A conversa com André Rodrigues decorreu no início de outubro, durante o Tech Days, evento anual que a empresa norte-americana organiza em Portugal. Durantes três dias, o Centro de Congressos de Lisboa recebeu clientes, parceiros e programadores da empresa norte-americana em momentos com sessões técnicas e apresentação de novas soluções de Inteligência Artificial na plataforma AWS. No final, ficou uma ideia geral e real: começou a era dos agentes de IA.
Como analisam a maturidade digital das empresas portuguesas que usam serviços de cloud e Inteligência Artificial?
Focando na Inteligência Artificial, observamos uma adoção ainda heterogénea no mercado português, não só do ponto de vista da utilização da tecnologia, mas sobretudo da sua integração nos processos de negócio. Verificamos que o setor das startups, seja por beneficiar de um ecossistema mais favorável, seja pela própria agilidade característica destas empresas, está mais preparado do que outros setores. 54% das startups portuguesas já utilizam Inteligência Artificial face aos 35% das suas congéneres europeias. Esta diferença evidencia uma clara vantagem competitiva no contexto europeu. Do lado das grandes empresas, registamos uma utilização crescente. Estima-se que, a cada hora, 20 empresas em Portugal comecem a usar pela primeira vez Inteligência Artificial, o que significa que, a cada cinco minutos, uma empresa utiliza IA. Mas esta adoção ocorre ainda de forma muito experimental e incipiente, e não propriamente estrutural. Já no setor público, observam-se alguns passos concretos e, principalmente, vontade governativa.
Na questão da cloud e, sendo Portugal um país com um tecido empresarial com base em micro e pequenas empresas, como tem a AWS abordado esse segmento e quais têm sido as principais dificuldades?
Uma das principais vantagens de serviços na cloud é funcionar como democratizadora do acesso à tecnologia para todas as empresas, independentemente da sua dimensão. A adoção da cloud permite, sobretudo às pequenas e médias empresas — que constituem o grosso do tecido empresarial português — competir com as maiores organizações a nível global, uma vez que têm acesso exatamente à mesma tecnologia. O compromisso da AWS nos últimos 17 anos tem sido o de democratizar o acesso à tecnologia, independentemente da dimensão das empresas, dos setores ou da geografia. Atualmente, a empresa reitera este compromisso para a Inteligência Artificial, procurando democratizar o acesso a todas as entidades que queiram efetivamente aproveitar este enorme potencial transformador.
Quer sejam nos serviços na cloud ou de IA, a segurança é uma das principais preocupações das empresas. Como lidam com as dúvidas e possíveis entraves?
Lidamos com uma quantidade de dados que mais nenhuma organização no mundo lida, e se não o fizéssemos de uma forma segura, não estaríamos onde estamos. A cloud resolve muitos problemas que as pequenas e médias empresas podem ter ao nível da segurança. Temos os níveis de certificações mais altos e a tecnologia mais avançada para proteger os serviços que disponibilizamos aos nossos clientes. Dessa forma, as pequenas empresas, as grandes empresas, qualquer empresa, beneficia da escala da AWS, e do investimento que fazemos em segurança.
«54% DAS STARTUPS PORTUGUESAS JÁ UTILIZAM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, FACE AOS 35% DAS SUAS CONGÉNERES EUROPEIAS»
Como está a correr o vosso negócio em Portugal, este ano?Somos uma empresa cotada em bolsa não partilhamos números que não sejam públicos, e os que são indicam que a AWS hoje, 2025, representa 120 mil milhões de euros em serviços do ponto de vista global.
E em termos quota de mercado?
Todos os analistas e todos os reports apontam a AWS como líder do mercado, desde há 17 anos, mas do ponto de vista de quota não tenho nenhum número preciso que possa partilhar.
Nos últimos anos têm investido em infraestruturas em Portugal. Prevêem mais investimento num futuro próximo?
