que existam, nunca serão demais. Somos os últimos da Europa em literacia financeira o que é um péssimo sintoma.»
Por fim, e quando questionado, sobre como podem as universidades colaborar ainda mais entre si para criar um hub, o responsável admite que esta é uma «questão para um milhão de dólares». Mas de resposta muito complexa. «Há boas vontades por parte de algumas pessoas, mas há sempre quem ache que o seu quintal é melhor que o dos outros e isso torna-nos pequenos e míopes. E, claro, sendo eu um grande defensor da colaboração não posso estar mais de acordo com a criação de um hub forte, de complementaridades, que nos fortaleça sobretudo perante o exterior. Acredito que com os incentivos certos o hub pode ser desenhado e passado à prática. Muito embora se saiba que vão existir sempre os detractores e os que acham que a sua horta tem melhores legumes que as dos outros. Contra isso, o colectivo com alinhamento por baixo, nada a fazer. Isto explica este colectivismo aparente, mas com profundo alinhamento por baixo. Estou convicto de que precisamos de mais força individual, ainda, para chegarmos ao ponto de vermos a necessidade do colectivo. Mas isso demora tempo. E não me parece que o tenhamos. Parece um contrassenso, mas não é», conclui José Crespo de Carvalho.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Março (n.º 216) da Executive Digest.