A empresa abriu em 2018 o primeiro escritório em Portugal, com equipas alargadas de solution architects, account managers, partner managers e technical account managers, para poder apoiar mais de perto clientes e parceiros. Este foi o primeiro investimento no país, mas logo no ano seguinte, em 2019, a AWS investiu em infraestrutura com o lançamento do CloudFront Edge Location em Lisboa. Desde então, para além da infraestrutura, a aposta tem incidido também na capacitação de pessoas e no desenvolvimento do talento nacional. A empresa trouxe para Portugal programas internacionais como o AWS Educate, o AWS Academy e, mais recentemente, o AWS Restart, através dos quais procura fazer o reskilling de profissionais, dotando-os de competências digitais atuais para poderem entrar no novo mercado de trabalho e responder a funções que não existiam há cinco anos. Voltando ao tema das infraestruturas, este ano, a AWS inaugurou a segunda em Portugal, designada AWS Direct Connect, que permite a qualquer empresa, entidade ou pessoa ligar-se diretamente à rede da AWS a partir de Portugal de forma simples, segura, rápida e local, sem custos de interligação. Trata-se de uma rede constituída por mais de cinco milhões de quilómetros de fibra ótica a 400 gigabits, que interliga toda a infraestrutura da empresa. Assim, qualquer entidade ou pessoa pode ligar-se diretamente de Portugal a esta rede e ter acesso à multiplicidade de serviços e regiões que constituem a infraestrutura global da AWS.
Quantas pessoas têm na vossa estrutura em Portugal?
Desde que criámos o escritório em 2018 temos continuado a aumentar, ano após ano, o número de pessoas, para suportar o negócio. Da mesma forma que, diariamente, temos mais clientes em Portugal de diferentes setores a usarem e a utilizarem a cloud da AWS.
Entre os vossos clientes em Portugal, há algum setor que se destaque?
Naturalmente a cloud e a Inteligência Artificial são mais fáceis de utilizar pelos setores nativos digitais. Portanto, as startups e as scale-ups são naturalmente os clientes que mais facilmente tiram partido. Mas temos casos de sucesso noutros setores. Neste evento [Tech Days] tivemos a Secil, que é uma empresa de referência com mais de uma centena de anos a falar da Inteligência Artificial para questões relacionadas com a segurança. E indicaram como a utilizaram para aumentar o nível de segurança dentro das suas fábricas e para fazer manutenção preditiva. Vemos assim uma grande tração e uma grande adoção, não só nas startups e nas scale-ups, mas também nas grandes empresas.
E qual a vossa estratégia a breve prazo?
A AWS distingue-se pela sua abordagem centrada no cliente. Cerca de 90% do nosso plano de ação é definido com base no feedback direto dos clientes, refletindo a nossa filosofia de customer
obsessed e customer first. Ouvimos atentamente as suas necessidades para construir soluções que lhes tragam valor real. O nosso objetivo é disponibilizar uma infraestrutura gerida pela AWS,
para que as empresas não tenham de assumir esse peso. Assim, os clientes podem concentrar-se no que realmente importa: o crescimento e a inovação do seu negócio. O presente é a Inteligência Artificial, e é isso que vemos, inclusivamente em Portugal, com um crescimento sustentável que vai continuar a acelerar nos próximos anos. E dentro da IA, estamos a assistir ao surgimento dos agentes de IA (Agenting AI). Para além disso, há algumas tecnologias emergentes em que já estamos a trabalhar, nomeadamente, a robótica e a computação quântica, e que vão surgir cada vez mais nos próximos anos. Mas a breve prazo, o que iremos ver mais são os agentes de IA a realizar tarefas específicas de forma independente ou semi-independente. E aquilo que estamos a construir é uma plataforma que permite a cada cliente, sozinho ou com a ajuda dos nossos parceiros, construir as suas soluções de Inteligência Artificial, construir os seus agentes para resolver os problemas do seu negócio, que são necessariamente diferentes dos seus concorrentes ou de outros segmentos. No futuro muito próximo vamos ter de saber lidar com pessoas e com agentes, que vão estar no nosso meio e vão fazer parte do nosso futuro. É por isso, importante que façamos a implementação destes agentes de uma forma segura, sustentável, sem colocar em perigo o negócio das empresas.
«A CLOUD RESOLVE MUITOS DOS PROBLEMAS QUE AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS PODEM TER AO NÍVEL DA SEGURANÇA»
A maioria das empresas quer estar na vanguarda do mercado, contudo, todos os dias há uma preocupação perene: como é que a utilização da IA vai ajudar a faturar mais?
Acreditamos que a IA não deve ser usada só porque é a tecnologia mais moderna que existe. Antes de começarmos qualquer experimentação fazemos um estudo de eternal investment, com a ajuda dos nossos clientes, com os nossos parceiros e com os nossos clientes, para percebermos, de facto, quais vão ser os ganhos que trazemos aos nossos clientes. Não faz sentido fazermos provas de conceito só porque sim ou só porque é a tecnologia mais recente. Portanto, nós fazemos um business case para provar que, de facto, faz sentido utilizar a Inteligência Artificial para resolver determinado problema de negócio.
E sendo a AWS uma das empresas globais com maior desenvolvimento no uso da IA, prevêem uma possível substituição dos recursos humanos pela IA?
Pensar que a Inteligência Artificial vai substituir os humanos é redutor e simplista. A AWS acredita que vai ser um complemento e permitir chegar onde sozinhos não conseguíamos ir. A IA vai resolver problemas que anteriormente não conseguíamos resolver, tal como a computação quântica no futuro vai resolver problemas que hoje não conseguimos ultrapassar com a tecnologia atual. E é isso que nós acreditamos. Não acreditamos numa substituição por máquinas.
«A BREVE PRAZO, O QUE IREMOS VER MAIS SÃO OS AGENTES DE IA A REALIZAR TAREFAS ESPECÍFICAS DE FORMA INDEPENDENTE OU SEMI-INDEPENDENTE»
Fala-se das questões dos custos ambientais da Inteligência Artificial, nomeadamente na quantidade de energia no uso de data centers. Qual é a vossa política ambiental?O tema da sustentabilidade é extremamente importante para a AWS. Temos um compromisso com a sustentabilidade em muitos campos e em muitos vetores. Quando construímos os nossos data centers, queremos que sejam o mais eficiente possível, desde o desenho do espaço, aos chipsets que usamos e que estão otimizados para serviços de cloud. Há estudos que indicam que correr um workload na cloud é quatro vezes mais eficiente do que correr num centro de dados locais, que foi desenhado para esse efeito. Tiramos partido da escala, porque temos milhões de clientes no mundo inteiro que utilizam interruptamente os nossos serviços e os nossos data centers, o que nos permitem uma utilização próxima de 100% versus os tradicionais. Digo aos nossos clientes que têm preocupações de sustentabilidade e que querem atingir as suas metas, a primeira coisa que devem fazer é migrar para a cloud. Algo que ainda é pouco conhecido, mas a Amazon é, pelo terceiro ano consecutivo, o maior comprador de energia renovável no mundo. Portanto, as políticas ambientais e de sustentabilidade são algo que nos são muito próximas.
Os vossos clientes assim o exigem?
Cada vez mais os nossos clientes perguntam sobre a sustentabilidade. Para tal, temos ferramentas que nos ajudam a medir qual é a pegada de cada um dos nossos clientes dentro dos nossos data centres e partilhamos esses números com eles, para perceberam o que estão a poupar do ponto de vista energético, e qual o ganho do ponto de vista da sustentabilidade ao utilizarem a cloud versus os antigos data centers on-prem (infraestruturas hospedadas nas próprias instalações ).
Em relação à geopolítica, as relações comerciais entre os norte-americanos e a Europa têm estado um pouco crispadas, por razões conhecidas. Sendo uma empresa norte-americana têm sentido alguma adversidade na Europa?
Temos 38 regiões espalhadas pelo mundo inteiro com cinco milhões de cabos de fibra ótica que interligam estas regiões todas, das quais oito são europeias, e até ao final do ano, iremos ter uma nova região, a que chamamos de Região Soberana Europeia (European Sovereignty Cloud), que irá ser 100% operada por pessoas europeias, cidadãos europeus, residentes em território europeu e, portanto, regulados pela lei europeia. E, por isso, acreditamos que com esta multiplicidade de ofertas temos endereçado todos os desafios colocados pelas empresas nacionais e europeias, temos os mais altos níveis de certificação e compliance, independentemente de estarmos a falar de workloads europeus, asiáticos ou americanos.
















